Arruda dos Vinhos – Perante tamanho naufrágio, Miguel Moura foi o único a quem ‘foi atribuída’ bóia!

0

A segunda corrida da feira taurina desta localidade fica, esta temporada, marcada pela comemoração do 15° aniversário da fundação do grupo de forcados amadores de Arruda dos Vinhos, numa noite, em que fardando antigos e atuais, se encerraram com um curro imponente da ganadaria de São Marcos, estando o tauródromo com uma lotação a rondar os 80% da sua capacidade.

João Moura Caetano teve a incumbência de abrir funções, tendo pela frente um toiro de apresentação irrepreensível, castanho de capa e que na fase de compridos mostrou ter todas as condições de lide para que o ginete de Monforte pudesse colocar em prática a sua concepção artística. É de lamentar a quantidade absurda de lances de capote a que se sujeitou o astado, aquando da troca de montada. Foram dez! É claro que o oponente veio a muito menos o que motivou inclusive um desabafo do artista: “Então agora já não queres?”… pois, evidentemente, que assim não quer. Série de curtos pautada pela regularidade, onde pouco há a destacar para além do domínio total sobre o astado, a sua classe e brega de muitos quilates que normalmente coloca em prática. Se na primeira atuação foram dez, desta feita foram treze os lances de capote, aquando da mudança de montada. Valorizo imenso o trabalho dos peões de brega mas isto não pode acontecer. É um abuso. Não valoriza em nada o trabalho do ginete, pelo contrário, prejudica. Este é um dos artistas, que este temporada tem tido atuações de um nível altíssimo e que muito aprecio analisar. Posso-lhe destacar toda a sua competência, a sua arte, tem qualidades ímpares a nivel de toureio, lidando em câmara lenta! Porém, hoje, soube-me a muito pouco. Destaco pela positiva o segundo curto da série, numa noite em que terá de analisar e repensar tudo o que se passou. É feio e não é do seu nível ter de estar, constantemente, a mandar os peões de brega sair. A próxima será, certamente, melhor.

Seguia-se no plano equestre, o rejoneador mexicano, Emiliano Gamero, que na temporada transata teve sonoro triunfo, nesta mesma data e praça de toiros. Tive a oportunidade de assistir e relatar esse momento positivo do artista. Certo é, que nesta primeira atuação, e perante um toiro, que sem ser bravo, permitia um labor positivo, tivesse optado por fantasiar, levando o público ao aplauso fácil com uma lide medíocre, onde até a inteligência cedeu de forma escandalosa, ao atribuir música num ferro, que nem cravado ficou. Como é possível? Não sei, mas bem… é disto que o povo gosta! Toca-se com ‘violinos’, faz-se umas levadas, galopa-se na direção do público e perante sonora ovação, tentam-se proclamar triunfos. Frente ao quinto da ordem, o ginete desenhou uma lide, com muito menos som que a anterior, onde se destaca o terceiro curto, após ter deixado duas bandarilhas em que as reuniões foram, evidentemente, passadas. Terminou com dois ferros al violín.

A Miguel Moura, que nesta noite fechava cartel, coube-lhe começar por dar lide a uma rês, de apresentação q.b, feiote de cara mas que teve mobilidade e permitu uma lide destacada em relação aos demais. Bregou com qualidade, ladeando e rematando as sortes mesmo quando o seu oponente denotava reações mais intempestivas. Quanto ao momento da cravagem, destaque muito pela positiva para o segundo e quarto curtos, deixados após reuniões cingidíssimas, de alto a baixo, como está escrito nos livros. Terminou com um ferro de palmo naquela que foi a melhor lide do festejo e que, adivinhe-se, teve muito menor som que a que lhe antecedeu. Frente ao último da noite, um astado com pouca transmissão e reduzida mobilidade, o ginete de Monforte teve de porfiar para lhe conseguir deixar a ferragem da ordem, o que conseguiu. Não sendo a lide sonhada foi a possível perante tal matéria prima. Fechou a sua passagem pela Praça de Toiros José Marques Simões com um palmito de boa execução.

Noite muito triste para Rodolfo Costa, cabo da formação arrudense, que deu o mote àquela que seria uma noite de comemoração, mas que não o foi. Começou por citar com alguma insegurança e o facto da rês ser muito tarda de investida, nesta fase da sua estadia em praça, também não o ajudou a que se obtivesse o resultado pretendido. Pegou ao terceiro intento, a sesgo e com ajudas carregadíssimas, não sendo o forcado da cara isento de culpas nas tentativas em que não efetivou. O segundo forcado eleito para tentar a pega de caras foi Edgar Simões. Que classe no cite! Uma lição para todo o grupo! Se na primeira tentativa, teve um momento da reunião infeliz, na segunda tentativa merecia muito mais do conjunto de homens que o acompanharam. Reuniu de forma perfeita, aguentou uma viagem longa, mas não teve ajudas que possibilitassem a consumação da pega. Efetivou, após aviso, ao quarto intento, mais uma vez a sesgo e com ajudas carregadas. A terceira pega da noite esteve destinada a Rodrigo Gonçalves, forcado jovem e que foi muito acarinhado pelos seus conterrâneos. Consumou à segunda tentativa, após uma primeira em que, mais uma vez, o grupo não ajudou de forma coesa. Pedro Sabino, um dos mais conhecidos forcados deste grupo, despediu-se nesta corrida, o que por si só traz consigo uma carga emocional maior. Citou com convicção, porém o momento da reunião não foi como sonhara, efetivando à segunda tentativa, sem o brilhantismo que merecia. Deu volta, com o público de pé, após despir a jaqueta pela última vez. Para a quinta pega da noite, foi eleito o forcado João Costa, que se fechou à quarta tentativa, em mais uma tentativa a sesgo e à meia volta, com ajuda carregadas. Para encerrar a noite no que a pegas de caras diz respeito, foi eleito o forcado Nuno Aniceto. Efetuou a única pega da noite à boa primeira tentativa.

A corrida foi dirigida pelo delegado técnico tauromáquico João Cantinho, assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva e pelo cornetim Nuno Massano. Com a experiência que já tem, acho no minimo ridículo, a forma como dirigiu o festejo. Não se pode banalizar a atribuição de voltas e de música, quando os artistas não o merecem. É triste verificar que após uma tentativa de pega de caras, efetivada sem brilho algum, ao quarto intento, tenha de ser o forcado, de forma meritória, a recusar-se a cumprir com o que lhe foi concedido, ou que conceda música após uma bandarilha que ficara no chão, sendo igualmente discutível (embora aqui seja uma questão de opinião pessoal) que se atribua volta ao representante da ganadaria ao terceiro toiro quando até ao momento foi o único que mostrou uma apresentação pouco digna. Além desta falta de critério gritante (e não posso criticar muito mais porque, caso contrário, aparecerão os reais ‘amantes da festa’ a dizer que sou antitaurino e que devia zelar mais pela festa) não é aceitável que a corrida seja adiada por dez minutos, com a justificação que esteja muita gente para entrar e que as pessoas que chegaram de forma pontual possam esperar. Isto não se pode dizer de forma explícita, sendo um desrespeito para com todos os presentes. Amanhã, para muitos, é dia de trabalho e se juntarmos a isso as homenagens pré-corrida… poderiam ter o cuidado de marcar o festejo por exemplo para as 21h45, dado que apenas iria ter o seu princípio ao horário inicialmente aprazado, não sendo com a ausência de intervalo que se deve compensar este tipo de situações. Em época balnear e numa noite de naufrágio generalizado apenas a Miguel Moura foi atribuída a bóia salva-vidas que conquistou com muito mérito.

Share.