Opinião D’Ouro – Jamón, Burritos ou um belo de um Cozido à Portuguesa? A ementa será sempre escolhida pelo toiro!

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Este pedaço de terra, à beira-mar plantado, a que hoje damos o nome de Portugal é um país acolhedor, um país que recebe turistas e que, na maioria dos casos, os faz regressar, quer seja pelo fantástico clima, quer seja pela gastronomia ou até mesmo pelo afeto recebido das nossas gentes.

A Xenofobia é definida pelo medo, desprezo ou ódio por pessoas que vêm de uma nação ou de uma cultura diferente da sua, ou seja, os estrangeiros. Nos dias que correm este conceito aliado ao do Racismo são prato do dia numa qualquer tertúlia ou restaurante, num programa televisivo ou num jogo de futebol e como a Tauromaquia não gosta de ficar atrás, apanhou a onda e vamos de explorar o conceito. Nos últimos anos são muitos os nomes estrangeiros que podemos apontar como presenças assíduas nos cartéis portugueses, não havendo sequer necessidade de recorrer a uma enumeração para que todos saibamos de quem se está a falar.

Polémicas à parte, visto que tudo o que precisamos menos é de desavenças, cabe salientar em primeiro ponto, que este artigo de opinião não foi encomendado, não está a ser pago, nem nunca com o meu nome sairá algum escrito de salvação de qualquer agente da festa, por muito desesperado que possa estar. Em segundo ponto, cabe esclarecer que qualquer crítica que é redigida por mim a um qualquer artista, independentemente da sua nacionalidade, não carece de autorização do seu apoderado, muito menos passa por qualquer tipo de lápis azul, antes de ser publicado. Em terceiro lugar, apraz-me salientar que existem diferentes tipos de estratégias de comunicação e que, hoje em dia, estão por demais exploradas e estudadas, pelo que qualquer tipo de artigo pago ou não, ou mensagem privada que seja feita dias após um comentário menos positivo ao trabalho (nunca se esqueçam que se analisam lides de artistas e nunca as personalidades) de qualquer agente da festa, não tem para mim qualquer valor e só prejudica e enterra mais aquele que é o espetáculo cultural de que tanto dizemos gostar. Não façamos do povo parvo! As pessoas não vivem no século XIX e não comem gelados com a testa, basta saber somar 1+1 e verificar o que se pretende com certo tipo de escritos. Fantásticos são sempre aqueles espetáculos onde não existem escribas e é a palavra dos apoderados dos toureiros a ser difundida, em exclusivo, num certo tipo de sites e/ou blogs (todos nós sabemos quais são). Respeitarei sempre os seus representantes, ficará para os aficionados a capacidade de análise e de aprovação ou reprovação dos demais.

Há umas semanas dirigi-me a uma praça de toiros para fazer uma determinada corrida e face à falta de qualidade de uma determinada lide, ouvi da boca de um delegado técnico tauromáquico, um comentário de que teria de dar música a um determinado artista, pois, caso a mesma não fosse atribuída, poderia ser alvo de críticas xenófobas. Estamos a ir longe de mais, ou estarei enganado? Então, mas agora, a qualidade é premiada pela nacionalidade do artista, ou pela qualidade das lides apresentadas? Discriminação positiva?

Enganem-se aqueles que acham que público de pé ou ovações com um soundbite incrível são sinónimos de uma lide correta e sem falhas. Aceito, afirmo que fazem falta artistas com cunhos e ideologias distintas, aplaudo-os de pé e elogio quando acho que merecem, fico sentado e critico quando acho que o devo fazer, independentemente de verificar a existência de uma multidão a aplaudir de pé ou não. Lamento informar, mas uma crítica ao trabalho que analiso, nunca poderá ser confundida com premeditação, encomenda, má-fé ou doença. Atentem aos escritos, onde se defende unicamente um artista. Desconfiem minha gente…! Ninguém se dá ao trabalho de promover alguém porque lhe apetece. Há quem goste de ser falado, outros preferem o recato e vencer sem promoções, com base naquele que é o trabalho diário. É e será sempre uma escolha de cada um.

Já que falei em soundbite e, por ter estado presente (nunca lerão escritos de coisas às quais não assisti in loco), cabe-me comentar uma questionável saída em ombros, ocorrida há umas semanas. Pois bem, dizem-me uns: “o público esteve de pé desde que saiu à arena nas cortesias”, dizem outros: “teve uma segunda lide de grande nível culminada com um excelente par de bandarilhas”. Digo eu: “Concordo com tudo o que foi dito atrás, mas no conjunto das duas atuações de cada cavaleiro, há um colega de cartel, que naquela noite esteve por cima, em termos artísticos”. A lealdade e a honestidade são conceitos que caminham juntos, aquele que é leal jamais terá intenções de fazer algo contra um qualquer seu par. É imperativo que a rivalidade e a competição existam, veja-se o exemplo prático do futebol, sem elas ninguém lhe ligava e nunca movia os milhões que move. Na tauromaquia apregoa-se, como é sabido, em muito cartel a existência destes conceitos para tentar cativar aqueles que pagam bilhetes, pese embora e diga-se a verdade, em poucas ocasiões se sinta. Mas nesta corrida sentiu-se. Nesta noite chuvosa houve uma lide de muita qualidade e superior a todas as outras, porém quando nada fazia prever, houve um forçar de uma segunda volta de agradecimentos (que deveria sempre ser autorizada pela inteligência, e não foi), culminada com uma saída em ombros, diga-se, que só desprestigia o toureio, neste caso bem português. O artista em questão tem qualidade, consegue fazer muito melhor, caso não se perca e ignore por completo aquele que deveria ser o seu fio condutor, aquele que facilmente lhe poderia dar várias saídas (justas) pelas portas grandes deste país. Esta noite, não foi leal para com os seus companheiros de cartel, infelizmente.

Meus caros amigos, conhecidos e inimigos (portugueses ou estrangeiros) façamos da tauromaquia um lugar justo e tranquilo, deixemo-nos de trocas e baldrocas em que um artista só toureia numa praça de um dado empresário, se os artistas apoderados pelo outro tiverem uma corrida para lidar, deixemo-nos de artigos com o claro propósito de condicionamento futuro, deixemo-nos de estratégias comunicacionais bacocas em que já ninguém cai, deixemo-nos de enganar o povo que paga bilhete e que quer ver toureio do bom, seja ele interpretado por um artista de qualquer nacionalidade. Amem-se, não se odeiem; trabalhem, não esperem que as coisas aconteçam de forma facilitada; analisem as críticas de forma construtiva, não de forma destrutiva; vejam sempre o copo meio cheio ao invés de meio vazio.

Porque no fundo, seja a ementa composta por jamón, burritos ou um cozido à portuguesa, a mesma será sempre escolhida pelo toiro.

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