Escrevo estas linhas escassas horas depois de que Rui Salvador se despedira de Lisboa e minutos depois de que Enrique Ponce se tenha despedido de Bilbao, umas das praças que apelida de “sua”.
Desta equação, faz indubitavelmente parte Pablo Hermoso de Mendoza. O rejoneador navarro tem feito importante périplo pelos tauródromos mundiais, inclusivamente Portugal. De tudo o que até aqui aconteceu, foi em Évora onde maior emoção se sentiu e onde o toureiro se empregou também ele como se em casa estivesse.
Pois é este o tema de que fala este escrito e do quão importante é que os exemplos do passado vejam as suas trajetórias reconhecidas. Reconhecidas com os cartéis nos quais actuam, reconhecidas com as Homenagens não só das edilidades, das empresas taurinas, mas também e sobretudo, nas manifestações espontâneas, não programadas e completamente naturais como a que vivemos quinta-feira em Lisboa por parte de um público que se outrora chamámos de “festivo”, ora terá de ser apelidado de justo, conhecedor e sensível.
O que se passou no Campo Pequeno, faz-nos acreditar que ainda há esperança. O mérito é com toda a certeza de Salvador e de todo o valor e prestígio que soube arrecadar ao logo de 40 anos, contudo, o mérito escala para um público que na hora “H” sabe estar lá.
O mesmo se passou com Pablo por onde tem passado à semelhança de Enrique Ponce e da sua imensa lição de simplicidade. O que faltou ou falta a Ponce para ser um toureiro de época? Nada. O que faltou ou falta a Ponce para ter a sua independência financeira? Nada e reportagens recentes comprovam isso mesmo. Então porque raio Ponce, em Bilbao, nos brindou a todos com uma lição de humildade invejável? Falo de ter dado um abraço a todos os “arneiros”, porteiros, pessoal de praça no geral… isto numa aplaudida volta à arena, por entre gritos de “torero, torero…”. No meio disto, aqueles que reconhece como parte da tauromaquia há anos, por onde passou inúmeras vezes e que, em algum momento, mesmo sem triunfo lhe terão dado aquele abraço, aquela palavra, do alto da simplicidade das suas funções…
Pois por cá e por lá também, há muito que aprender. A soberania em determinada área da vida, não significa ser snob ou de nariz empinado e por cá, temos disso…
Foquem-se nos exemplos, chore-se de emoção e aplauda-se de pé aqueles que nos fizeram ser aficionados, que nos deixam uma marca e que sempre iremos recordar como parte de uma história muitas vezes desvirtuada por quem vem dar pouco nível a isto… Por cá, já não necessitamos de sombreros gastos, “charros” fumados por quem não deve, cá necessitamos viver o romantismo que a Festa ainda pode e deve ter.
Dito!