Caldas da Rainha – Honra seja feita ao grupo da terra e aos aficionados

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Realizou-se nesta centenária praça de toiros, de Caldas da Rainha, a centésima quadragésima corrida de toiros nesta mesma data, o que faz com que seja das mais antigas a realizar-se ininterruptamente no nosso país e que nesta tarde serviu de palco para a comemoração oficial do trigésimo aniversário do Grupo de Forcados Amadores de Caldas da Rainha, que pegam, como já vem sendo hábito, em solitário e também do quadragésimo aniversário de alternativa de António Palha Ribeiro Telles, sendo homenageados no intervalo do espetáculo.

Coube a Francisco Palha (não sendo diretor de lide) inaugurar a tarde, no que a lides equestres diz respeito, situação motivada pela sua presença na corrida noturna que se realiza em Messejana. À saida ao ruedo, o primeiro (muito bem apresentado) toiro da corrida inutilizou-se, sendo lidado o que seria o segundo do seu lote, rematado de carnes, negro bragado corrido estrelado de capa. Mostrou-se reservado durante a fase de compridos, vindo todavia a mais ao longo da sua estadia no ruedo. O ginete saiu para a série de curtos, bregando a duas pistas com classe e torería. O momento da ferragem foi condizente com o bom momento que atravessa, deixando com garbo e mão certeira quatro curtos, ao estribo, sendo o primeiro e terceiro de grande valor. No sentido de se dar início à segunda metade do espetáculo, saiu à arena o toiro sobrero. Foi um animal nobre que permitiu ao artista desenvolver uma atuação sólida, onde houve o cuidado de temporizador cada momento da lide, do cite vistoso, à brega de qualidade para culminar cravando com acerto (à excepção da terceira bandarilha curta, cuja reunião foi completamente desajustada e que, curiosamente, foi aquela que motivou a atribuição de música ao cavaleiro). Destaque pela positiva para o quarto curto da sua atuação, com o toiro a investir por alto e o cavaleiro a deixar ferro com bastante arte e emoção. Encerrou a sua tarde com a cravagem de um ferro em sorte de violino de muito mérito, em terrenos apertados e um palmito.

António Palha Ribeiro Telles teve a missão de dar lide ao segundo toiro da ganadaria titular desta tarde, Vinhas, que se adiantava ligeiramente no momento do ferro, mas que tinha teclas por onde tocar. Após ter deixado a ferragem comprida e provado a investida da rês, partiu para a série de curtos, colocando-se em sorte frontal, porém aquando da cravagem das duas primeiras bandarilhas curtas, mediu mal as distâncias sofrendo fortes toques na montada, afortunadamente sem consequências visíveis a registar. Na restante faena, e sendo dos mais conceituados cavaleiros da atualidade, entendeu e bem a necessidade de alterar as abordagens, deixando dois ferros no corredor, de boa execução. Frente ao quinto da ordem de lide e após lhe ter deixado dois compridos à tira, desenhou uma faena meritória, onde seu primazia à sua fiel concepção artística, baseada nos cânones clássicos da arte marialva. A terceira bandarilha foi deixada ao estribo e após uma reunião cingida nos tércios, após brindar de forma emotiva “e de coração, ao grande grupo de amigos e bons forcados”.

Foi à porta dos curros que Marcos Bastinhas foi receber o primeiro do seu lote, um toiro negro bragado corrido calçado, que foi o que até ao momento denotara mais mobilidade. Talvez pelo facto de se adiantar no momento da reunião, o cavaleiro de Elvas optou por provocar a batida ao pitón contrário, nas duas primeiras bandarilhas curtas cedo demais, não resultando cingidas como desejável. Possivelmente entendendo que a função não corria de feição, colocou em prática o conceito mais efusivo e espetacular do seu toureio, que levanta o público com enorme facilidade, deixando um ferro de violino e de palmo de boa nota que deixaram em delirio grande parte do conclave presente. A ultima rês a sair à arena caldense, cárdena de capa, saiu com muita pata embatendo violentamente nas trincheiras, causando desde logo burburinho por entre os presentes. Ainda assim, não condicionou a sua prestação, colaborando para o êxito do artista. A segunda e terceira bandarilhas curtas foram de muita qualidade, após cravar como mandam as regras, de alto a baixo, em reuniões ajustadas. Os remates das sortes em pirueta, as levadas no cite, aliadas à variedade de ferragem com um palmito e um par de bandarilhas louvável deixaram em absoluto êxtase ‘aqueles que pagam bilhete’. Lide meritória do cavaleiro Elvense!

Em tarde de festa e com a teia repleta de antigos e atuais elementos desta formação do Oeste, que embora tenha poucas oportunidades, é das que honra, e bem, a figura do forcado amador, resolveu o atual cabo atribuir ao anterior cabo a possibilidade de realização da primeira tentativa de pega de caras da tarde.
Francisco Mascarenhas citou compenetrado na função, perante silêncio generalizado, carregou com afinco, mas infelizmente e embora tenha suportado uma viagem violenta, o grupo não ajudou de forma conveniente, acabando por sair combalido nesta ocasião. Mas como este forcado é um homem de raça e não se acobarda, consumou ao segundo intento, com o primeiro ajuda mais carregado. Ainda assim foi ovacionado, com muita força, pelo público da sua terra, aquando da sua chamada aos médios. O forcado eleito para a segunda pega da tarde fora António Appleton, citando até aos médios, sendo que mal o viu, o astado arrancou-se com uma velocidade vertiginosa, valendo uma reunião tecnicamente evoluída para ‘se fechar que nem uma lapa’ ao primeiro intento consentindo o bom labor da formação escolhida para a função.
Para encerrar a primeira parte do festejo, avançou na linha da frente, o forcado Joaquim Lino, que nas duas primeiras tentativas foi infeliz no momento de reunir, efetivando ao terceiro intento, com ajudas mais carregadas. Francisco Ribeiro de Andrade teve a incumbência de abrir as hostilidades, após o intervalo, mostrando que quem sabe não esquece, ao fechar-se de forma exemplar na sua tentativa inicial, com o grupo a ter um comportamento digno na consumação. A penúltima pega da tarde teve como forcado da cara, Duarte Palha, um forcado de créditos firmados e que não defraudou as expetativas, consumando ao primeiro intento, pese embora, a reunião nao tenha sido a mais ortodoxa, mas sim a possível. Fechou a encerrona da formação local, o cabo, Duarte Manoel. E a isto chama-se arte! Citou de largo, avançou em passo lento, mostrou-se ao oponente com o mesmo a arrancar-se com a prontidão verificada toda a tarde entre os seus irmãos de camada, para se fechar ao primeiro intento, em estilo ‘mandão’ e nunca mais de lá sair, acontecesse o que acontecesse.

O curro que viajou desde a Herdade do Zambujal, com ferro de Vinhas, denotou uma apresentação irrepreensível, com pelagens variadas, tipica do encaste Santa Coloma, e comportamento algo uniforme, destacando-se pela positiva o sobrero lidado em quarto lugar e o sexto da ordem, que motivou a chamada do representante da ganadaria a dar volta ao ruedo. Foram animais com muito sentido e que se adiantavam ligeiramente no momento da ferragem, mas que tiveram mobilidade e possibilitaram lides e pegas emotivas, permitindo que o muito público que se deslocou a este recinto saísse satisfeito.

A corrida foi dirigida pela delegada técnica tauromáquica Ana Pimenta, assessorada pelo médico veterinário Dr. José Luís Cruz e pelo cornetim José Henriques, numa tarde em que a empresa Península Estreita, promotora deste evento teve a melhor resposta dos aficionados da região Oeste e não só: a LOTAÇÃO ESGOTADA!

Foto: Rodrigo Viana

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