Acordei cedo. Afinal de contas, era dia de Festa!
Tantas coisas para organizar.
‘Mãe, o tempo está maravilhoso… boa!’. Claro está que em Agosto o feito por parte do São Pedro não é heroico, mas a verdade é que as alterações climáticas, de quando em vez pregam-nos uma partida.
Vesti-me, sem me engalanar para ir tomar o pequeno almoço à avenida. Nós por aqui, comodistas, já não a tratamos por Luísa Todi, fruto também de alguma intimidade criada ao longo dos anos…
A brisa da manhã ainda dá as caras, mas quando o “programa” inclui ir ao Mercado do Livramento, não são permitidos atrasos. O trânsito amontoa-se nas suas imediações. Todos querem o peixe mais fresco, os legumes “caramelos” (explico: da zona do Poceirão, Marateca, etc…) e claro, o pão da zona, ou melhor, várias zonas, todas as zonas das redondezas. Ah, e as flores, o marisco, a fruta…
Há turistas. Muitos turistas. Vêm de toda a parte. Além dos turistas, estão agora os setubalenses que já cá não vivem. Que um dia saíram à procura de uma vida melhor, mas que não perdem o Verão da cidade do Sado, do “rio mais azul” e platinado do mundo! Regressaram os emigrantes e depois de uma ida à Figueirinha, aos Coelhinhos, ao Portinho ou até mesmo a Tróia, desconfio, que à noite e depois de uma jantarada, vão parar ao mesmo sítio que eu.
Escolhido o jantar, comprados os melhores dos melhores alimentos, bora para casa porque há muito a fazer. Hoje vêm os amigos, a família, os aficionados, os colegas…
Rumo ao carro e de caminho a casa com janelas abertas, sente-se já o aroma a carvão quente como cama do peixinho assado. A sardinha, os salmonetes com molhos de ovas e para os mais audazes, o marisco… Para os puros, cheira já a Choco Frito!
Casa arrumada, janelas abertas, calor e petisco organizado. Chega a malta com o frenesim. É noite de touros. Mesmo que estivéssemos esquecidos, passou aqui à porta o carro do som… dá aquele friozinho na barriga.
Jantamos à hora do lanche. Ah pois, porque estacionar ao pé da Carlos Relvas, não é de todo fácil. Não esqueçamos que a “nossa menina” vive a paredes meias com o Hospital de São Bernardo e agora, mais longe da Feira de Sant’iago, a tal que serve de bandeira a cada candidato à Presidência da Câmara, mas cujos 4 ou 8 anos de mandato nunca são suficientes para devolver a Feira ao centro da cidade.
Agora sim. Vestidos a rigor (seja lá isso o que for) para a Corrida da Feira. A melhor das três integradas na Feira de Sant’iago. Tempo ainda para comer uma Torta de Azeitão e adoçar o café com uma casquinha de laranja cristalizada (conhecem…?). E o moscatel?
Lidam-se oito toiros. Temos noitada e casa cheia. Pega o Grupo de Montemor e toureiam Moura e Salgueiro! Tocam duas bandas, à desgarrada com savoir faire…
Na bancada, os melhores dos melhores aficionados. Vêm do Alentejo, da Moita, Alcochete, Lisboa… E os ilustres da cidade, claro, porque aqui e de cá, não há anti-taurinos. Ouve-se sim algo do género “Jean Pierre… olha o tôrroooo”…
Toca o cornetim, chamada à arena do primeiro toiro e raios, acordei e percebi que foi tudo um sonho!
Aqui, em Setúbal, já não há nada nem ninguém… A Carlos Relvas está a cair e aos Homens dos Toiros, não parece importar.