Montemor – Destacam-se Telles e Salgueiro da Costa numa tarde importante para a formação montemorense

0

Realizou-se por ocasião da Feira da Luz, em Montemor-o-Novo, a tradicional corrida de toiros, nesta vila alentejana, cujo tauródromo é dos mais castiços do nosso panorama taurino. Um cartel apelativo, a incluir três nomes sonantes do nosso escalafón e o grupo de forcados da terra, que como é hábito nesta data, pega os seis astados, que desta feita, pertenceram à ganadaria de Veiga Teixeira.

O diretor de lide, esta tarde, fora António Palha Ribeiro Telles, cabendo-lhe dar lide ao primeiro toiro da tarde. Foi reservado na fase inicial da lide, apertando com a montada sempre que via que a conseguia atingir, o que motivou uma excessiva presença dos peões de brega na arena. Após dois compridos pautados pela regularidade, iniciou a fase de bandarilhas curtas de forma menos ortodoxa, no que diz respeito ao momento da reunião. O terceiro curto da série seria de muito boa nota não fosse o ligeiro toque que sentiu, terminando posteriormente com um curto de elevada qualidade deixado nos tércios, este ao estribo e de cima a baixo como é seu apanágio, numa lide que resultou intermitente. Após o equador do festejo, coube-lhe regressar ao ruedo para lidar um toiro, flavo de capa, com qualidade e que transmitiu mais, possibilitando faena diferenciada e qualitativamente superior ao cavaleiro da Torrinha. Dois bons compridos à tira e uma série de curtos iniciada com boas maneiras. Após brindar a segunda bandarilha a Luís Miguel da Veiga, galvanizou-se, desenhando uma faena de muita categoria, com princípio, meio e fim. Arriscar-me-ia a dizer que fora a melhor da sua temporada! Houve bom gosto, houve boa preparação das sortes e houve reuniões ‘à Telles’. Enhorabuena!

O segundo da tarde teve lide a cargo de João Moura Júnior. Não iniciou da melhor forma, com o segundo comprido a resultar traseiro e descaído, após sentir um ligeiro toque na sua montada, resultado de uma reunião mal medida. O primeiro curto, após uma passagem em falso, foi deixado com qualidade, o que por si só, não motiva a concessão de música (ao contrário do que o ginete de Monforte pretendia). Na segunda e terceira bandarilhas curtas o nível elevou-se, havendo lugar a uma brega cadenciada de muitos quilates, uma preparação das sortes eficaz, para rematar com a cravagem após ligeiras batidas ao pitón contrário, tal como deve ser en su sítio. Fechou a sua primeira lide com um ferro de palmo de boa nota. A quinta lide da tarde não teve o início pretendido. O toiro, pior do festejo até ao momento, era tardo de investida, o que dificultou o labor do toureiro. Apenas ao segundo curto se vislumbraram as qualidades que lhe são reconhecidas. Quer no segundo, quer na terceira bandarilha curta, deu um pouco mais de si, provocando a reunião e cravando com qualidade, demonstrando mão certeira. Terminou a sua passagem por este coso com duas ‘mourinas’ que resultaram cingidíssimas e de belo efeito, embora em ambas tivesse tido uma primeira tentativa em que não conseguiu a sua cravagem. Embora com momentos de muita qualidade em ambas as lides, não conseguiu ser consistente, em nenhuma das suas atuações.

 Completava a terna, o cavaleiro João Salgueiro da Costa. Começou por se enfrentar com um astado de qualidade muito superior e que permitiu que o ginete de Valada tivesse uma atuação de altíssimo nível. Sabendo que não é toureiro de demasiadas fantasias, há que destacar uma série de curtos imaculada, pautada pela cravagem de quatro bandarilhas de excelente nota. Cite frontal, de praça a praça, a culminar com a cravagem de colocação perfeita, após reuniões ao estribo. Para a última atuação do festejo, saiu ao ruedo um toiro negro bragado corrido que se demonstrou menos voluntarioso que o seu irmão de camada que compunha o lote de Salgueiro. O primeiro curto foi de muito boa nota, porém não conseguiu redondear a restante lide como frente ao anterior com que se enfrentou.

Tarde importante para o Grupo de Forcados Amadores de Montemor, encerrando-se na sua casa, fardando antigos e atuais, com os seis toiros do festejo.

O cabo indicou para tentar a primeira pega o forcado Vasco Ponce, que citou com toda a classe e galhardia, cativou a atenção do oponente e após ter carregado, o toiro investiu com alegria. O forcado fechou-se com qualidade, aguentou os primeiros derrotes, mas ao chegar às segundas, a rês fugiu ao grupo, tendo faltado alguma coesão do grupo para que se consumasse na tentativa inicial. No segundo intento, o toiro arrancou-se com prontidão, teve um momento da reunião mais complicado, batendo e não permitindo que o forcado se fechasse. Consumou-se, por fim, a pega ao terceiro intento, após o toiro ter focinhado no momento da reunião, tendo, nesta situação, existido eficácia e não havendo qualquer tipo de veleidade.

A segunda pega da tarde foi executada pelo forcado Francisco Borges. De qualidades reconhecidas e conhecedor de todos os momentos da pega silenciou a praça, citou com uma classe que muito poucos conseguem atingir, carregou nos médios, provocando uma investida limpa, recebendo a rês de boa maneira, tendo uma primeira ajuda de qualidade por parte do cabo da formação, consumando-se, assim, a pega à primeira tentativa.

A primeira parte do festejo terminou com a pega de Francisco Barreto, que nesta tarde, executou “a última pega da sua vida”. E que pega! O toiro saiu alegre ao ver o forcado nos médios, recebeu-o de forma limpa e o grupo esteve perfeito a ajudar permitindo uma efectivação de muita qualidade na tentativa inicial. Parabéns Francisco e obrigado por tudo o que deste à festa de toiros em Portugal!

Bernardo Dentinho também se despediu das arenas nesta tarde, consumando ao primeiro intento, após uma pega cuja reunião não foi perfeita, mas onde prevaleceu a vontade de ficar. Bem os restantes elementos da formação montemorense em praça a ajudar e permitir esta efectivação.

O quinto forcado eleito para efetuar a tentativa de pegas de caras foi Vasco Carolino. Um forcado que se tem vindo a afirmar nesta formação e que hoje voltou a não defraudar as expetativas. Foi até ao momento o único que teve de ir buscar a rês aos seus terrenos, conseguindo reunir de forma dura mas limpa, efetivando à córnea ao bom primeiro intento, destacando-se uma excelente primeira ajuda.

A última pega da tarde foi efetivada de cernelha à segunda entrada com muito mérito nos médios, pelo cernelheiro e cabo, António Cortes Pena Monteiro e pelo rabejador, João José Comenda.

O curro de toiros da ganadaria Veiga Teixeira cumpriu em apresentação contribuindo para um espetáculo emotivo e com lides e pegas de qualidade. Destaque pela positiva para as reses lidadas em terceiro e quarto lugar e pela negativa para o quinto da ordem, mais reservado e tardo de investida. O representante da ganadaria deu volta após a lide do segundo e quarto da ordem.

Salientar e parabenizar pleo fantástico trabalho, os campinos João Inácio e Henrique Pinheiro, sendo inclusive premiados com duas voltas à praça para escutarem os merecidos aplausos do público.

Dirigiu a delegada técnica tauromáquica Maria Florindo, assessorada pelo médico veterinário Dr. Feliciano Reis e pelo cornetim José Henriques, numa corrida cuja lotação da praça de Montemor atingiu os 80% da sua capacidade.

Foto: Rodrigo Viana

Share.