Não sou, nem nunca fui adepta de radicalismos em sector nenhum da vida. Nada tem de ter apenas duas cores, podendo ter matizes diversos; nada terá de ser oito e oitenta, porque existem muitos “conjuntos” de algarismos no meio; nada terá ser vivo ou morto. Não sou adepta de feminismos exagerados porque sempre me achei capaz de igualar a um homem nas tarefas essenciais do quotidiano e muito mais no que concerne às faculdades da mente e sobretudo, sou liberal em muitas das apelidadas “modernices de género”.
Sempre tive como lema, sermos felizes, como der, quando der e disso não abdicarmos, desde que a nossa felicidade não interfira com a felicidade dos outros.
Não sou contra ciganos. Acho-lhes até donos de uma riqueza cultural vasta e portentosa que pode e deve ser respeitada sempre que se derem ao respeito. Não sou contra a emigração, não porque precisamos de braços de trabalho, mas principalmente porque de forma mais que comprovada, o mundo segue no caminho da pluralidade e não da segregação. Mas gosto de regras. Gosto de cumprir os mandamentos mesmo que, com eles não concorde.
Nunca fui de furar a fila do pão ou da segurança social. Nunca usei da cunha no que quer que seja. Sempre paguei impostos e dentro deste conceito, irrita-me a falta de autoridade da Polícia sim. Irrita-me não poder passear sem medo no centro de Lisboa, sim. Irrita-me ir a um restaurante e ter de me adaptar linguísticamente a um idioma que não tenho de falar só porque quem me atende, não sabe o que é uma garrafa e sim, uma botella ou uma bottle de água.
Também devo confessar que, odeio ver tratar alguém por “tu” como no tempo da ocupação das antigas colónias, só porque é mais novo ou financeiramente menos abastado, odeio olhar de lado das “tias” para alguém que vista roupa da Primark e não da Carolina Herrera, mas odeio sobretudo, aqueles que acumulam isto tudo num pacote só…
Baralhados? Pois, não se preocupem que não falo de política, falo de ideologias e sentimentos. De verdade e mentira. De cumprimento de regras ou anarquia.
Surge-me uma pergunta. Porque é que a Direita que defende o cumprimento de regras e se coloca ao lado da força policial, é a mesma que, é capaz de mais facilmente e com total desfaçatez furar os mandamentos da vida em sociedade?
Pois bem. Se no passado ano fui visivelmente contra a realização do festival de Mourão por ser concretizado fora da Lei, ou seja, sem força policial e sem a autorização da Inspeção de Atividades Culturais e a sua respetiva representação, também serei contra às voltas que o mesmo empresário está a dar para realizar o espetáculo este ano, sem autorização para o fazer.
Poder-me-ão dizer que, a atribuição a outra empresa é lícita. É de facto. Mas é uma valente camada de estrume em cima do que ficou decidido pela IGAC e um contorno enviesado da legalidade. É só nojento.
Repito. Os que defendem a operação policial no Martim Moniz da forma que foi feita, não podem (a mesma fação) defender que se coloque estrume “em cima da cabeça” de quem ditou a penalização imposta ao Sr. Dr. Joaquim Grave.
É assim que faremos com a que a tauromaquia seja respeitada?
Ou seja. Devo deduzir que: se um branco roubar uma carteira no Martim Moniz, deve ser punido com uma advertência. Mas se for um amante de caril, mais bronzeado, terá de levar uma bastonada e ser encostado à parede. É isso?
E a APET? Fez ou faz o quê para não perder seriedade. Legitimidade. Idoneidade. Está subjugada a quê? A quem?
Sugiro ao Sr. Dr. Joaquim Grave que no próximo ano realize o “seu” espectáculo no Martim Moniz. Aí, terá policiamento e mandará com as suas regras, num ambiente que ora parece propício a certos espetáculos ilegais como o do ano passado.