Tomar – Filipe Gonçalves destaca-se em noite com “muita parra e pouca uva”

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Segundo fim-de-semana do mês de Agosto é sinónimo da tradicional corrida de toiros em homenagem ao emigrante, este ano integrada nas comemorações do 115°aniversário da Praça de Toiros José Salvador. Durante o intervalo realizou-se uma homenagem póstuma ao histórico forcado tomarense, António Graça, descerrando-se uma placa evocativa no corredor principal do tauródromo.

Coube a Filipe Gonçalves, enquanto diretor de lide, abrir as funções equestres do festejo, lidando o primeiro toiro da ganadaria titular de São Martinho, que estreou em Tomar nesta corrida, um curro completo de procedência Pinto Barreiros, e que desde cedo denotou adiantar-se à montada no momento da ferragem e uma evidente falta de força e de codícia. O ginete teve a necessidade de lhe dar os tempos necessários para que não se esgotasse mais cedo, deixando a maior parte dos curtos em sortes com ligeira batida ao pitón contrário, terminando a sua primeira passagem nesta arena com um ferro em sorte de violino, seguido de um palmito, que como é sabido são sortes muito do agrado deste tipo de público. O lote sorteado pelo cavaleiro foi homogéneo em comportamento e até no que à falta de força diz respeito. Ainda assim o nível da sua atuação foi bastante superior. O primeiro curto deixado, com batida mais acentuada, foi de boa nota, tendo mantido o nível em toda a série de curtos que protagonizou. Terminou com um par de bandarilhas de muito boa execução, numa das atuações mais consistentes que lhe vi nos últimos tempos.

Emiliano Gamero debutou neste tauródromo ao dar lide ao segundo da ordem, um astado mais alto e que embora tivesse as suas dificuldades, permitiu ao rejoneador mexicano cumprir de forma eficaz com a papeleta. O seu carisma e efusividade, aliados aos desplantes que executa são as suas maiores armas, chegando com bastante facilidade ao conclave, levantando-o dos seus assentos com uma descarada facilidade. Deixou a ferragem da ordem a um nível regular, fechando a sua primeira atuação com dois ferros curtos al violín. O quinto da ordem, castanho de capa, com inegável trapio, e que pese embora não fosse bravo, tinha condições de lide. O cavaleiro não o entendeu da melhor maneira, pecando no momento da ferragem, passando por diversas vezes em falso, batendo ao pitón contrário cedo demais, havendo lugar a reuniões muito pouco cingidas. Atuação infeliz encerrada com duas bandarilhas curtas, a primeira das quais em sorte de violino e que serviram para tentar tapar uma atuação menos conseguida.

Fechava cartel a cavaleira Ana Rita. Antes do equador do festejo deu lide ao primeiro do seu lote, baixo de tipo, e que saiu a prometer, tendo sido recebido em redondo e de boa maneira. Foi uma atuação com bastantes passagens em falso e que, embora lhe tivesse sido concedida música por parte da inteligência, o que apenas se entende se tivermos em conta o pouco ambiente da corrida, dada a lotação estar preenchida em cerca de um terço, não foi bem conseguida. Há que entender que não basta galopar na direção do público e fazê-lo levantar para que se triunfe. O último da corrida, que demorara a sair dos currais, foi um toiro que nunca se empregou, procurando as zonas de tábuas por diversas ocasiões. A ginete, natural de Vila Franca de Xira, embora tenha tido uma lide sóbria, sem alardes de triunfo, elevou o nível qualitativo em relação à sua anterior prestação, procurando fazer bem feito. Terminou o seu labor com a cravagem de três palmitos, o último dos quais à meia volta com a rês imobilizada.

As pegas da noite estiveram a cargo de três grupos de forcados amadores: Ribatejo, Montijo e Tomar. No que diz respeito à formação mais antiga, Ribatejo, a pega concretizada ao primeiro da noite esteve destinada ao cabo, que se despedirá esta temporada, Pedro Espinheira, que efetivou à segunda tentativa, numa sorte de recurso e a sesgo, depois da rês se acomodar e não sair com facilidade dos seus terrenos e Fábio Delgado, tendo o toiro arrancado mal se iniciou o cite, feito um ‘estranho’ no momento da reunião tendo a mesma sido menos ortodoxa, contudo, eficaz.

Pelos amadores do Montijo avançaram para a tentativa de pega de caras os forcados João Paulo Damásio que consumou ao primeiro intento, após ser bem ajudado pelo primeiro ajuda (com chamada a dar volta ao ruedo) e o grupo fechar nos médios de forma eficaz e Joaquim Consoado, numa boa pega ao primeiro intento, com muito mérito dos segundos ajudas.

Pela formação nabantina, ou seja, Tomar, foram elegidos para efetuar as suas pegas os forcados David Gonçalves, que consumou ao primeiro intento, embora a coesão do grupo não tenha sido a melhor e tenham possibilitado que o astado fugisse à formação e Carlos Duarte numa execução à primeira tentativa, aguentando dois derrotes laterais, com o grupo a fechar de forma coesa.

Corrida dirigida com acerto e excesso de benevolência na concessão de voltas e de música, havendo muita parra, dado o excesso de alarido nalgumas lide, e pouca uva, face a alguns desempenhos menos felizes, pelo delegado técnico tauromáquico Manuel Gama, assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva e pelo cornetim José Henriques.

Foto: Rodrigo Viana

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