O até dia 2 de agosto, secretário-geral da Federação Protoiro, Hélder Milheiro, veio esta segunda-feira, apresentar a sua “versão” para justificar a sua saída do organismo taurino.
O mesmo emitiu a seguinte nota:
Uma Explicação que é devida
Sinto que é meu dever explicar publicamente a difícil e ponderada decisão que tomei, a 2 de Agosto, de terminar a minha colaboração de 13 anos com a Protoiro, junto da qual estive desde o primeiro dia ao serviço da cultura tauromáquica.
Tenho como critério central na minha vida que devo colaborar com organizações que respeitam o trabalho, o esforço e os resultados alcançados, por via da competência e experiência profissionais, colocadas ao serviço dos objectivos comuns. Este critério é tanto mais importante quando se trata de uma causa cívica e não de um mero trabalho. Ora, na minha relação laboral com a actual Direcção da Protoiro, o critério que tenho como fundamental não foi considerado por alguns elementos, pelo que tive de concluir que apresentar a minha demissão era a única opção possível.
Foram 13 anos de enorme aprendizagem, só possível com as gentes do toiro, os seus valores e ética. Afinal, os valores que festejamos numa tourada.
Mas foram também 13 anos de grandes mudanças. Recordo algumas: a afirmação da Protoiro como interlocutor do sector, interna e externamente; o aprofundamento dos fundamentos da argumentação a favor da cultura tauromáquica, permitindo vencer debates públicos, algo escasso até então; a firme defesa e promoção públicas dos artistas e intervenientes, com grande impacto mediático nos principais jornais e televisões nacionais; o incessante trabalho de influência política, que permitiu uma correcta percepção da cultura tauromáquica, e evitar derrotas, a não ser no embate contra o governo acerca do IVA das corridas; a bem sucedida campanha contra a proibição de acesso dos menores às corridas de toiros; a afirmação da força do sector com o protesto dos artistas acorrentados à porta do Campo Pequeno, exigindo o regresso das corridas depois do confinamento; a demonstração de que ninguém pode proibir espectáculos tauromáquicos em Portugal, organizando 3 corridas de toiros em Viana do Castelo; e, no caso da Póvoa de Varzim, com uma batalha legal em que já obtivemos o reconhecimento do direito protegido pela Constituição da República Portuguesa à organização, participação e fruição de touradas. Importa destacar ainda, o reconhecimento internacional do trabalho feito pela Protoiro e o envolvimento na união estratégica dos países taurinos.
Nas grandes mudanças, terei também de sublinhar o apoio ao desenvolvimento do sector, por exemplo com a promoção da digitalização (bilheteiras online) ou o lançamento do Cartão Aficionado, um cartão de cliente com descontos na compra de bilhetes, algo único nos países taurinos, promovendo o acesso à cultura taurina. A criação da marca Touradas foi um marco para o sector, constituindo um dos pilares da comunicação da cultura taurina no país e fora dele, com cerca de 280 mil seguidores nas redes sociais e 100 milhões de visualizações de conteúdos por ano, tal como o Dia da Tauromaquia que se tornou numa celebração incontornável, aberta a todos.
Mais, a elaboração do Plano Estratégico para o sector, auscultando os intervenientes e incluindo uma consulta pública (algo também inédito nos países taurinos), permitiu desenhar um caminho viável e robusto; e assistimos ao regresso da tauromaquia a vários media nacionais como o Diário de Notícias, o Novo Semanário, o Sapo, algo que não se verificava há, pelo menos, duas décadas, isto além do trabalho realizado em parceria com os municípios taurinos. Todas estas ações foram realizadas a pensar nos cidadãos, nos aficionados, promovendo o conhecimento e o acesso à cultura tauromáquica.
Tenho consciência que muito fica por terminar, desde logo, o aguardado resultado das batalhas legais que ainda estão em curso sobre as praças do Norte, ou a recuperação da praça de Setúbal e a retoma das transmissões televisivas. De uma forma mais geral, é urgente a modernização do sector e da sua competitividade, a agilização e melhoramento do espectáculo e das praças, indo ao encontro dos consumidores do século XXI, bem como a recuperação de territórios taurinos e da promoção de novos talentos. Acredito que será bem sucedido o trabalho que está em marcha para a reposição do IVA dos espectáculos tauromáquicos em 6%, esperando-se que tal aconteça no Orçamento do Estado de 2025, caso seja aprovado neste mês de Outubro.
A estas e muitas outras necessidades responde o Plano Estratégico, concluído recentemente, e que agora necessita de ser posto em prática, sendo um elemento absolutamente vital para o futuro que todos devemos ambicionar.
Deixo o meu profundo agradecimento pela colaboração de todos: às Direções da Protoiro, aos profissionais, amadores, associações, media, voluntários e aficionados.
Sendo impossível identificar os nomes de todos, não posso deixar de referir o Diogo Costa Monteiro, grande obreiro dos primeiros anos da Protoiro, responsável pelo convite para a minha entrada na Federação em 2011 e o companheiro de muitas e duras batalhas, tal como o Afonso Farto; o Tiago Tavares, um exemplo da inteligência e da capacidade da aficion colocadas ao serviço desinteressado da Festa; o António Veiga Teixeira, um dos responsáveis pela criação da Federação e que durante muito tempo foi o guardião da sua visão, tal como o foram o José Potier, o Nuno Pardal e o Arlindo Telles.
Agradeço a honra de ter podido contribuir activamente para a valorização e salvaguarda da cultura tauromáquica, da cultura portuguesa, e da liberdade cultural em Portugal.
Termino como comecei, com o que disse na primeira vez que me sentei na mesa da Protoiro: “Estou aqui por imperativo cívico. Não me perdoaria se alguma coisa acontecesse à Festa e eu nada tivesse feito!”.
Para mim, o imperativo cívico continuará.
Helder Carvalho Milheiro
Um Aficionado