Torres Vedras – Uma ameaça de bomba, a dicotomia do 13 e a necessidade de ser open mind

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O número 13 é, para muitos, um dilema, visto que está dicotomicamente ligada entre os conceitos de sorte e de azar. Alguns acreditam que este número é um sinal de negatividade, alimentando diversos presságios, sendo que para outros é um símbolo inundado de vibrações positivas que é capaz de catapultar os envolvidos para patamares superiores.

Neste 13 de Julho, regressaram os toiros a Torres Vedras, num cartel rematado e com motivos de interesse para a tipologia da praça em questão, mostrando-se um sucesso de bilheteira, mobilizando bastante público ao local, esgotando o recinto portátil, numa resposta plena de assertividade àqueles que na noite anterior à realização do espetáculo tentaram boicotar o mesmo, através da colocação de um conjunto de pneus e garrafões que interligados, simulariam uma bomba, nos currais.

Mas que tipo de impacto a numerologia do 13 teve na corrida em si?

Luís Rouxinol teve a incumbência de abrir hostilidades, tendo por diante um astado que mostrou mobilidade e codícia e que, pese embora, nem sempre tenha demonstrado retidão nas investidas, permitiu que o cavaleiro de Pegões desenvolvesse uma lide intercalada com períodos de maior e de menor regularidade, havendo alguma falta de eficácia no momento da cravagem, passando por um par de ocasiões em falso, terminando a sua primeira aparição com um palmito. Frente ao quarto da noite, que saiu com bastante pata, o cavaleiro aproveitou para iniciar a atuação, dando vantagens e consentindo a investida do oponente, cravando um comprido de muito valor. Salto qualitativo notório em relação à sua anterior apresentação, com maior preocupação em cumprir as fases da lide. Bregou, ladeou, colocou o toiro com a eficiência necessária para consumar o momento da cravagem de forma meritória, ainda que a colocação nem sempre tenha sido a mais ortodoxa. Terminou com um par de bandarilhas de boa nota, deixado no corredor.

Emiliano Gamero reaparecia, esta temporada, em arenas nacionais. O rejoneador mexicano é falado e comentado (e isso é sempre positivo), por causar discórdia nos “corredores”. Uns salientam a diferença que impõe através do seu estilo característico e dizem que faz falta, outros criticam a falta de pergaminhos para tourear e defendem que não tem lugar. Eu serei sempre daqueles que respeito tudo e todos e que aprecio todo o tipo de toureio desde que seja em “bom”. Hoje, não foi. Na primeira parte do festejo tocou-lhe em sorte uma rês que se adiantava uma brutalidade e que, por esse motivo, não facilitou o labor do toureiro. O rejoneador mexicano passou sem luzimento pelo ruedo torreense, havendo excesso de presença dos peões de brega, que diminuíram o animal e o fizeram defender-se, o que aliado a uma colocação pouco sólida do astado, dificultou o momento da reunião, que resultou, na maioria dos casos, insatisfatório, havendo lugar a um forte toque na montada aquando da cravagem da primeira bandarilha curta, felizmente sem consequências a registar. Não lhe foi concedida volta, embora o mesmo tenha tentado forçar a mesma, sendo avisado pela inteligência dessa impossibilidade. O quinto da ordem, negro bragado corrido de capa, foi recebido em redondo nos médios, mostrando-se andarilho, sendo tarda a cravagem do primeiro comprido. Entende-se a vontade em querer agradar, mas a verdade é que, ou bateu cedo demais e acabou a passar em falso ou o cingimento não existiu e acabou a consentir alguns toques ligeiros quando, conseguia consumar a cravagem das bandarilhas. No equador da sua passagem ligou, finalmente, o modo efusivo, conseguindo aumentar os decibéis no tauródromo devido aos adornos exibidos, fechando a sua lide com um ferro em sorte de violino que, como se sabe, agrada o público.

Oportunidade para Marcelo Mendes naquele que é o “seu” Oeste. Foi-lhe sorteado um toiro corniapertado que acudiu aos toques e se mostrou com mobilidade. O ginete preocupou-se em lidar e não apenas em deixar as bandarilhas da série, bregando com qualidade, deixando um primeiro curto em terrenos de dentro que motivou a primeira ovação sentida por parte de quem paga bilhete. Série consistente e de valor que culminou com uma rosa de boa nota nos médios, consolidando aquela que foi sem margem para dúvidas, a melhor das atuações da primeira parte do festejo. Com três horas de festejo decorridas, saiu à arena o sexto e último toiro da ganadaria titular da noite, Herdade de Camarate. Lide de menor som e regularidade em termos qualitativos na ferragem, terminada com dois violinos rematados com dois palmos, respetivamente e um par de bandarilhas no corredor, conseguindo “sair na mó de cima” e como destaque maior desta noite, no capítulo equestre.

No capítulo das pegas, a noite não foi de grande lampejo para os grupos envolvidos. Os amadores do Ribatejo indicaram para avançar na linha da frente, Bernardo Abreu (forcado da terra, que se estreava esta noite) que pegou à quinta tentativa, com ajudas carregadas e Ricardo Jorge na tentativa inicial. O Clube Taurino Alenquerense, através do seu cabo, elegeu os forcados Francisco Nunes e Pedro Lourenço, sendo que o primeiro efetivou ao terceiro intento, com ajudas carregadas e o segundo após dois avisos da direção, citou pela terceira vez, não conseguindo fazer a viagem na cara do toiro até à consumação, estando mesmo, completamente fora da córnea por bastante tempo. Dado o tempo concedido, regulamentarmente, para a realização da pega estar ultrapassado, o toiro foi recolhido aos currais, sem que, na verdade, se possa considerar a pega efetivada. Pela formação arrudense avançaram na linha da frente, Tiago Pombo e Rodrigo Gonçalves, consumando, respetivamente, ao segundo e primeiro intento, naquela que foi a pega da noite.

O maldito do 13 não permitiu, esta noite, uma inclinação clara para o lado da positividade, havendo acontecimentos que defraudaram essa possibilidade. Bem sei, que para vir a uma corrida realizada num praça de terceira categoria, é necessário ter open mind, e ter uma exigência, quem sabe menor. Lamento, mas não contem comigo, para tapar o sol com a peneira ou dar triunfos pelo ruído causado entre o conclave. Nunca fui, não sou, nem serei esse cronista. É importante que haja a mesma entrega, estejamos num palco de primeira ou no sítio mais recôndito do nosso país. Por outro lado, há um sinal bastante positivo a retirar da numerologia, nem uma ameaça de bomba perpetuada por um bando de energúmenos, alegadamente anti-taurinos impediu que as gentes desta região do país enchessem por completo o recinto. É, assim, que se responde aos descompensados.

A corrida foi dirigida, com acerto e com uma dose de mente aberta considerável, pelo delegado técnico tauromáquico Ricardo Dias, com assessoria veterinária do Dr. Jorge Moreira da Silva, sendo cornetim de serviço, o mais consagrado na sua função, José Henriques.

Foto: Rodrigo Viana

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