Sejamos francos e outra coisa não cabe aqui… Andrés Roca Rey esgotou a praça de Santarém e não lhe tiremos esse mérito, essa facilidade na captação de massas, esse dom de galvanizar a sua imagem… É Figura, sabe disso, move-se e alimenta-se disso mesmo. Mas dá a cara! Sim, dá a cara em todos os momentos, em todas as praças, em todos os países onde actua.
Outras analogias são quiçá entregar o ouro ao bandido. É aceitar que dói menos. A quem lhe doer, é claro!
A nós que contamos o que em Santarém tem que ser contado, pouco nos importa quem vendeu os bilhetes, bom é poder dizer, que ESGOTOU, palavra infelizmente pouco utilizada ao longo dos nossos relatos e sobretudo pouco escrita, quando se anuncia sempre mais do mesmo.
Santarém foi diferente. Teve gente bonita, que sabe estar, com glamour. Santarém e o Sector 9, estão de parabéns, não pela temporada, onde falta um certame de apoio aos novos, urge que o façam, mas estão repito, de parabéns pelo que se viveu hoje.
Quanto ao que se passou na arena, isso é e sempre será outra história, a tal carta fechada que apenas se abre ao momento e ou se vive e guarda na memória, ou “fecha-se” para sempre…
Em Santarém, nesta tarde de Feriado do Dia de Portugal, houve muitos polos de interesse. Houve um renascimento e volto a pedir franqueza na leitura e aceitação de todos. Houve um renascimento, talvez embebido na grandeza típica das tardes importantes. João Moura Júnior, grande toureiro, mas que nos últimos tempos andava em meias tintas. Nesta tarde e em especial frente ao segundo do seu lote, um soberbo toiro de Murteira Grave, utilizou a paleta de cores, de todas as cores e levou a efeito uma grande actuação. À antiga e perdoem-me se disser que fez lembrar histórias antigas vividas pelo seu pai. Bem a receber o oponente, bem a cravar com as batidas ao piton contrário, bem na brega e nos remates das sortes e soberbo na Mourina com que encerrou a sua actuação. Frente ao primeiro andou benzinho, deixando com positividade a ferragem da praxe, mas sem o timbre de triunfo da segunda das suas lides.
João Ribeiro Telles não quis ficar atrás neste “duelo” de ginetes que desde muito novos se defrontam nas arenas, tal e como havia já acontecido com os seus pais. Equidade também no que concerne à primeira actuação. Bem, mas sem alardes de triunfo. Foi na segunda que Telles “as jogou todas”. Astado recebido com garbo, deixados os compridos com correcção e depois, uma sequência de bons curtos onde a brega dominadora e com ofício falou mais alto. Terminou com chave d’ouro e dois curtos de excelência montando o Ilusionista. O primeiro deles diria que pode ser dos irrepetíveis.
As pegas estiveram por conta dos Grupos de Forcados Amadores de Santarém e Montemor.
Para a cara dos toiros, vestindo a jaqueta dos Amadores de Santarém, foram: Salvador Ribeiro de Almeida e Francisco Cabaço (segunda pega na feira por si protagonizada a deixar tudo e todos em pé), ao primeiro intento.
Na linha da frente, representando o Alentejo, estiveram os forcados de Montemor: Francisco Borges, à segunda tentativa e; José Maria Cortes Pena Monteiro, ao primeiro soberbo intento, pega que a todos deve deixar orgulhosos.
A cavalo lidaram-se toiros de Murteira Grave. O segundo sem tanto trapio ou pelo menos o expectável num tauródromo desta categoria, os restantes e nesta matéria, bem, sendo que se destaca como um excelente toiro, o segundo do lote de Moura Júnior, premiando o seu ganadeiro com volta à arena.
A pé, Andrés Roca Rey, em pleno auge da sua carreira.
O debute em Santarém foi feliz. A lide do primeiro foi inteira e ‘cuajada’, aproveitando o peruano tudo o que o astado de Álvaro Nuñez tinha para dar. Séries por ambos os pitons, toureio em redondo, circulares e claro, os improvisos, marca deste matador. De capote esteve também em elevado plano, com um quite variado e uma recepção por veronicas.
Frente ao segundo, da mesma ganadaria, nada de nada e algo que houvesse seria frente a um toiro sem presença, pequeno e escasso de trapio.
Do tércio de bandarilhas destaca-se Duarte Silva no dia em que prestou provas para a profissionalização como bandarilheiro. Saudou montera em mão.
O espectáculo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Marco Cardoso, coadjuvado pelo Médico Veterinário, José Luís Cruz, tendo sido oportunamente guardado um minuto de silêncio, em memória de Alfredo Vicente, pai do cavaleiro Luís Rouxinol, falecido ontem, Domingo.
Não poderia deixar esta crónica sem dar nota de que há muito tempo não se via um toureiro ser perseguido por crianças e adultos enquanto cruzava a arena. Todos queriam tocar no seu ídolo, o mesmo que durante largos minutos não deixavam que entrasse no carro de quadrilhas… Roca Rey despertou – novamente – a paixão pelo toureio!
Fotos: João Dinis (CLIQUE PARA AMPLIAR)