Vila Nova da Barquinha – Despediu-se (com troféu) um forcado, de seu nome, João Branco

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João Paulo Branco fardou-se e chegou a cabo dos Amadores de Riachos, passou pela formação tomarense, culminando a sua carreira de cerca de quinze anos de forcado nos Amadores de Azambuja. Despediu-se esta noite, com uma enorme pega ao primeiro intento, que acabara por vencer o Concurso de Pegas (cujo júri era composto pelos antigos forcados Mário Rui Paulino e Arnaldo Santos e por Paulo Beja), após reunir na perfeição e aguentar uma viagem turbulenta que culminou com uma forte pancada nas trincheiras, o que levou à sua quebra. Destaque para o bom desempenho da restante formação que o perseguia, que se fechou com galhardia, não impedindo, ainda assim, que o forcado fosse evacuado ao hospital com suspeita de vários traumatismos. Pela formação que acabara por vencer o concurso, a de Azambuja, pegou ainda Rúben Branco ao segundo intento.

A noite no que à forcadagem diz respeito não foi pera doce, chegando mesmo a corrida a ser interrompida, cerca de cinco minutos, por falta de ambulâncias no local, dado que tiveram de sair para evacuar vários moços de forcado ao hospital.

Ainda assim destacar a exemplar prestação dos Amadores da Moita, com duas pegas limpas à primeira tentativa, a segunda das quais tecnicamente perfeita, tendo avançado na linha da frente João César e Luís Chatinho, respetivamente.

No que toca aos amadores de Tomar, a noite foi negra. A liderança do grupo foi colocada em causa, dada a total desorganização evidenciada, havendo uma notória falta de ajudas, o que levou a que vários elementos saíssem maltratados. A segunda pega da noite foi efetivada à segunda entrada de cernelha, após três tentativas de pega de caras do forcado João Alves, que não conseguiu efetivar, sendo que a última pega do grupo foi consumada ao terceiro intento por Carlos Duarte, dobrando o forcado Joaquim Calado que por duas vezes tentou levar de vencido o oponente, tendo como primeiro ajuda um elemento que, infelizmente, não parece estar nas melhores condições físicas para desempenhar a função, dada a apatia demonstrada.

No que às lides equestres diz respeito, abriu praça o cavaleiro João Moura Caetano. Enfrentou-se com um toiro da ganadaria de São Martinho, que pese embora, tenha denotado bastante mobilidade, teve o defeito de se adiantar uma barbaridade no momento da reunião, dificultando todo o labor do ginete de Monforte. Houve mérito no entendimento do sítio, conseguindo-se desvanecer esta característica que, como se sabe, se pode tornar bastante negativa para o espetáculo. Não sendo uma atuação limpa de falhas, poder-se-á considerar uma atuação positiva, mas sem grandes motivos de destaque. Frente ao quarto da noite, com ferro de Paulo Caetano, um capirote, em castanho, calçado, João teve a virtude de o entender, levando a cabo uma faena plena de classe, temple e suavidade, cravando uma série de quatro bandarilhas curtas, em sortes com ligeira batida ao pitón contrário, com claro destaque para a terceira, onde consentiu a investida do oponente e cravou com garbo, en su sítio.

Duarte Pinto teve, hoje, uma das noites mais redondas que lhe vi nos últimos anos. Por vezes há uma série de condicionantes que afetam as atuações e, na verdade, tenho tido algum azar quando o vejo. Frente ao primeiro do seu lote, estreou duas novas montadas, cravando dois compridos, em redondo, para na fase de curtos elevar a sua faena. Citou de forma frontal, arrancando-se por direito, e deixando dois curtos de excelente nota, ao estribo. A rês acabou por ganhar uma forte querença junto aos curros, obrigando o ginete de Paço de Arcos a porfiar para deixar a ferragem remanescente. Cumpriu, ainda que abrindo ligeiramente mais o quarteio, o que levou a que as reuniões não fossem como, certamente, pretendia. Frente ao quinto da ordem, teve uma lide tecnicamente perfeita, mantendo firme aquele que é o seu conceito clássico, que não teve mais eco nas bancadas, dada a falta de transmissão e até de apresentação do oponente que lhe tocou em sorte.

O rejoneador Emiliano Gamero apresentou-se nesta Praça de Toiros, à beira Tejo plantada, com a vontade e alegria que o caracterizam. É inegável o som que o artista consegue gerar, tem montadas capazes de executar adornos interessantes, remata as sortes, na maioria dos casos, exibindo bons dotes técnicos, havendo, todavia, um claro problema no momento da cravagem. Bem sei que poderia ignorar este facto, mas não há lides sem reuniões e sem o momento da cravagem e sendo justo para com todos os colegas que analiso semana após semana com a mesma bitola e por uma questão, essencialmente de equidade, não o irei fazer. Começou por lidar o único de São Martinho, que procedia de um semental de Pinto Barreiros, mais manejável que os demais irmãos de camada, ainda que sem tanta mobilidade. Atuação pautada pela intermitência, onde entre uma passagem em falso que antecedeu a cravagem da primeira bandarilha curta e algumas passagens em falso para deixar os dois ferros em sorte de violino com que terminou a sua primeira aparição, acabou por ter um momento de maior acerto, cravando três bandarilhas curtas seguindo as regras do rejoneo, que tenderei a considerar de nota razoável. Frente ao último que saiu ao ruedo, berrendo em negro e que denotou excelentes qualidades e motivou a atribuição de volta de agradecimentos ao seu criador, Paulo Caetano, o rejoneador mostrou-se mais regular, deixando uma série de bandarilhas curtas, após bater de forma ligeira na cara da rês, que resultaram mais harmoniosas, tendo o azar de consentir forte toque na montada, no momento da cravagem do quarto curto da série, felizmente sem consequências a registar. Fechou a sua aparição com um ferro em sorte al violín de boa execução.

 O curro de toiros que, inicialmente, fora anunciado por seis toiros da ganadaria de São Martinho foi alterado para três desta ganadaria (que saíram na primeira parte do festejo) e três da ganadaria de Paulo Caetano (conforme anunciado junto às bilheteiras do tauródromo).

Destaque para um excelente trabalho do bandarilheiro João Pedro Silva “Açoriano” na forma como manejou os astados, essencialmente na preparação dos toiros para as pegas, momento em que foi fortemente ovacionado pelo público que compôs cerca de metade da lotação da Praça de Toiros.

A corrida foi dirigida pelo Delegado Técnico Tauromáquico Marco Gomes, assessorado pelo Dr. José Luís Cruz, sendo cornetim, José Henriques.

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