Balanço da Temporada – Cavaleiros

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Foi um ano como todos os outros, ou seja, em vezes a mais do que o desejável, mais do mesmo e, de quando, em vez, algo que nos preencheu as medidas por ser diferente, ou por ser simplesmente, uma afirmação daquilo que já se sabia.

Mas vamos por partes e utilizando a memória que não deve ser curta…

Rui Salvador anunciou que esta temporada não tourearia. Deixou as arenas depois de uma série de anos ao “serviço” da Festa, mas mais que isso, deixou as arenas depois de três ou quatro épocas em que se aproximou dos seus melhores tempos. Deixa saudades, de um estilo diferente, sem imitações, de uma presença verdadeiramente distinta e que teve e terá sempre o seu lugar na história do toureio a cavalo em Portugal.

Neste balanço, a segunda ideia que importa aqui reter. Nomes como Paulo Caetano e João Salgueiro, intrinsecamente diferentes, mas, que sempre que ressurgem nas arenas, nos conseguem deixar um sentimento nostálgico… Magnífico Festival na Palha Blanco, onde sobretudo Paulo Caetano deu que falar pelo seu tom “coloquial” na arte de tourear.

Em 2023 houve três encerronas. Uma corrida de seis touros para o mesmo cavaleiro, encerra em si mesmo várias premissas. Desafio pessoal, consagração ou mesmo, homenagem a uma efeméride… Pois bem, o “gesto” foi levado a efeito por Marcos Bastinhas, João Ribeiro Telles e João Moura e das três, destaca-se a de João Moura, como a mais relevante a nível artístico, com palco, na “sua Portalegre”. Pois daqui a mais por dizer, não se podendo restringir este verdadeiro acontecimento a duas ou três palavritas.
João António Romão de Moura não é o mesmo de outros tempos mas a genialidade, o tom de maior de todos os tempos, a certeza de que se vê um mito vivo, isso tudo, está lá. Lidar seis touros de trapio inegável, ter uma boa moldura humana num dia de dilúvio nacional e provocar borboletas no estômago de quem ali foi, só está ao alcance deste grande, enorme, gigante toureiro. O resultado artístico repito, foi o melhor das três encerronas. Foi Moura em Moura e o resto são cantigas.

Há um triunfador este ano? Sim, há e tem um nome. Miguel Moura.
Irrita-me ter que parafrasear podendo dar a sensação de falta de humildade, contudo, tenho que dizer que sempre soube que este momento iria chegar. Tento ser objectiva e dizer que de todas as actuações que vi a Miguel este ano e não foram poucas, foi aquele que me conseguiu levantar das bancadas em todas elas, aplaudindo com genuinidade, vontade e até esperança de que o toureio se volte a tornar nisto, inspiração, simplicidade complicada de igualar, esquisitice de modos, de olhares, de interpretações. Improviso estranho, tourear a templar os acontecimentos, agigantar-se perante as dificuldades e agradecer ao público sem sorrisos bacocos.
Campo Pequeno, Coruche, Salvaterra, Portalegre, Abiul e mais, muitos mais triunfos.

João Moura Caetano, João Ribeiro Telles e João Moura Júnior são os três toureiros que eternamente estão no pelotão dianteiro. Todos estão naquele momento de doce calmaria, de actuações bem conseguidas, de profundo conhecimento do toiro, de cunho pessoal já bem instituído e de convicções quanto ao estilo interpretado por cada um deles.

De Caetano e Moura Júnior, contam-se como muito boas as actuações no Campo Pequeno. Estiveram enormes, senhores dos acontecimentos e com uma maturidade toureira que lhes confere segurança. De João Ribeiro Telles, recorda-se como actuação maior a de Vila Franca, em Outubro.

E não, não nos esquecemos de Francisco Palha. Aquele de quem não se sabe o que esperar mas que e João Salgueiro da Costa e a sua soberba exibição de Santarém.

As Figuras espanholas regressaram a Portugal e com elas, trouxeram o vedetismo e capacidade de encher praça. Pablo Hermoso de Mendoza e Diego Ventura, vieram, venderam bilhetes e sabemos que isso lhes preenche o ego, a dúvida é se preencheu algo mais… Ambos estiveram bem, no Campo Pequeno e Moita respectivamente, mas, nada que nos perdure na memória por muitos e muitos anos, sobretudo porque vieram confortáveis, sem desafios e carregando apenas o peso dos respectivos nomes.

O resto mais do mesmo, em que o menos visto cai bem, como o caso de Rui Fernandes e o mais visto pode enjoar, como o caso de alguns rejoneadores que por aqui, já nada acrescentam, principalmente porque a dose é grande num país em que a tauromaquia se circunscreve ao perímetro de uma moeda.

Rematando um escrito que não agradará a todos mas que é fiel a não mais que “opinião”, resta falar das alternativas. Mara Pimenta e Paco Velasquez, limpas, festivas… e de António Telles filho, no Campo Pequeno, com um tom imperioso e tão dentro do prestígio da família Telles.

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