Em Portugal, nenhum dos desafios a que um toureiro se imponha dá ou tira o que quer que seja. Os contratos estão fechados e geralmente proliferam em função das praças cuja gestão esteja a cargo de determinado apoderado. Isto para concluir, que um toureiro, quando se “impõe” um desafio de lidar seis touros, é por isso mesmo, desafiar limites, capacidades, resistência, fantasia e imaginação.
Pois bem, João Ribeiro Telles, escolheu a Praça de Touros Daniel do Nascimento para e pela segunda vez na sua carreira, lidar seis touros em solitário, sendo esta uma “mais” uma forma de comemorar o seu 15º aniversário de alternativa.
A Moita não é um tauródromo qualquer e ali, por aquelas bandas, apreciam-se destas coisas, destes feitos distintos.
João Ribeiro Telles actuou na mais importante data da Feira e o seu primeiro triunfo, à parte da superação pessoal que adivinho ter satisfeito, a felicidade de ter colocado nas bancadas, uma moldura humana importante, ou seja, praça cheia à vista.
Seis touros, início bonito com todas as montadas a visitar a arena antes mesmo do início do espectáculo e Luís Trigacheiro a actuar antes, durante e depois da corrida.
Preocupação portanto, em fazer deste acontecimento, isso mesmo, um acontecimento. Bem como preocupação louvável com o marketing que envolveu este evento, mostrando-se Telles, um toureiro preocupado com a elevação da tauromaquia.
Não houve um toiro bravo e de bandeira, mas houve um Prudêncio a colocar emoção e transmissão. A sua terceira lide, foi a primeira a fazer-se notar. Até ali as coisas andavam mornas, pese embora a porta gaiola e apontamentos aqui e acolá… Com o tal Prudêncio, houve uma sorte de gaiola de muito valor e um primeiro curto com um imponente câmbio, a que se seguiram mais dois de nota semelhante e um remate de lide com a marca da casa, ou seja, um violino e palmo.
O quarto toiro contou com as presenças na arena de Manuel Telles Bastos, António Telles filho e Tristão Ribeiro Telles, numa “simulação à moda da Torrinha”. Surgiu o Veiga Teixeira, complicado e a pedir leitura exacta e por último, o Passanha, muito manejável e que permitiu três penalties com a montada que definitivamente marca, as suas última temporadas, o Ilusionista.
O espectáculo não foi redondo, não manteve sempre a chama viva, mas, teve como momentos altos e recapitulando, a lide do terceiro e do sexto toiro da noite.
Triunfou sim a superação de João Ribeiro Telles e porque não dizê-lo, o Ilusionista.
As pegas foram tentadas e consumadas por um único Grupo de Forcados, como de resto manda a tradição: Aposento da Moita.
Na linha da frente, estiveram os forcados João Freitas (primeira pega) e André Silva (quarta pega) ao segundo intento; o cabo Leonardo Mathias (segunda pega), António Lopes Cardoso (terceira pega) e Martim Cosme Lopes (quinta pega), à primeira boa tentativa (forcado com apenas 17 anos e uma pega espectacular); e Tiago Nóbrega, com duas entradas ao toiro, dobrando a inicial tentativa de José Maria Duque, saindo o forcado lesionado, com uma fractura exposta na perna esquerda.
Lidaram-se touros de António Silva, David Ribeiro Telles, Prudêncio, Fernandes de Castro, Veiga Teixeira e Passanha. Todos os toiros estiveram rematados, dentro dos respectivos tipos, sendo que o Passanha foi o que mais serviu e o Prudêncio, aquele que “colocou” maior emoção no festejo.
O festejo foi dirigido com sensibilidade e tentativa de elevação do espectáculo pelo Delegado Técnico Tauromáquico Tiago Tavares, assessorado pelo Médico Veterinário, Jorge Moreira da Silva.
Fotos: João Dinis