Lisboa esteve e está triste. O luto municipal sente-se nas ruas da capital, sente-se nos rostos, nas conversas… As vítimas do acidente do elevador da Glória, estiveram no pensamento de quem sente Lisboa, de quem vive Lisboa mesmo que nela não viva. Andrés Roca Rey, devolveu à capital e ao Campo Pequeno em particular, a glória do triunfo, fazendo justiça à sua condição de máxima Figura do Toureio.
O seu triunfo começa quando Esgota de forma aparentemente fácil as praças por onde anda. Roca Rey esgotou Lisboa. A sua Glória, pouco depois, ao dar tudo mesmo e quando parece impossível.
Palavras maiores têm de ser dirigidas à Banda e da Escola de Música da Santa Casa da Misericórdia de Arruda dos Vinhos que abrilhantou o espectáculo e que acompanhou com luxo as atuações de Roca Rey e as restantes. A escolha dos pasodobles foi magistral, iniciando com “Manuel dos Santos” em cortesias, na corrida que assinalava o centenário da sua morte, bem como ao tocar “Virgen de Macarena” e “La Concha Flamenca” de forma absolutamente icónica, motivando, imagine-se, uma ovação no fim desta última exibição.
Voltamos a Roca Rey, ao seu traje oportunamente negro e ouro e ao seu semblante ainda de menino, mas menino sábio, menino estrela, menino com técnica, com pundonor. Se a sua primeira passagem pelo Campo Pequeno há uns anos atrás não marcou, esta sim marcou e muito positivamente quem teve a honra de ali estar. Primeiro lidou um Hermanos García Jiménez, depois um Garcigrande. Toiros rematados, com presença adequada à dignidade do evento. Bem Roca Rey de capote em ambos. No primeiro mais variado em passes, num quite em jeito de medley onde houve de tudo. No segundo, por veronicas com o seu cunho pessoal. De muleta, no primeiro sem brindar, no segundo, brindando a José Luís Cochicho. No primeiro, inventando e recriando-se; no segundo, criando. Em embos, faenas de paciência por parte do diestro. Sem pressas ou pressões, apenas construindo aquilo que para muitos poderia ser dado como absolutamente incerto. Sacou o que havia para sacar e ainda nos conseguiu fazer passar a ideia de ligação mesmo e quando os toiros não permitiam. Os seus improvisos “inesperados” não faltaram. Passes pela direita, pela esquerda, toureio em redondo, passes de peito… Noite de Glória, voltamos a dizê-lo! Ah… e sem voltas à boleia de qualquer coisa…
A noite de corrida mista, pressupunha um duelo entre Francisco Palha e Guillermo Hermoso de Mendoza.
Francisco Palha fantástico, no melhor da sua temporada mas quiçá também, numa das suas melhores noites no Campo Pequeno. Seguro em ambas as funções, com um toureio muito frontal, “estranhamente” seguro, com ferros de levantar praça, como de resto aconteceu. Sempre que pôde deu vantagens aos toiros. É assim que tudo vale a pena… Noite, noite das que contam.
Guillermo Hermoso de Mendoza teve por diante os dois toiros pesados, sendo que ao primeiro sobravam quilos, condicionando a vontade que tinha, mas o peso que tinha que suportar sempre que tinha de se mexer. Guillermo andou bem, variado e entregue, sobretudo nas bandarilhas, quando montou o Berlín, com ele levando a efeito as vistosas hermosinas. Frente ao segundo, um sobrero da mesma ganadaria, optou por uma função onde as batidas ao piton contrário foram o fio condutor. A segunda bandarilha foi de grande nível. Terminou com algum desacerto na tentativa de deixar a duas mãos um par de palmitos.
As pegas estiveram por conta do Grupo de Forcados Amadores de Alcochete e Aposento da Moita, sendo que foram consumadas, todas ao primeiro intento, numa noite importante destas duas formações.
Pelos Amadores de Alcochete, foram na linha da frente, os forcados Vítor Marques e Miguel Direito.
Vestindo a jaqueta do Aposento da Moita pegaram de caras os forcados André Silva e Luís Canto Moniz.
Os toiros de António Raul Brito Paes tiveram em alguns casos quilos a mais, mas na generalidade cumpriram.
A crónica não pode terminar sem que se diga que foi cumprido um minuto de silêncio em memória de Manuel Trindade, Joaquim Maria Mendes, Carlos Galamba e o saudoso, Manuel dos Santos, bem como por ocasião do equador do festejo, foram prestadas homenagens a Manuel dos Santos, Andrés Roca Rey e Aposento da Moita.
Mas ainda mais emocionante, foram as cortesias da corrida, com os dois grupos de forcados a envergarem uma lona com o rosto de Manuel Maria Trindade. O público ovacionou de pé por largos momentos.
O festejo foi dirigido de forma diligente pelo Delegado Técnico Tauromáquico Ricardo Dias, assessorado pelo Médico Veterinário, Jorge Moreira da Silva.
















































































































