Bem sei que o que vou aqui escrever pode levantar questões de aceitação ou ser no mínimo, politicamente incorreto. Custa, preocupa, mas é aceitar que dói menos e eventualmente, tentar mudar este conceito…
Este artigo poderia ser sobre qualidade, mas não é. É sobre deferência, protagonismo e até eventualmente gratidão por um passado dourado.
Ouve-se de quando em vez, que “nenhum filho de toureiro é melhor que os seus respectivos pais”… Juro que não quero entrar por aí. Os tempos mudaram, os estilos e abordagens ao toureio mudaram, as características dos toiros também se alteraram e em consequência, tudo o resto. Contudo, temos de admitir, que os pais dos “nossos” meninos, os que viveram num tempo em que não havia redes sociais e divulgação massiva, tiveram a capacidade para se “vender” muito mais do que “estes” que agora pensam que uma boa foto que circula por aí, vale tudo… O problema é exatamente esse. Vamos a uma praça de toiros à procura desse momento, que afinal não passou de uma ilusão óptica. Ilusão porque esses momentos são já fruto do acaso.
O toureio de agora, vai formatado de casa. Vai pensado. Estudado, deixando-se o improviso para os treinos em casa. O toureio de agora, não arrisca um pelo. Está tudo calculado, a meias tintas… Os toureiros de agora especializam-se em determinados encastes e com esses que são os seus preferidos, fazem maravilhas, mas, quando assim não é, sente-se o desconforto.
Jamais poderei sentir qualquer tipo de emoção, ao ver um toiro à corda, a ver um toiro que não está rematado e que não passa a ideia de que até eu conseguiria fazer aquilo.
A facilidade ainda que aparente tem de ser abolida. O risco tem de voltar a fazer parte de um cardápio taurino.
As batidas ao piton contrário não podem ser feitas “cá atras”. Se um toiro não investe, então que se vá para cima dele. Bate e pode haver acidente, pois que seja. Mas que seja pelo risco e não pela incompetência de ter tudo calculado.
O toureio não pode ser fruto de uma inteligência artificial, mas sim de um sentimento natural e que se renova a cada enfrentamento com um toiro.
Porque será que passados quarenta anos, quarenta e cinco ou mais, o público ainda venera João Moura, Paulo Caetano, António Telles, João Salgueiro e outros…?
Porque será que a actuação de Paulo Caetano em Vila Viçosa foi de todas a melhor?
Porque será que três ferros de João Moura em Santarém fizeram explodir uma praça que até então não tinha acontecido?
Pense-se nisto… E mude-se qualquer coisa. Isto não é saudosismo. É a mais pura das verdades.