Figueira da Foz – Os engenheiros e doutores… e o arquitecto!

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Inevitavelmente a Figueira da Foz está para mim transformada num poço de recordações…
Boas recordações!
O Coliseu Figueirense transporta-me/nos aos tempos de senhorio do grande Senhor Manuel Gonçalves, das corridas douradas de órgãos de comunicação, das enormes tardes do Grupo de Lisboa, da era dourada da dinastia Moura, do regresso às arenas de Joaquim Bastinhas, dos pastéis de Tentugal ofertados com genuinidade pelo meu saudoso amigo Isidro Ricardo, das noites de aprendizagem ao lado do meu querido João Cortesão e claro, das garraiadas académicas e mais óbvio ainda, da importância das jaquetas azuis, dos engenheiros e doutores, mas mais que isso, dos Homens que sabem estar com classe, com educação e categoria!

A comemoração do 60º aniversário dos Académicos de Coimbra, foi qualquer coisa de indescritível… Com antigos e actuais elementos fardados, com alunos e batinas, com o fado dedicado e escrito propositadamente para as jaquetas azuis, imperou o bom gosto, colocando-se este evento, num momento absolutamente marcante na temporada.

E para isto, não menos que praça praticamente cheia.

O Grupo de Forcados Académicos de Coimbra dos Académicos de Coimbra tem o seu público e é por isso justo que se comece exactamente aqui, pelos grandes responsáveis pelo “casão” registado na Figueira.

Em modo encerrona foram para a cara dos toiros: Martins Rodrigues (à primeira); António Pinto Basto (à primeira); João Gonçalo Gama (à primeira); o cabo Ricardo Marques (à segunda); Francisco Gonçalves (à primeira); João Tavares (à primeira) e Guilherme Carvalho (à primeira).

Lidaram-se touros da ganadaria Santos Silva, do malogrado ganadeiro, a quem foi prestado uma homenagem e “escutado” um minuto de silêncio em sua memória.
O quarto toiro justificou volta à arena do criador e o de encerramento da corrida, também.
Triunfo ganadeiro. A melhor Homenagem aos céus…

Ainda que não fosse o mais antigo cavaleiro em cartel, seria mais que justo iniciar este texto no que a actuações a cavalo concerne, pelo desempenho de Rui Salvador.
Todos lhes conhecemos os predicados, os louvores, as galhardias, mas o que importa é relatar que mais do que a corrida de despedida da Figueira, esta foi uma exibição de triunfo absoluto.
Bom gosto, uma brega dominadora, ladeada e vistosa e bons ferros, com emoção no momento da reunião, como de resto foi seu apanágio. Musica ao primeiro curto, praça em pé, como tinha de ser.

Gonçalo Fernandes é um caso de complicada explicação face à escassez de oportunidades.
Não creio algum dia tê-lo visto mal, pelo contrário. Nesta noite, no Coliseu Figueirense, andou em muito bom plano, com um “tércio” de compridos de “escândalo”. Recebeu à porta gaiola, deu voltas e voltas com o astado em sua perseguição e eis que cravou dois soberbos compridos. Nas bandarilhas curtas, igualmente bem. Boa actuação.

Emiliano Gamero é o segundo caso e este mais fácil de argumentar. A tauromaquia deve ser aglomeradora de distintos estilos e conceitos e sempre que assim não for, perder-se-á a essência. Na Figueira levantou praça com os seus desplantes, os violinos, a irreverência, a alegria e a saída do marasmo… É válido!

Marcelo Mendes lidou em crescendo e esta praça parece ter talismã para si. Depois de cumprida a fase inicial, de compridos, segue para uma boa sequência de bandarilhas, elevando a fasquia a passo, terminando com duas sequências de palmo e violino, muito do agrado do público. Terminou com um bom par de bandarilhas, deixando ambiente no Coliseu.

João Salgueiro da Costa não viveu na Figueira da Foz uma noite para recordar. O toiro apresentou as suas complicações mas que ainda assim não passaram indiferentes ao ginete de Valada, que se deixou surpreender por algumas ocasiões com toques nas montadas, sendo um deles contra tabuas, com algum aparato. Rectificou com dois violinos e mais duas bandarilhas de nota regular, não dando volta, nem escutou música.

Luís Rouxinol Júnior lidou o sexto toiro da ordem, terminando a sua exibição quando o espectáculo contava já com 3h30 de duração…  O público continuava divertido e receptivo a tudo e o jovem cavaleiro, apesar das intermitências iniciais, lidou de menos a mais, terminando com “sitio” e ferros raçudos, com epilogo em dois palmitos.

O sétimo e último toiro da corrida, foi lidado pelo cavaleiro David Gomes. Gomes cravou o primeiro comprido em sorte de gaiola, tendo que “suportar” a longa e apressada viagem do toiro atrás da sua montada. O restante pautou-se pela regularidade, numa função com epílogo num par de bandarilhas.

O espectáculo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Paulo Valente, assessorado pelo Médico Veterinário José Luís Cruz.

Fotos: João Dinis (CLIQUE PARA AUMENTAR)

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