Vila Nova da Barquinha – 170 anos não são 170 dias

0

170 anos de divulgação, promoção e defesa da tauromaquia, daquela que é considerada a Praça de Touros mais antiga do país, no que diz respeito à sua estrutura original. É obra! Nesta noite de Junho, realizou-se uma corrida comemorativa desta efeméride, registando-se uma lotação a rondar os dois terços fortes de entrada.

Coube a João Moura Caetano dar lide ao primeiro toiro da ganadaria de São Torcato, flavo de capa e que, pese embora, inicialmente tenha denotado mobilidade, na fase de compridos descaiu para tábuas com alguma facilidade. Após os compridos e face à notória falta de força, o toureiro teve de lidar de forma muito templada para que lhe fosse possível cravar três bandarilhas curtas. Certamente não foi a lide sonhada, dada a pouca potabilidade do seu oponente, mas destaca-se, ainda assim, a brega de muitos quilates do cavaleiro de Monforte.

O segundo toiro a sair ao ruedo tocou em sorte a Marcos Bastinhas. A rês transmitia muito pouco, o que levou a que tivesse de ser o ginete a colocar a “carne toda no assador”. Deixou um segundo comprido de boa nota, seguindo para a fase de curtos com a mesma montada, onde se recriou na brega, vindo ao de cima a sua capacidade de criar som nas bancadas, através da energia e da efusividade que coloca nas sortes que executa. Fechou a sua passagem nesta vila, à beira Tejo plantada, com um palmito em sorte de violino e um par de bandarilhas.

A primeira parte do festejo terminou com a atuação de Duarte Pinto. Brinde sentido, com discurso bem articulado e coerente, neste caso, dirigido ao cavaleiro Rui Salvador, afastado por opção pessoal, esta temporada, das arenas. O astado que teve por diante, não era franco de investida e embora tivesse bastante mobilidade e apertasse com o cavaleiro após a ferragem, o que traz emoção ao espetáculo, acaba por dificultar e muito na sua função. A inspiração, todavia, não teve igualmente do seu lado, esta noite, registando-se uma atuação sem grandes possibilidades de destaque.

Andrés Romero enfrentou o quarto toiro a sair ao ruedo. O rejoneador desenvolveu uma lide em crescendo, onde impôs o seu conceito artístico, também ele de maior efusividade. A série de curtos atingiu níveis superiores a partir da terceira bandarilha curta, numa cravagem ao estribo de muito boa execução. Fechou a sua aparição neste tauródromo, com o público completamente entregue, com dois bons curtos, após bater acentuadamente ao pitón contrário.

O quinto toiro da noite teve lide destinada a Parreirita Cigano, que substituiu o anunciado António Telles Filho. O astado que lhe foi sorteado colaborou e permitiu uma lide de menos a mais ao jovem do Cartaxo. A vontade e o querer que demonstra sobrepõem-se a alguma falta de acerto em determinados momentos, o que lhe deve ser elogiado. O terceiro e quarto curtos são de nota apreciável, deixando-o, como resultado final, por cima do oponente que lhe tocou em sorte. Terminou com um palmito de excelente execução.

O melhor estava guardado para o fim. Na primeira aparição do mais jovem cavaleiro de alternativa nesta castiça praça de toiros, teve por diante aquele que foi o mais rematado e colaborador astado do espetáculo, e que motivou a chamada do proprietário da ganadaria a dar volta no final da lide. Luís Rouxinol Jr. não deixou créditos por mãos alheias, rubricando uma lide de qualidade, baseada em sortes com ligeira batida ao pitón contrário, que resultaram, maioritariamente cingidas, mostrando estar com a mão certeira.

O festejo tinha o aliciante de ter no seu cartaz um concurso de pegas, participando no mesmo os Grupos de Forcados Amadores de Tomar, da Chamusca e os Académicos de Coimbra. Pela formação nabantina avançaram na linha da frente os forcados David Gonçalves e Carlos Duarte, efetivando, respetivamente, ao primeiro e segundo intentos. Pelo grupo que se deslocou desde a vila da Chamusca protagonizaram tentativas de pegas caras os forcados Hélder Delgado à terceira tentativa e Gustavo Rodrigues à primeira tentativa, naquela que foi a pega com mais brilhantismo da noite e que venceu o troféu em disputa. A “turma” que viajou desde a “cidade dos estudantes” elegeu para pegar as reses que lhes tocaram em sorte Francisco Gonçalves e João Tavares, tendo efetivado à terceira e tentativas.

A corrida foi dirigida pelo Delegado Técnico Tauromáquico José Soares, assessorado pelo Dr. José Luís Cruz e pelo cornetim, Nuno Massano.

Nota: Por decisão editorial e por existirem fotógrafos com permissão para permanecer entre barreiras (senhas) cedidas por cavaleiros e em trabalho para esses, o TouroeOuro não publicará fotografias dos mesmos.

Share.