Cartaxo – Uma ‘mangada de manso’ ditou o momento da tarde!

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Para iniciar as comemorações do 150° aniversário da Praça de Touros do Cartaxo, a Associação Praça para Todos decidiu levar a cabo uma corrida de touros, em formato mano a mano, onde se perfilavam o rejoneador espanhol Leonardo Hernández e o cavaleiro português João Ribeiro Telles. As pegas da tarde foram repartidas por três formações: Amadores do Ribatejo, de Cascais e do Cartaxo. Lidaram-se seis toiros da ganadaria do Eng. Jorge de Carvalho.

O primeiro da tarde, bem apresentado e em tipo, apresentou mobilidade e permitiu a Leonardo Hernández colocar em prática o conceito artístico que lhe corre nas veias. Sem desrespeitar nem o rejoneo, nem o toureio à portuguesa, deixou dois compridos regulares e trouxe, por duas ocasiões, a rês na garupa da sua montada, ladeando em bom estilo, deixando dessa forma uma primeira bandarilha, com acentuada batida ao pitón contrário que resultou meritória. Na segunda e, após passar em falso, por falta de sincronização com a investida do oponente, corrigiu a mão, efetivando a sorte. A lide foi a menos, deixando uma bandarilha, citando em curto, descaída e outra onde o cingimento da reunião não foi o mais apropriado. O segundo que compunha o lote do rejoneador, natural de Badajoz, foi mais uma vez colaborador. Após dois curtos onde o momento da cravagem não foi o mais ortodoxo, elevou a fasquia aquando da terceira bandarilha da série, tendo o momento áureo desta sua passagem pela arena do Cartaxo. Suportando uma investida larga e séria do oponente e encostado às trincheiras bateu cingido, cravando en su sítio. Daí para a frente, não conseguiu manter sempre o nível, havendo lugar a uma passagem em falso e um toque na sua montada, antes de cravar mais um curto de boa nota nos tércios. Fechou com um palmito em sorte de violino, adornando-se no remate da sorte, ouvindo aplausos do público que preencheu cerca de dois terços do recinto. O quinto da tarde, único de pelagem flava, mostrou-se mais reservado ao longo da sua estadia em praça, não impedindo todavia lide, exibindo mobilidade. O rejoneador que tem uma quadra diversificada, desenhou aquela que foi a sua lide mais equilibrada, havendo mais constância no momento da cravagem. Preparou-se de forma competente, não recorrendo em demasia aos seus peões de brega, efetivando com maior acomplamento. Encerrou a sua passagem pela capital do vinho, com dois palmitos em sorte de violino e um, numa abordagem frontal.

João Ribeiro Telles, que esta tarde defendia as cores lusas, iniciou funções com dois compridos competentes. A fase de curtos não começou como era desejável, com duas passagens em falso, a segunda das quais perante a recusa da montada em bater ao pitón contrário, na cara do oponente. Insistiu, conseguindo deixar duas bandarilhas onde a eficácia não faltou. O toiro, que se arrancava com codícia ao mínimo toque que lhe fosse dado e que exibiu bravura, permitiu uma lide em crescendo, que só não foi plena em qualidade por demérito do ginete. Fechou com dois ferros de palmo, o último dos quais, de boa nota. O segundo do lote do cavaleiro da Torrinha saiu, como os irmãos de camada, a cumprir, porém ligeiramente mais tardo de investida. O segundo comprido à tira foi de uma rectidão acima do que é comum. Optou por iniciar a série de curtos, citando de praça a praça, o que nem sempre resultou em pleno dada a tardia reação do astado que tinha por diante. A série de curtos resultou com altos e baixos, considerando-se de nível regular. Fazendo relembrar a fase inicial da sua carreira, cravou uma sorte al violín seguida de um ferro de palmo, que resulta, causando algum som vindo das bancadas. O último toiro da tarde saiu com pata dos curros, causando impacto pela velocidade que imprimiu, sendo também aquele que menor potabilidade demonstrou, raspando com frequência e sentindo-se de forma enérgica com o ferro. Após deixar dois compridos onde a irregularidade sobressaiu, melhorou na fase de curtos. O terceiro curto, ao entrar nos terrenos do animal e batendo ligeiramente foi o abrir do livro para os momentos com que fecharia a sua passagem pelo Cartaxo. O toiro arranca-se de largo de forma extemporânea e intempestiva, numa tipica mangada de manso e com o Ilusionista batendo de forma mais acentuada deixa aquele que, sem margem para dúvidas, é o ferro da tarde.

O Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo abriu as hostilidades, avançando na linha da frente, o forcado André Laranjinha. Citou com menos classe e mais coração, recuando perante um animal que nunca demonstrou maldade na investida. A reunião não foi perfeita e, por momentos, pareceu o forcado ficar ligeiramente pendurado na córnea do astado, o que foi corrigido com uma pronta e coesa ajuda da restante formação, consumando-se, dessa forma, na tentativa inicial. Encerrando a exibição da formação, avançou o forcado Fábio Casinhas. Após uma reunião mais ríspida, conseguiu fechar-se, não tendo todavia a melhor colaboração dos ajudas, que permitiram que com um derrote seco junto às trincheiras, o impedisse de cumprir de forma limpa a atuação do grupo. Efetivou a pega à terceira tentativa.

Afonso Tomás da Cruz foi o primeiro eleito para tentar a pega de caras pelos Amadores de Cascais. O astado demonstrou o que antes evidenciara: prontidão. Bem a citar, batendo-lhe as palmas de largo, com o toiro a mirar as tábuas. Ao encurtar distâncias, teve a esperada investida. Reunião próxima da perfeição, complementada com uma ajuda coesa dos elementos que o auxiliavam, efetivando-se ao bom primeiro intento. A quinta pega da tarde coube a Francisco Pinto. Forcado jovem, franzino e de curta experiência não mostrou decisão no momento da reunião, recuou pouco, adiantou ligeiramente os braços, consentindo uma voltareta no embate inicial. Na segunda e terceira vez que se perfilou, com aparente calma, não foi capaz de dar a volta ao texto, havendo derrotes mais altos da rês, o que levou a que não cumprisse o objetivo a que o propuseram. Efetivou ao quarto intento com ajudas carregadas.

O cabo dos Amadores do Cartaxo elegeu Vasco Campino como forcado da cara para a terceira pega da tarde. Citou de forma elegante, mas a forma pouco convicta com que carregou a sorte e um momento da reunião mal calculado, impediu a consumação na tentativa inicial. Consumou ao segundo intento, corrigindo as falhas que enumerei, havendo entreajuda dos restantes elementos. Para encerrar o capítulo das pegas, José Oliveira enfrentou aquele que poderia causar maiores dificuldades. No primeiro intento e após se fechar, o forcado saiu da cara da rês, tendo sido os ajudas a colocá-lo de novo. Esteve bem o cabo da formação ao mandar repetir a pega. Boa pega à segunda tentativa, fechando-se com afinco, estando bem o grupo a ajudar.

O curro enviado pelo Eng. Jorge de Carvalho estava bem apresentado, cumprindo de muito boa forma na generalidade, havendo mobilidade e bravura nalguns casos. Foi concedida volta à representante da ganadaria por parte da inteligência aquando da lide do quinto da tarde.

A corrida foi dirigida com alguma benevolência pelo delegado técnico tauromáquico Manuel Gama, assessorado pelo médico veterinário Dr. José Luís Cruz.

Foto: Rodrigo Viana

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