Ser ousado, não foi sempre um direito adquirido.
Deus me livre falar aqui de Abril. Não me apetece, não é o tema… Falar de Abril e em concreto, Abril de 1974, daria “pano para mangas” e repito, não é o tema. Mas quero falar de liberdade e sobretudo da ousadia de se ser quem se sonha ser.
Nem sempre é fácil alimentar a alma com o que ela nos pede. O pudor de pensar diferente, pesa. Pesa ainda. Menos que noutros tempos, é certo!
A má fama de se ser ousado, pode ter um preço a pagar. Elevado preço a pagar. Pense-se em Amália Rodrigues. O seu tom boémio aliado à sua condição de artista não a livrou de biografias menos elegantes. Contudo, acredito eu, que estivesse literalmente a “borrifar” para isso.
A liberdade de ser quem era, de fumar, beber, namorar, viver, cantar, fizeram-na existir livre e solta… e isso, não tem preço.
Morreu ontem, um ícone dessa liberdade. A liberdade de se ser político, advogado, mas amar o jornalismo, essa “arte” tão incompreendida e porque não dizê-lo, tão boémia, tão sem hora e de tanto poder. A imparcialidade, tal como a liberdade, custa caro. Muito caro. Um preço que infelizmente nem todos podem pagar.
Francisco Pinto Balsemão, fez pela Liberdade de Imprensa, aquilo que ao tempo era ousado. Que hoje, é ousado.
A liberdade de emitir opinião, de contar factos mesmo que eles transformem a vida do jornalista num turbilhão de problemas, é uma obra de arte das mais difíceis de pintar.
Uma vénia a este homem que viveu com profundo amor ao jornalismo. Uma vénia à sua “Carteira de Jornalista Nº18” e sobretudo, uma vénia por ter conseguido, rigor, classe e elegância num mundo que hoje, continua a ser desrespeitado.
A todos aqueles que dão um estalo a um jornalista por ter escrito “a” ou “b”, que ameaçam e que intimidam quem faz da informação a sua vida, não chorem hoje, não lamentem hoje, o desaparecimento de um ícone cuja formação intelectual, apenas Vos pode diminuir.
Nós, todos os que sentem o jornalismo como uma paixão, e a liberdade de expressão como um direito, estamos hoje, mais pobres pelo desaparecimento de Francisco Pinto Balsemão, mas abençoados por viver depois “dele” e herdar um grão de areia da sua pioneira obra.
Que em paz descanse!