É um dos mais influentes empresários dos últimos anos. Ricardo Levesinho goza da possibilidade de exibição de um importante portfólio ao serviço da Festa portuguesa.
Actualmente, apodera João Ribeiro Telles, gerindo também duas das mais importantes e emblemáticas praças de touros portuguesas: Moita e Vila Franca.
Levesinho falou ao TouroeOuro da sua já conhecida trajetória, mas principalmente da conceção da Feira Taurina da Moita 2024.
Saiba tudo nas linhas abaixo.
TouroeOuro – Ricardo, conhecemo-nos há muitos anos e permita-me concluir, que o Ricardo Levesinho de hoje, já não é o mesmo de outros tempos. Concorda comigo?
Ricardo Levesinho – Creio que os valores, a forma como vejo o caminho certo que sinto e a forma apaixonada de ver e contribuir para a festa se mantém inalterado. No entanto e aí talvez entenda a sua interpretação, a maturidade, as vivências que vou tirando ao observar e sentir ao meu redor, as dificuldades que passamos em determinados momentos e acima de tudo alguma tristeza por vários motivos que absorvi é natural que isso se sinta. No entanto, enquanto acreditar que farei a diferença pela positiva a favor de uma tauromaquia viva e feliz, cá estaremos para dar o nosso contributo!
TeO – Que diferenças vê entre a tauromaquia deste ano 2024 e daquele tempo em que se iniciou como empresário taurino?
RL – Fazem falta pessoas que já não estão entre nós. Pessoas essas que com a sua experiência, estatuto e profissionalismo regulavam comportamentos. Recordo-me que quando nos iniciamos nunca na vida me passaria pela cabeça intervir nas reuniões da APET pela frente dessas pessoas. Falava quando me pediam opinião e só a dava se achasse que era pertinente e algo que com a minha experiência profissional de gestor na minha outra atividade pudesse ser para acrescentar. Agora tudo é diferente. Existem algumas boas pessoas, poucos profissionais. E isso faz muito dano. No entanto, conheço e troco muitas opiniões com pessoas que sinto que andam na mesma forma que eu e ultimamente tenho me surpreendido com pessoas que se têm mostrado grandes de espírito e de lealdade e positividade e isso é uma excelente mais valia.
TeO – Passados estes anos e é legitimo e normal que assim seja, desenvolvem-se grandes amizades, mas também anticorpos com intervenientes no meio. Magoado com alguém?
RL – Desiludido sim, mas isso já não me dói como doía antes. Fui alguém que demorei a entender que o mundo não era como o que ensinaram e às vezes custa ver e sentir determinados comportamentos, mas em relação a chegarem a magoar já consigo fazer o filtro.
TeO – Vejo-o lúcido e sei que tem astúcia empresarial. Mas no mundo do touro, é necessária também, saber ouvir e encaixar muito do que se diz… como lida com os comentários e as críticas. Isso incomoda-o?
RL – Custa-me muito errar e nos últimos tempos sinto que errei porque não estava preparado para gerir em determinadas circunstâncias e isso para mim custou-me muito mas, foi mais um eixo de melhoria, mais uma aprendizagem e tem que ser vista desta maneira e essa experiência tem que ser aprendida face ao futuro porque os erros pagam-se muito caros a vários níveis sejam eles pessoais, profissionais, de credibilidade, etc.
Quando as críticas são construtivas por muito que nos custe as escutar temos que ter a humildade e a capacidade de as saber ouvir e absorver de forma a melhorar . Quando as críticas e comentários são para destruir e infelizmente isso existe cabe “chutar” para o lado porque como me diz alguém muito especial na minha vida as pessoas só têm o valor que lhes damos e por muito que nos custe aceitar isto na sociedade, porque fui educado para uma sociedade diferente, existe gente que não vale nada e não nos pode em momento algum incomodar mas sim pena das mesmas e rezar para que consigam chegar a se tornarem boas pessoas e tirem prazer da vida com saúde!
TeO – Quem são os seus principais aliados na tauromaquia?
RL – Decerto o público que nos honra com a sua presença porque confia em nós! Fora isso aliados não os tenho. O que tenho é um núcleo de pessoas boas em que confio e que graças a Deus sinto que também confiam em mim. Sabe, nos momentos mais difíceis é que vemos os bons e os maus! Além de ter uma sorte enorme em ter bons que conheço há muito tempo tive um prazer enorme de descobrir pessoas que são boas e que não imaginava que fossem assim. Felizmente apareceram na minha vida para empurrar para a frente e dar força desinteressada e isso é uma grande vitória da vida!
TeO – Houve uma evidente redução de praças a seu cargo ao longo dos tempos. Tem explicação para isso? Sente-se mais fraco como empresário ou sente que ter somente duas praças, o torna mais “livre” para poder negociar?
RL – “Ter” praças é de uma enorme responsabilidade e desde 2020 entendemos que a nossa estratégia tinha de mudar gradualmente em 4 anos e aqui chegamos ao objectivo traçado. Deveríamos apostar na diferenciação e na categoria. Ao gerir praças como a Palha Blanco e a Daniel do Nascimento não se pode ter comportamentos diferentes ao que idealizamos. Desde essa altura unicamente nos candidatamos a Figueira da Foz onde estivemos 7 anos e que respeitamos uma mudança que a administração entendeu ter e o tipo de cartéis e diversidade dos mesmos mostra que a administração estava certa pelo bom trabalho bem visível pela afluência que o José Luís Zambujeira e o João Anão têm conseguido. E o outro processo de candidatura a que nos propusemos foi ao Campo Pequeno. Infelizmente foi num momento extremamente complexo com a entrada do Covid no mundo e isso confesso que nos assustou. Já tínhamos a responsabilidade de Vila Franca e Moita e essa preocupação com tudo o que podia vir a acontecer mexeu connosco e com as nossas análises. Tivemos medo de não ter capacidade para em tempos incertos, em que não sabíamos como seria o dia de amanhã, ter tanta responsabilidade sobre os ombros. Se falhássemos era um problema gravíssimo para a Festa e perante esse receio no último dia do processo de candidatura que já tinha sido dilatado pelos proprietários pela incerteza existente, retiramos a nossa proposta. Se a mantivéssemos creio que seríamos selecionados porque era a superior em termos financeiros e acreditava muito no nosso projecto. Perante o que sabemos hoje, talvez a decisão se a tomássemos agora seria diferente mas isso agora não vale nada e é fácil de falar.
TeO – Vila Franca é sem dúvida e por motivos óbvios a sua praça. E a Moita? Qual a sua real relação com a Daniel do Nascimento?
RL – Não escondo que sou vilafranquense e naturalmente sinto a Palha Blanco com uma enorme preocupação e desejo de ter o melhor, no entanto ganhei pela Moita um respeito enorme, que não tinha confesso, a partir do momento em que sinto-me com a mesma camisola vestida que as pessoas que por ela têm aquele sentimento que eu por Vila Franca. Tenho que agradecer muito a confiança, a transparência, a lealdade e a compreensão e para sempre serei grato esteja no papel de empresa ou simplesmente como homem. Nunca me esquecerei tudo o que já passamos.
TeO – Que feira da Moita é a que preparou para 2024, como a descreve? Como a sente?
RL – A presença de Morante de la Puebla mostra a categoria onde queremos sempre chegar e dar e aceitando tourear ao lado de Cuqui que merece muito aqui estar, o que demonstra a grandeza de carácter; a entrada nos cartéis de grandes figuras do toureio a cavalo como António Telles e Luís Rouxinol, bem como de João Moura Jr. e João Ribeiro Telles e do triunfador do ano passado Duarte Fernandes e depois uma corrida de variedade de estilos que sentimos procurada perante um fantástico curro de toiros. Não me posso esquecer de referir os grupos de Forcados presentes bem como a homenagem ao antigo cabo dos Amadores da Moita António Rodrigues “Toino de Sarilhos” e a Homenagem a Manuel Jacinto pelo 50º aniversário de Alternativa e por último mas não menos importante, a novilhada que com tão poucas e reduzidas oportunidades no nosso país devíamos apostar em estar presentes neste tipo de espectáculo para que outras empresas se sintam tentadas a igualmente organizar. É fundamental existir futuro.
TeO – Falta Ventura, falta Pedrito no ano em que assinala 30 anos de Alternativa. Pensou neles?
RL – E falta também Rui Salvador que um tema de agenda não possibilitou com muita pena nossa que não esteja no seu ano de despedida.
Sobre o Diego tentei desde o início do ano que estivesse presente. Desloquei-me a Espanha variadas vezes e infelizmente o Diego entendeu que regressaria a Portugal só no próximo ano. Tentamos até ao último segundo que fosse possível atrasando inclusive o anúncio da Feira. Não eram questões financeiras que impossibilitam a sua vinda. Fiquei no decorrer do processo muito esperançoso que fosse possível e custou-me muito ouvir o não final. Um dia será! E espero que seja célere.
Sobre o Pedrito o que existiu é muito fácil de explicar mas difícil de compreender, pois tudo se fez para que fosse possível. Existiram três reuniões onde se conseguiu chegar a entendimentos financeiros e de cartel. Existiram muitas trocas de opiniões, muitas dificuldades colocadas mas vencidas e disponibilidade nossa e da outra parte para chegar a consensos. No entanto, o seu representante dias após o acordo final e apertarmos a mão colocou-nos novas questões que para nós eram impossíveis de ultrapassar porque não estava ao nosso alcance. Nesse momento tudo ficou sem efeito!
TeO – Sem rodeios Ricardo, quais os verdadeiros motivos para que não vão à Moita Ventura e Pedrito?
RL – Explicado Solange.
TeO – Pelos anos, permita-me apelidar de “amizade”, diga-me, teremos mais Ricardo Levesinho no ano 2025? Sonha voltar a gerir mais praças em simultâneo?
RL – O projeto Tauroleve existirá enquanto o público e a nossa credibilidade perante “o mundo” exista!
TeO – Há quem diga que o Ricardo é o mais elegante e capaz empresário da actualidade. Eu vejo-o assim. E o Ricardo, vê-se assim…?
RL – Simpatia sua e de outras pessoas que o vão manifestando que agradeço, mas que não é mais do que a reunião de diversos fatores. Desde logo estar a frente da Daniel do Nascimento e da Palha Blanco porque isso dá determinado estatuto e muito também trabalhar ao lado e com as pessoas certas que possuem características que nos fazem esse “ser capaz” mais possível. Sinceramente estou num momento que ser o mais capaz pode não ser o mais correcto mas quero lá estar e era importante que mais de nós quiséssemos todos ser os mais capazes pois isso levantaria sem dúvida a tauromaquia para patamares que eram desejados e precisos.
TeO – Falta-lhe o Campo Pequeno?
RL – Respeitando desde logo quem está, não ofendo dizendo que gostaria de experimentar ter o Campo Pequeno, a Palha Blanco e a Daniel do Nascimento ao mesmo tempo! Desculpem-me talvez dizer o que parece ser falta de humildade mas acho que podia construir algo muito positivo! Mas também só o faria com as condições para isso e ter possibilidade de ter os meios em que nada pudesse falhar para não depender de condicionalismos que adulteram vontades e saber! Se essas condições existissem não teria medo nenhum! Sentiria unicamente um enorme peso de responsabilidade pois quereria dar a todos aquilo que sinto que todos idealizam como aficionados ao toureio e ao toiro!
TeO – Sorte para o que resta de temporada e claro, para a Feira da Moita e Vila Franca e que por serem das últimas, ficarão na retina de todos.
RL – Muito obrigado!