Amanhã, dia de São Martinho, cumprem-se 97 anos do nascimento de um dos grandes Senhores da Festa, em Portugal.
Medalhado por Mérito Cultural, David Manuel Godinho Ribeiro Telles, nasceu num tempo distinto na verdadeira aceção da palavra. Um tempo de Homens com “H” grande, onde imperava a seriedade, a classe e a fidalguia, mesmo que esta última fosse proveniente da terra, do meio rural e de um círculo de valores tão restritos quanto genuínos.
Com larga dinastia por si criada, David Ribeiro Telles ou o Mestre da Torrinha, deixou legado. Filhos vários, sendo que dois deles chegaram longe na arte equestre. Deixou netos e neles e deles, jamais se poderá questionar a idoneidade da formação técnica, da índole clássica e de quando em vez, e em alguns dos casos, com carisma do que nasce com e não se ensina.
Mesmo que dotado de fantasia e alguma imaginação futurologista, o Mestre só não sabia, que esse mundo de fidalguia, a um curto prazo de tempo se transformaria num mundillo de oportunidades laicas, de surgimentos das trevas vindos de lantejoulas ou mesmo de calças modelo chino e ténis Golden Goose, onde o blazer e uma gravata, escondem a escassez de linhagem para “andar nisto”.
No seu tempo, a Golegã, servia para homenagear, passear, exibir e negociar o cavalo.
Hoje, a Feira Nacional da Golegã vive do negócio da imperial e para alguns, talvez do gin, mas vive também, do negócio de apoderamento, que é como quem diz, do almoço ou jantar onde se combinam não as estratégias de uma carreira, mas, os esquemas para colocar jovens toureiros na ribalta. Naquele tempo, contam-me, o que importava mesmo era saber tourear. Agora, contam as redes sociais, pagar para aparecer, sorrir com os clãs falidos. Sim, porque naquele tempo, ser-se toureiro era estatuto. Agora ser-se toureiro, é pensar que apoderado conseguirá preencher a agenda com corridas, muitas, demais, de um único toiro.
Hoje, fazem-se alianças de quem nada tem, com aqueles que não têm nada… mas que têm a fantasia de que a tauromaquia pode ser, de que ainda é uma forma de ganhar uns tostões, nem que seja, aldrabando, ludibriando, passando a perna.
David Ribeiro Telles viveu no tempo em que as modas eram outras. Agora a moda é pagar para que os blogs façam “deles” figuras importantes. E são! Serão lembrados como pessoas diferentes de Rogério Amaro, de Manuel Gonçalves e de outros tantos…
Noutros tempos, a Golegã taurina era a de Manuel dos Santos, do Ricardo Chibanga. Agora, é a de quem diz que vai fazer uma corrida e depois não a faz. Agora, os tempos são de fazer chegar escândalos à IGAC, a mesma que afinal de contas, não autorizou a realização de Festival nenhum. Agora, a moda é aquela em que se presume ser empresários de praças importantes que apenas dão quatro espectáculos e bem visto, já não é mais do que uma sala de espectáculos emprestada. Agora, os tempos são aqueles em que o cavaleiro aceita um apoderado, porque mesmo sem nível nenhum, lhe pagou um “gostoso” e “lavadinho” valor para o apoderar. Agora, os tempos, são daquelas, que não montam a cavalo mas presumem de ter um “salão de festas” na Golegã. Agora os tempos, são aqueles em que a APET bane uma empresa e bem em virtude de incumprimentos, mas não bane outros porque são veterinários ganadeiros e portanto, não houve a mesma coragem para os banir…
Hoje, 97 anos depois, vivemos um São Martinho que já não é o de David Ribeiro Telles, mas é aquele em que vivem os seus netos e bisnetos. Os mesmos, que já não sabem qual o rumo a tomar, numa tauromaquia desvirtuada e que corre o risco de ir… ladeira a baixo.