Coruche – Juli despediu-se de Portugal, sem pena e pouca glória

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A corrida com palco em Coruche, realizada nesta sexta-feira, deverá ser objecto de diversas reflexões.

Da grandiosidade do elenco, ninguém duvida. Dois toureiros da terra, ambos com prestígio e o grande, enorme Julián López ‘El Juli’.
Bem a empresa a “sonhar” em grande dimensão! Quem reclama mais do mesmo, teve em Coruche uma oportunidade de ver um dos mais importantes toureiros do universo taurino.
A “Toiros com Arte” arriscou, não sei se petiscou (três quartos francos de entrada), mas a verdade é que deu as cartas para aquilo que poderia ter sido uma grande noite.
A tauromaquia portuguesa precisa disto, de sonhadores que se agigantam e que dão ao seu público, a diferença!

Sonhadores já os houve, no passado e os desaires deveriam ter sido lições para os que agora querem fazer acontecer. Lino trouxe as mais mediáticas figuras do toureio, Bolota, recordemo-nos, também… Mas faltou sempre entender, que os grandes acontecimentos só o serão se as campanhas de marketing acompanharem na mesma proporção. Criar histórias, vender sonhos, vender figuras é um “mal” necessário para que o público chegue à bilheteira e dê um valor exorbitante por um bilhete. O público tem que dar a “vida e a carteira” por estar na corrida “a” ou “b”…

Julián López ‘El Juli’ foi o que foi e não vou aqui dissertar sobre a sua dimensão, ou, chegaríamos ao seu compromisso de Madrid, com esta crónica inacabada, contudo, em Madrid, não se enfrentará com toiros como os que teve por diante em Coruche. Esta é a diferença. Este é o respeito que este matador de toiros, um ídolo para muitos, teve pela afición lusa. Já o havia feito em Alcochete, porque não o faria em Coruche?

Pois bem. Quem são os culpados? Nós! Que ao longo dos anos nos baixamos aos nuestros hermanos. Os empresários, que deveriam acautelar a qualidade inerente ao custo do bilhete que estão a cobrar. O toureiro, que não deveria ver em Portugal, um local fácil, de pouca exigência e onde se pode vender gatinho por lebre. A Direcção de Corrida por deixar passar dois toiros sem trapio, ou deficiente apresentação (artigo 40, alínea f do Regulamento Tauromáquico).

Pois bem. Defendo e defendi sempre, que as Figuras do momento deverão vir a Portugal enriquecendo assim a diversidade, globalidade e até qualidade da tauromaquia, contudo, desta forma: Não!

É preciso que o empresário dê um murro na mesa e diga, vens, mas com toiros a cumprir os mínimos.

Pois bem… Juli mostrou-se enfadado com qualquer coisa, de expressão fechada… um Juli em serviços mínimos. Sem os mimos que no dia anterior tinha deixado na arena de Salamanca, ou em Nimes. Subestimação completa do que é um Portugal Taurino que apenas serve para – pagar!

Os Garcigrande, nem foram bons, nem foram nada e Juli, como os conhece como ninguém, tirou uma aguinha daqueles poços e foi ovacionado por tudo o que fez até ao dia anterior, mas nunca pelo que não fez em Coruche.
Um cheirinho de capote no segundo toiro, veronicas, chicuelinas… uma séries pela direita e esquerda, passes de peito e términos mais efusivos de forma a ficar na retina.

Repito, Juli nunca deixará de ser o colosso que foi, que é, mas em Coruche, veio apenas a sua sombra…

Nota negativa ao público, que antes de ver os toiros e antes de ver a medida da entrega (ou falta dela…) de Juli, lhe deveria ter tributado uma gigante ovação.

Juli despediu-se de Portugal, sem pena e sem muita glória.

António Ribeiro Telles marcou presença pela primeira vez, esta temporada, ultrapassando-se o diferendo inicial com a empresa gestora dos desígnios deste tauródromo.
Sem deslumbrar ou sem alardes de triunfo, António Telles andou regular em ambos os toiros, distintos em comportamento.
A lide do primeiro teve como ponto alto, uma porta gaiola de bonito efeito, aproveitando o Mestre da Torrinha, a airosa saída do oponente. Seguidamente deixou compridos e curtos, de nota correcta.
Frente ao segundo, um toiro alto por diante, emplazdo, mas solto, António lidou em crescendo, melhorando qualitativamente ao longo da função. Terminou com aquele que haveria de ser o melhor curto desta sua passagem pela sua terra.

João Ribeiro Telles, a viver o ano de comemoração do 15º aniversário de alternativa, foi autor de duas felizes passagens pela arena coruchense, destacando-se na segunda delas.
Frente ao toiro de Brito Paes, andou em tom correcto, sem brilhantismos a destacar, mas bem sobretudo na brega de colocação do oponente em sorte, “trabalhando-o” na perfeição.
Frente ao segundo, aí sim rubricou uma lide triunfal, com uma muito boa recepção do oponente, em curto e a motivar os primeiros aplausos. Depois de bandarilhas com ligeiras e suaves batidas, “sacou” o Ilusionista e com ele “rebentou” com o que restava do quadro. Duas grandes interpretações, com o público a ovacionar de pé.

As pegas estiveram por conta dos Grupos de Forcados Amadores de Coruche.
Para a cara dos toiros, foram: António Macedo Tomás, numa excelente execução de pega ao primeiro intento, com uma proporcional primeira-ajuda; Afonso Freitas, à segunda tentativa; Tiago Gonçalves, tentando por quatro vezes violentíssimas a pega do quarto toiro do festejo, sendo dobrado pelo seu cabo, José Macedo Tomás e; João Prates, ao primeiro bom intento.

Lidaram-se touros da ganadaria de António Raúl Brito Paes, com mobilidade e sem complicar demasiado a função. O segundo (lidado por João Telles), foi distraído…

As reses de Passanha, tiveram mobilidade e transmitiram, proporcionando duas boas lides aos dois cavaleiros em cartel.

O festejo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Ricardo Dias, assessorado pelo Médico Veterinário Jorge Moreira da Silva.

Fotos: João Dinis
(Clique na Imagem para ampliar)

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