Moita do Ribatejo – Às vezes…

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A banda portuguesa, Xutos e Pontapés, refere que “às vezes, basta uma imagem, para nos dar coragem e continuar”. Esta estrofe poderá ser analisada por diversas faces de um prisma, que refletirá tanta luz, consoante a que queiramos ver.

Nesta que era uma corrida com diversos aliciantes, houve quem passasse uma boa imagem, quem refletisse apenas parte de si e quem tenha passado completamente ao lado, opacificando aquela que é a sua imagem de ‘figura’.

A reflexão total da luz ocorre quando o ângulo de incidência de um raio é superior ao ângulo limite, o que aconteceu, na verdade, com o grupo de forcados amadores do Aposento da Moita. Brilharam mais que todos os outros, aproveitando as poucas dificuldades criadas pelos oponentes, mas acima de tudo não complicando o que era fácil, estando bem desde o forcado da cara até aos ajudas que os acompanharam. Noite limpa, plena de eficácia, executando seis pegas ao primeiro intento. Avançaram na linha da frente: António Lopes Cardoso, Rafael Silva, Luís Canto Moniz, Leonardo Mathias, Martim Cosme Lopes e João Freitas, escrevendo assim a ouro mais uma bonita página da história desta proeminente formação.

Com alguma difração, resultado de uma menor rectidão e plenitude naquela que foram as suas duas atuações, surge como destaque a nível equestre, o cavaleiro praticante, Duarte Fernandes. Teve duas lides antagónicas. Na primeira, não fosse o toque consentido aquando da cravagem do primeiro comprido, que arriscou deixar em sorte de gaiola, estaríamos a falar de uma lide brilhante. Boa monta, bem na brega, melhor na preparação das sortes, exímio no momento da reunião e da cravagem, rematando a seu belo prazer, extraindo todo o suco que corria na rês que lhe coube lidar! No que fechou a corrida, um toiro manso, que se adiantava uma brutalidade e arreava sempre que via poder atingir a montada, Duarte não conseguiu superar as dificuldades, desenvolvendo uma lide intermitente, com algumas passagens em falso e toques, fruto de uma excessiva velocidade e vontade de resolver a papeleta, impedindo assim outro tipo de luzimento. Há atuações que não saem como desejamos e esta foi, claramente, uma delas. Se mereceu indubitavelmente volta no terceiro, no que fechou a corrida, uma saudação nos médios seria o mais indicado.

No que toca às figuras acarteladas que hoje se perfilavam, a verdade é que sofreram um eclipse, passando esta noite na penumbra, deixando pouco, muito pouco, a recordar.

A corrida teve a duração de 2h30, fantástico para o que costuma acontecer, mas fosse tido em conta a real qualidade das atuações, se evitassem voltas “oferecidas” e apenas se saudasse nos médios, estariamos a falar de uma corrida ainda mais curta e realista face ao sucedido.

João Moura Jr esteve pouco inspirado no primeiro de seu lote, havendo pouco discernimento no momento da reunião, que resultou aliviado e pouco cingido. O toiro não transmitia e não havendo emoção no momento do ferro, pouco poderei salientar. Frente ao que abriu a segunda parte do festejo o nível qualitativo elevou-se de forma ligeira, não se atingindo, ainda assim, o nível que nos habituou noutras tardes e noites, recentemente. Fechou com duas mourinas, a primeira das quais de boa nota, a segunda após passar em falso por uma ocasião, consentindo um toque no momento da ferragem.

João Ribeiro Telles teve a preocupação de tentar agradar, mas a verdade é que as tentativas de elevar o soundbite entre o conclave que preencheu cerca de meia casa forte do tauródromo moitense nem sempre foram bem sucedidas. No primeiro que lidou, não se limitou a cravar, bregando e preparando as sortes. O primeiro curto é de boa nota e merecedor de música, porém o nível não se manteve uniforme o que me impede de fazer grande destaque. Frente ao quinto, fico com a clara ideia que o toiro daria mais do que aquilo que lhe foi retirado. A lição trazida de casa de fazer uma série com batidas ao pitón contrário, culminada com dois ferros com o cavalo estrela da sua quadra, não resultou. O toiro tardava no momento da reunião, impedindo o devido ajuastamento na sorte, retirando o impacto pretendido. Com o Ilusionista, o público não reagiu como o cavaleiro da Torrinha pretendia. Ou por ter passado em falso, ou pelo toiro ter perdido as mãos no momento da reunião, a cravagem foi sendo adiada, desvanecendo-se a habitual aura que este momento acarreta.

O curro de toiros composto por três astados com ferro de David Ribeiro Telles e três de Joaquim Brito Paes estava bem apresentado, tendo como maior problema, a pouca transmissão. Não há emoção, o público adormece. E perante tamanha apatia, mesmo que algo de muito bom suceda, acaba por ser desvanecido, face ao mood sonolento que predominava.

A corrida foi dirigida com excesso de benevolência na concessão de música e de voltas de agradecimentos (mais uma vez, esta temporada, escrevo que urge a necessidade de criação de um lenço que permita apenas um saludo no centro da arena) pelo delegado técnico tauromáquico Tiago Tavares, assessorado pelo Dr. Jorge Moreira da Silva e pelo cornetim José Henriques.

Perante condições climatéricas adversas, face ao muito vento e frio que se fazia sentir, é importante que os intervenientes entendam a necessidade de passar uma boa imagem para que quem paga bilhete tenha a coragem e continue a deslocar-se aos recintos onde se realizam as corridas de toiros e a continue a sustentar. Às vezes… seja através de Xutos, seja através de Pontapés, sinto que a tauromaquia carece de uma maior cooperação e agregação para podermos almejar potenciar aquela que será sempre a festa que nos une! Não poderemos exigir que seja sempre o público a contribuir com a maior fatia.

Fotos: Daniel Cepa (CLIQUE PARA AMPLIAR)

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