Editorial – Outubro – Foram apenas 2 minutos…

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Se há coisas boas que fiz no mundo dos toiros, foi a grande amizade com o Hugo Calado…

Conhecemo-nos era “ele” um miúdo, eu já nem tanto e embora com aficións diferentes, a verdade é que estávamos e estivemos sempre, unidos por esta paixão, a tauromaquia.

Quase 20 anos depois, o que nos une, é tudo menos a tauromaquia.

Tenho pena, mas entendo. As paixões são assim. Assolapadas, fazendo-nos passar por cima de tudo e todos para viver sensações, aquele frio na barriga, aquele calor, seguido de frio, aquela ilusão de que vamos desfrutar de momentos inesquecíveis e não se troca “isto”, por quase nada…

Sabemos todos, que as paixões, embora sem idade ou tempo para as viver, muitas vezes terminam. Ou porque já não há novidade, ou porque houve uma desilusão ou até mesmo porque afinal, aquilo TUDO que víamos, afinal mais não era que uma fantasia da nossa cabeça e o reflexo daquilo que sempre quisemos ver…

Este não é, felizmente, o único caminho para uma paixão. O amor pode ser a fase seguinte e se a isto juntarmos uma amizade consistente, então temos relação para a vida…

O Hugo Calado é um jornalista a sério. Tinha e tem isso na alma. Nunca foi um fotógrafo, embora saibamos todos que neste conceito não se inclui nenhum desprimor. Foi sempre, um fotojornalista completo. Com sensibilidade para a notícia.

O seu toureio, antes no sapo, depois “.pt”, foi sempre uma referência até ao dia em que… pluff…! Separação e término da paixão. Obviamente que a tauromaquia não lhe será indiferente…

A minha paixão nasceu comigo e fez-me cruzar caminho com o Hugo.

Não tive outra opção! Paixão natural, intrínseca e da qual não poderia fugir, estava traçado. Não fujo ao destino. Nunca fugi. Tinha de ser este o meu destino e ao longo dos tempos, defendi esta “dama” da melhor forma que pude. Primeiro, fruto da rebeldia, respondendo a tudo e todos, querendo mudar o mundo, dando o “peito às balas” sem pena por isso. Depois, ou seja, agora, de forma ponderada, tocando em feridas pertinentes, mas sempre com o nível que a vida nos conferiu, aqui, a todos os que participamos e vivemos este projecto.

Orgulho-me da minha história no jornalismo dedicado à tauromaquia, mas orgulho-me mais ainda deste órgão de comunicação, que já passou por tanto e que sempre, mas sempre, se reergueu, como de resto se reerguerá sempre!

Escolhi nunca desistir. Não sou disso, pese embora as desilusões que a tauromaquia me continue a dar…

Na tauromaquia como na vida, bem como no jornalismo, as tais premissas que me uniram ao Hugo Calado (para sempre…), existem ainda as paixões dissimuladas… Os famosíssimos e antigos “golpes do baú”. Paixonetas por dinheiro. Paixonetas a gramar a suposta “cara-metade” para que no fim se paguem as contas ou tão-só, o tabaco. Vende-se a alma, o corpo e sapateia-se em cima da ética jornalística.

E quem a ama, à tauromaquia, cai na cantiga, fazendo de conta que aquilo, importa a alguém… Mas afinal de contas até importa, aos mal-amados, aos que se acham feios ao espelho e que, reflectidos ao espelho de uma fotografia, se acham importantes e merecedores de um espaço que se paga com quaisquer 50 euros.

No passado fim-de-semana, num episódio não singular, repetido e sim muito apaixonado de verdade, jantei com o João Dinis e o Hugo Calado. Apaixonados como sempre, por muitas pessoas e uns pelos outros… Hoje olho para trás e percebo, que no nosso jantar, o pedaço dedicado à tauromaquia, foram 2 minutos em horas de conversa…

Foram apenas 2 minutos…

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