A corrida anunciava-se como de tributo aos pais, sendo que toureavam os filhos e faz todo o sentido que assim seja. Faz todo o sentido, claro está, a homenagem, sobretudo para pessoas da minha geração e de outras que puderam e tiveram o privilégio de ver actuar os Homenageados. Foram eles João Moura, Paulo Caetano e João Telles.
Oh tempo volta para trás e é isto que me ocorre dizer. Saudades, muitas saudades de um tempo que não sei se foi melhor, mas foi indubitavelmente fantástico. Ficam as opiniões para quem de direito, ou seja, os aficionados que quiserem opinar e comentar… Os toureiros do “antes”, foram melhores que os seus filhos?
Eu tenho cá a minha ideia, mas com ela ficarei. Por agora. Porque agora interessa comentar o que se passou hoje e hoje, os três toureiros estiverem muito fiéis ao seu conceito, mas, diria que roçando o tom pouco mais que morno…
João Moura Caetano lidou o primeiro e o mais pesado da corrida e quiçá esse peso tenha carregado as poucas intenções do oponente face ao labor do toureiro. Caetano andou bem, com cites alegres, deixando a ferragem de forma muito positiva. Contudo, foi no segundo que mais se destacou, sobretudo quando montou o Campo Pequeno. Toda uma plasticidade e cadência, com o cavalo a dobrar-se como só ele. Boas bandarilhas e bons remates, numa lide bonita.
João Moura Júnior foi talvez o mais redondo dos toureiros em praça e também, sem abandonar o estilo que abraçou desde que se fez toureiro. A brega foi dominadora, ladeada e com profundidade, sendo que se destacam os dois últimos curtos da segunda actuação, com o toiro muito fechado em tábuas. Esta última foi a sua exibição de melhor nível e repito, o labor mais destacado do festejo se analisarmos o “todo”.
O último João em praça foi o da “casa”. Cada vez mais se nota que o público idolatra e respeita o cavaleiro da terra. O carinho e o mimo com o ginete são evidentes a todo o instante.
João Ribeiro Telles brilhou no primeiro, como uma atuação completa, com epílogo num violino e palmito, um “número” que sempre que pode leva a Coruche como marca, a sua marca. Na segunda actuação, foi receber o toiro à porta gaiola, sendo que depois de ferros de nota regular, deixou duas bandarilhas com o Ilusionista, sendo que o primeiro foi de muito boa nota. Contudo, conta-se o terceiro curto da primeira actuação, como o ferro da tarde.
As pegas estiveram por conta do Grupo de Forcados Amadores de Coruche, que uma vez mais e cumprindo a tradição, levou a efeito aqui a sua encerrona anual, numa corrida que resultou dura.
Para a cara dos toiros e por esta ordem, foram os forcados João Prates (Cabo), consumando à primeira boa tentativa; João Formigo, à sexta e a sesgo; Afonso Freitas, à primeira; Martim Tomás, à primeira, dando emotiva volta à arena com o seu pai, Alfredo Tomás, pela importante primeira-ajuda dada nesta função; António Tomás, ao terceiro intento e; Pedro Galamba, ao terceiro.
Lidou-se um curro de toiros bem apresentado da ganadaria Dr. António Silva, com imponência e que na maioria das reses, apenas serviu em tom regular. Destacou-se positivamente o quinto da ordem.
Duas notas importantes. A primeira dando conta de que foi cumprido um minuto de silêncio em memória de dois antigos forcados da formação coruchense, falecidos recentemente e a segunda; que os toiros foram recolhidos de forma muito positiva pela dupla de campinos a cavalo, composta por Janica e Henrique Pinheiro.
O festejo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Marco Cardoso, assessorado pelo Médico Veterinário, José Luís Cruz.
Fotos: João Dinis
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