Perdoem-me a falsa intimidade, mas, na verdade sinto que a tenho. O Eça de Queiroz é o meu escritor favorito. Foi, é e desconfio que venha o que vier, sempre será… A capacidade de detalhar pormenores, de lhes conferir realidade, o tom romântico e à vez a capacidade de satirizar a vida social, foram as suas maiores virtudes. Até na vertente romântica, foi e é preciso coragem para contar os casos e casinhos de vidas imperfeitas, mas que aos olhos dos “outros” são contos de fadas… O amor do Padre Amaro, caso mais que real por entre a irrealidade que todos querem fingir que existe; as traições, amores e desamores dos casamentos perfeitos ao estilo do Primo Basílio ou os amores incestuosos de Os Maias, são histórias mais que atuais…
O que tem tudo isto a ver com a tauromaquia? Muito mais do que se imagina. O mundo tem que ser perfeito para ser vendável. Foi isto que Eça tentou destapar com clarividência e com a subtileza da sua escrita. Comparação em polo oposto. É isto que os taurinos tentam fazer há décadas. Uns acreditarão que é tudo perfeito, outros, em plena consciência, querem fazer de conta que assim é, para que o “livro da tauromaquia” não saia beliscado nas suas aparências. A verdade é que na Tauromaquia, os casos de amores e desamores, também os há. E são tantos…
Se a passada temporada ficou marcada pelo forte amor que uniu Pombeiro e a Toiros com Arte, este ano, a coisa “foi-se”… Houve traição? De quem? Novos amores que marcarão um verão quente ao mais puro estilo teenager? Ventura vai ao Montijo, numa data que marca assim o regresso do rejoneador a Portugal. Não era para ser em Lisboa? Ressabiamentos dos empresários? Vontade de agradar depois de promessas não cumpridas pela Toiros com Arte que na temporada passada prometeu Pablo e afinal, por ali, nem vê-lo?
Pois bem. Há mais… e aqueles que insistem em dizer que Levesinho está falido? Serão os mesmos que irão à esmola do bilhete familiar? Aqueles que escrevem muito fora do tipo Eça e mais em modo do pasquim que vende notícias?
E agora o pasquim, como defenderá Charraz (porque terá de o fazer, passando a ser dinâmico…), se antes estava impedido de o fazer por um apoderado com fortes ligações a este último? Amores e desamores, verdades, mentiras, traições…
Viremo-nos para o Alentejo. Para a força desmedida dos senhores feudais. A verdade é que Eça tinha uma preferência visível pelas sociedades modernas, dos “senhores” dos grandes meios urbanos e das suas vidas perfeitas. Mas como escreveria Eça sobre as vidas perfeitas do Alentejo, os que compram as regras que lhes convém, em nome de um endeusamento de causas. De uma causa taurina ilegal, quando tudo o que se quer, é que seja verdadeira, sem pontas soltas, sem nada que se apontar. Foi o TouroeOuro que teve a coragem demais que repudiar, apelidar a realização de um espectáculo sem policiamento, como ilegal. Não o era? Claro que era. Só “os pés em ramo verde” são suscetíveis de multas, de sanções… Joaquim Grave representa neste momento, a tolerância afeta aos senhores feudais, os ricos de “força” acima da lei, tão próprios dos países de terceiro mundo.
Surge-nos a questão mesmo correndo o risco de que circule num grupo de whatsapp algo do género “lá estão aqueles filhos da p… outra vez”… E a APET, como conduzirá esta questão? Terá argumentos para tratar da mesma forma que tratou o caso “Golegã”?
Pois bem, o mundo tal como Eça o viu, continua quase, quase na mesma… As histórias do bem parecer mais que ser, é o que vale! Só não contem connosco para vender este mundo perfeito. Não que queiramos um lugar no Panteão, mas porque acreditamos que o mundo só pula e avança, com a verdade, a correção, cumprimento de regras e que tudo isto, deve ser igual para os grandes criadores de touros, como para o novel empresário ali da esquina.