Tomar – ‘Na Festa dos Tabuleiros’ elevou-se mais alto o ‘Rouxinol’

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Que noite importante! A Festa dos Tabuleiros ou Festa do Espírito Santo é acima de tudo uma festa do povo que se realiza de quatro em quatro anos e que alberga na cidade templária algumas centenas de milhares de visitantes para assistir aos mais diversos cortejos e, claro está, a este espetáculo que também marca uma das mais nobres artes e tradições do nosso país. Todo este cardápio aliado ao facto de estar na Praça de Toiros da cidade que me viu nascer e onde comecei a ver as minhas primeiras corridas há cerca de um quarto de século fez-me sentir, esta noite, uma nostalgia e responsabilidade como há muito não sentia. Praça Cheia!

Inaugurou funções o mais antigo cavaleiro de alternativa, João Moura Jr, enfrentando-se perante um astado da divisa titular desta noite, Fernandes de Castro, flavo escuro de capa e que permitiu ao ginete impor o seu estilo toureiro. Ladeou de forma cadenciada, levando a rês embebida na garupa da sua montada, para cravar depois de forma cingida, em sortes com ligeira batida ao pitón contrário. Destaque para o quarto curto, com cite a curtas distâncias e que resultou de muito boa nota. O segundo que lhe tocou em sorte, foi mais sonso e muito menos colaborador que o anterior, denotando evidentes sinais de mansidão, dificultando a vida ao cavaleiro de Monforte que cumpriu com a papeleta, uns furos abaixo em termos qualitativos. Fechou a sua passagem por este centenário tauródromo com um palmito.

Coube a Marcos Bastinhas dar lide ao segundo da ordem, flavo de capa, e que se adiantava uma barbaridade no momento da ferragem e que, sempre que pôde, se fechou em tábuas. Lide de muito ofício e saber, superando as dificuldades com que se deparou, deixando o conclave em êxtase total. Adornou-se de forma efusiva no remate das sortes, terminando com dois ferros de palmo muito valor, o primeiro dos quais em sorte al violín. O quinto da ordem era volumoso e sério causando um ‘bruah’ na sua saída ao ruedo. O início da série de curtos foi efetivamente má. Duas bandarilhas, cujas reuniões nao foram acertadas, o que levou a que ficassem cravadas de forma muito traseira e descaídas. Fechou uma “atuação cinzenta” com dois pares de bandarilhas de muito boa execução e que levantaram o público dos seus lugares.

Completava a terna o cavaleiro Luís Rouxinol Jr que brindara ao cavaleiro tomarense Rui Salvador, havendo lugar a uma calorosa ovação! Lide em crescendo, após alguma intermitência inicial na fase de curtos, que culminou com duas bandarilhas curtas condizentes com as reais capacidades do ginete. Para fechar esta noite, saiu à arena mais uma rês, com bastante peso e trapio, e cuja lide teve princípio, meio e fim. Após deixar dois compridos à tira de boa nota, partiu para uma atuação madura, com classe e onde não descurou os pormenores. A série de curtos teve muita qualidade desde a preparação das sortes até ao momento da cravagem que resultou maioritariamente cingida. O ferro da noite surgiu aquando da quarta bandarilha curta da série, tendo concluído a sua atuação com um ferro de palmo de muito poder e um par de bandarilhas, que embora não tenha resultado na tentativa inicial não mancha em nada a sua passagem pela cidade de Tomar.

Quanto à malta das jaquetas de ramagens, perfilaram-se hoje no tauródromo nabantino, os grupos de forcados amadores de Tomar e de Alcochete. Quanto ao grupo local pegaram os forcados Renato Pereira à segunda tentativa, Carlos Duarte e António Vasco ao primeiro intento, sendo que na última pega do grupo o forcado efetuou uma pirueta na cara do toiro quando o mesmo se arrancou, reunindo ainda assim na perfeição, motivando duas voltas à arena. Pela formação que se deslocou desde a margem sul do Tejo, mais propriamente de Alcochete, perfilaram-se na linha da frente os forcados Vítor Marques, António José Cardoso e Henrique Duarte, consumando respetivamente ao segundo, terceiro e primeiro intentos.

Ponto extremamente negativo para o jogo de cabrestos e para os campinos presentes nesta corrida. Para além de muito pequenos, os animais eram pouco manejáveis, tendo sido um suplício para os colocar dentro dos curros, ja depois dos toiros entrarem nos currais. Sentiu-se vergonha alheia por entre o muito público presente. Todos os pormenores devem ser pensados e perdeu-se mais de trinta(!) minutos do festejo com as recolhas dos dois primeiros astados da noite. Excelente decisão do delegado técnico tauromáquico José Soares, que esta noite fora assessdorado pelo Dr. José Luís Cruz e pelo cornetim Filipe Malva, ao impedir a saída do jogo de cabrestos após esta hinóspita situação.

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