A localidade de Arruda dos Vinhos possui diversos moinhos tradicionais, inseridos numa rota específica do Oeste, que é ponto de interesse para alguns turistas e locais.
Joaquim Brito Paes foi aquele que, ao longo de toda a noite, teve o equilíbrio necessário para levar a água ao seu moinho. Frente ao exemplar de Branco Núncio, que foi ‘pitado na sua saída dos currais, dada a efetiva falta de apresentação que exibia, podendo-se mesmo considerar escorridote de carnes, o cavaleiro iniciou funções deixando dois compridos de muita qualidade. Esteve lidador o ginete, bregando e aproveitando a mobilidade do animal para mostrar dotes toureiros. O astado, no momento do ferro, vinha por alto, tendo o jovem aguentado a investida e cravado duas curtas de nota considerável. Frente ao último da noite, com ferro de Canas Vigouroux, um toiro que nem sempre se empregou, Brito Paes teve aquela que foi a melhor lide da noite, ainda que com um momento ou outro de menor qualidade. Mostrou ter uma quadra bastante diversificada, esteve elegante e sem pressa nas execuções. Cravou duas bandarilhas de bastante qualidade (primeira e terceira da série), após batida ao pitón contrário, que resultaram cingidas, convencendo de forma unânime o público que preencheu quase a totalidade da lotação da Praça de Toiros José Marques Simões.
Gilberto Filipe, que cumpre esta temporada o seu vigésimo ano de alternativa, teve uma noite aquém das expetativas que vinham a ser criadas. Frente ao exemplar de Alves Inácio, um cinqueño, que cedo ganhou querença, procurando tábuas com frequência, o cavaleiro porfiou para deixar a ferragem da ordem, havendo falta de cingimento no momento de reunir com o oponente, o que desvaneceu a qualidade da cravagem. Fechou essa atuação cravando um ferro de violino. Frente ao que iniciou a segunda parte do espetáculo, com ferro da ganadaria Murteira Grave e que veio a vencer, de forma justa, o prémio bravura, o ginete não teve a capacidade de o entender. O toiro tinha bastante mobilidade e tinha bastantes teclas por onde tocar, mas Gilberto preferiu solicitar, verbalmente, calma ao público quando as passagens em falso aconteciam, o que levou a que alguns se insurgissem contra a sua atitude. Alguns dos ferros foram deixados a cilhas passadas, havendo apenas a destacar a penúltima bandarilha, onde teve mérito na sorte. Não lhe foi concedida música, nem volta de agradecimentos.
João Moura Jr. teve igualmente, nesta noite, uma prestação abaixo do que se podia esperar. É um cavaleiro com bastantes argumentos, mas hoje não os conseguiu fazer sobressair. O primeiro toiro do lote, pertença da ganadaria de José Luís Cochicho, estava rematado e era harmonioso, vencendo o prémio apresentação. Teve muita qualidade até ao momento da cravagem da terceira curta, rachando-se nesse momento. O cavaleiro de Monforte tentou apostar em sortes com cite praça a praça em que, com velocidade excessiva, tentou bater de forma expressiva na cara da rês, o que nem sempre resultou. Ocorreram passagens em falso e, aquando da cravagem da terceira e quarta da série, não calculou da melhor forma as distâncias, consentindo fortes toques na sua montada. Esta noite, ao contrário do velho ditado popular, houve quinto mau! O exemplar de Prudêncio era para além de manso, o típico ‘ordinário’. Um animal que não reagia ao ferro, não tinha qualquer mobilidade, ignorando qualquer um que dele se aproximasse. O cavaleiro, a quem não foi concedida música, limitou-se a cravar a ferragem, sem que houvesse qualquer possibilidade de brilhar.
No que respeita aos homens que envergam as jaquetas de ramagens, a noite foi dura. Não se podendo imputar todas as culpas aos toiros que lhes couberam tentar pegar, a verdade é que, nalguns casos, derrotaram de forma implacável, deixando elementos de ambos os grupos mal tratados.
Pelos de Vila Franca de Xira, que há 22 anos perderam Ricardo Silva ‘Pitó’ neste mesmo redondel (foi guardado um minuto de silêncio em sua memória), começou por avançar Miguel Faria que efetuou uma pega limpa ao primeiro intento. De seguida, foi eleito Rodrigo Camilo. Na primeira tentativa, o facto de tentar fechar-se à córnea, não foi uma opção feliz. De seguida, corrigiu, fechando-se à barbela de forma eficaz, mas o toiro complicou, derrotando e impedindo a consumação. Nas restantes, o animal colocou a cara por alto, permitindo apenas a efetivação na quinta tentativa. Frente ao ‘assassino’ da casa Prudêncio, que chegou ao momento da pega ‘inteiro’, Lucas Gonçalves teve estoico. Chegou a prever-se o pior, dada a violência imposta pelo animal, que despejou de forma feia por quatro ocasiões todos os elementos que tentaram pegá-lo. Efetivaram ao quinto intento, numa demonstração de muito valor deste jovem rapaz, que tem mostrado ter um coração enorme, afirmando-se como um dos melhores da sua geração, na arte de pegar toiros.
Os amadores de Arruda dos Vinhos elegeram para iniciar a sua noite o forcado Nuno Aniceto. Teve a capacidade de suportar bem a investida da rês, reunindo com muita qualidade tendo, os restantes elementos que o auxiliaram, estado coesos. Seguiu-se João Costa, que não esteve bem ao reunir e acabou por sair mal tratado desta tentativa. Foi dobrado por Rodrigo Gonçalves que esteve valente, aguentando diversos derrotes, que o tentaram colocar fora, cumprindo a função à segunda, efetiva, tentativa. Para encerrar a noite, avançou na linha da frente, Edgar Simões. Na tentativa inicial empranchou de pernas, aquando da reunião, sendo na segunda o astado a derrotar de forma lateral e a impedir o grupo de lograr a consumação. A pega foi realizada à terceira tentativa pelo forcado Tiago Pombo que substituira o anteriormente referenciado, com destaque para a importante ajuda do cabo, Rodolfo Costa.
Com excepção da concessão de volta ao forcado Rodrigo Camilo, que pegara à quinta tentativa, e com culpas repartidas com o cabo dos amadores de Vila Franca, que deveria, com hombridade, ter evitado esta situação, a direção de corrida esteve exemplar. Atribuiu música nos momentos corretos, pelo mérito dos artistas e nunca através do seguimento das ‘regras do primeiro ou segundo curto” que têm sido recorrentes, não a atribuindo aquando da quarta e quinta lide da noite; teve o bom senso de não atribuir voltas de agradecimentos a Gilberto Filipe, nem a João Moura Jr, bem como ao forcado Lucas Gonçalves, dado não ter havido motivos para que sucedessem e ainda mostrou autoridade, ao não permitir o terceiro ferro ao diretor de lide (posterior ao primeiro toque de aviso), embora tenha havido bastante insistência para que o mesmo fosse permitido. Tiago Tavares mostrou ter critério e competência e, desta forma, prestou um bom serviço à tauromaquia, sendo assessorado pelo Dr. Jorge Moreira da Silva, numa noite onde a calma levou a que o mais jovem acartelado sobressaísse, deixando vontade de ser visto noutro tipo de corridas. Tal como os moinhos foram o “ganha-pão” de centenas de famílias, também as lides destacadas deveriam garantir a evolução e consequente presença dos cavaleiros noutro tipo de palco.
Foto: Rodrigo Viana