Vila Franca é e deve ser, uma espécie de Golegã. Ninguém pede chuva, mas também já não se suportam os calores típicos de Agosto… mais de 35 graus e um público que provavelmente “fugiu” para a praia… Um terço de entrada com maior incidência nos sectores de sombra. Pouco, muito pouco para uma Palha Blanco importantíssima no panorama taurino nacional.
Primeira de três corridas integrada na Feira de Outubro, e primeira de duas corridas mistas. Querem toureio a pé? Pois venham às praças, antes que os empresários virem costas a tudo isto que envolve capotes e muletas.
Começamos por aqui. O elenco, falado em português, foi composto pelos diestros Manuel Dias Gomes e Joaquim Ribeiro ‘Cuqui’.
Manuel Dias Gomes reafirmou em Vila Franca o grande momento que atravessa. Frente ao segundo, de Calejo Pires, não teve opções. O astado quis sempre fugir da “pelea”, inviabilizando por completo o seu labor. Contudo, frente ao primeiro, de Assunção Coimbra, muita vontade de investir mas sem transmitir, Gomes colocou tudo de si, conseguindo arrancar faena importante, de variedade por ambos os pitons, rematando as tandas com bonitos passes de peito. De capote protagonizou um bonito saludo, com veronicas e uma meia veronica estilizadas e ao mais alto nível.
Joaquim Ribeiro “Cuqui” sorteou o melhor lote, deixando-se ver como fino toureiro nas duas faenas. A primeira, com pormenores interessantes pelo piton esquerdo e a segunda, frente a um Coimbra de bom tipo, que permitiu um labor mais inteiro e coeso, com derechazos e naturais de bonita execução. Antes e de capote, uma larga afarolada de joelhos em terra e duas veronicas de pés bem juntos.
Os tércios de bandarilhas foi muito interessante, com alguma “rivalidade” entre os toureiros de prata. Saudaram montera em mão, João Pedro ‘Açoreano’, Joaquim Oliveira e Miguel Batista.
Para o toureio a pé, mais manejáveis os toiros de Assunção Coimbra e menos potáveis, os de Calejo Pires.
A cavalo, um duelo importante, entre os jovens Miguel Moura e Luís Rouxinol Júnior.
Os duelos, têm na minha óptica, para serem justos, que contemplar condições equitativas para ambos os intérpretes de uma arte e não de uma ciência…
Miguel Moura é dono de um toureio mais suave, de “pantufas” e sem saltos altos, mas de elegância esquisita e magistral… Os Canas Vigouroux estão longe de ser a matéria-prima que lhe sirva, sobretudo quando não é em “bom”.
Ainda assim, há factores que denunciam a amplitude de um toureiro e Miguel Moura agora pode com tudo. Pode com mansos, pode com “brutos”, pode com parados, pode com os bravos… Vila Franca nunca foi Mourista, mas hoje, Miguel não ouviu um assobio, um protesto… muito pelo contrário. Foi respeitado, ovacionado.
A lide do primeiro, mansote e de meios passos, sem se empregar no momento da reunião, foi correctíssima, sem um toque ou um erro. Entendeu a direcção de corrida, não conceder música ao ginete, erradamente, creio que isso é indiscutível.
Na lide do segundo, cravou o primeiro em sorte de gaiola, bem, muitíssimo bem, aguentando um parón… Nos curtos e já com o seu cavalo estrela, o dos ladeios sem fim a templar a investida dos toiros, deu-nos o “cheirinho” que o touro permitiu, mas soube a pouco. Lide esta sim com música, de bons ferros e ambiente.
Luís Rouxinol Júnior ditou a sorte maior da tarde, lidando o melhor da corrida, ou seja, o segundo do seu lote, um toiro cheio de “som” e mobilidade e que teria permitido uma ‘faena’ de luxo e de classe. Rouxinol apresentou-se no seu habitual registo. Registo de “luta” e raça, mas que nem sempre viram ferros em reuniões ajustadas. Ainda assim, a sua condição de lidador prevaleceu.
Na lide do primeiro, foi também receber à porta gaiola, deixando a ferragem da praxe com correcção, ainda que sem deslumbrar…
As estiveram por conta dos Grupos de Forcados de Évora e Vila Franca.
Para a cara dos toiros, vestindo a jaqueta dos Amadores de Évora, foram: Carlos Sousa e José Maria Passanha, em pegas efectivadas ao terceiro intento.
Na linha da frente, representando o Grupo de Vila Franca, estiveram: Guilherme Dotti, ao primeiro fabuloso intento e; Rodrigo Andrade, também com boa exibição, à primeira tentativa.
A cavalo lidaram-se touros da ganadaria Canas Vigouroux de apresentação irrepreensível e bom jogo do quarto toiro deste ferro, “oferecendo” volta à arena ao seu criador. O primeiro foi de jogo desluzido.
O festejo foi dirigido pelo Delegada Técnica Tauromáquica Lara Gregório de Oliveira, assessorada pelo Médico Veterinário, Jorge Moreira da Silva.
Fotos: João Dinis