Como se diz na gíria tauromáquica, um “casão” foi aquilo que teve a Arena D’Évora (quase casa cheia) no que à entrada de público concerne. Com a tempestade “Benjamim” a não dar as caras pelo menos nas horas que antecederam a corrida, o público afluiu para ver o cartel com que se encerrava a temporada.
Diversos conceitos e estilos, idades e até uma despedida marcavam os atrativos, bem como a competição entre grupos de forcados vizinhos.
A cavalo, claro está, actuaram João Moura, Marco José, Gilberto Filipe, Manuel Telles Bastos, João Salgueiro da Costa e António Prates e comecemos, por “aquele” que este ano decidiu por ponto final à sua carreira de trinta anos enquanto cavaleiro profissional.
Marco José Dias Coutinho, não é eborense, nem tão-pouco nasceu no Alentejo, contudo, é na cidade-museu que vive e foi aqui que resolveu lidar um toiro pela última vez. Esteve bem, sobretudo no que decorreu do equador da sua actuação em diante. Marco foi-se confiando aos poucos, evoluindo na lide e deixou para trás os primeiros momentos mais intermitentes e que mais não teremos que compreender, face ao contexto. Terminou com bons curtos, violinos e palmo, com alegria e sentimento. Brindou a seu Pai, desfrutou e passou essa “ideia” ao público, a de viver aqui, o culminar de uma paixão. Despediu-se também e porque o binómio “contou consigo” não apenas hoje, mas muitas tardes e noites, o cavalo Girassol, um “amigo” de uma vida.
E de despedidas não foi só. Francisco Paulino, toureiro de prata ao “serviço” de Marco José, despediu-se também das arenas, sendo o seu próprio ginete a cortar-lhe a coleta.
Vamos aos restantes porque não foram poucos. Uma corrida é feita de pormenores e muitas vezes de um todo que não se encerra num único espectáculo. João Moura é um todo, um caso de estudo, um caso de tantas coisas… Évora é para si talismã e não gosta de ficar para trás. E não ficou. Lide corretíssima e mais que isso, bem de verdade, em todas as abordagens, nas reuniões e sobretudo no terço final da lide, onde nos fez matar saudades e pensar nesse “todo” e nesse “tanto” que é. Terminou com um palmito e ladeios a rematar. Bem de verdade, depois de seis décadas de vida.
Gilberto Filipe é o toureiro certo para quem gosta de movimento, lides sonoras, variedade… Bem nos compridos e bem com um toiro que não complicou em nada. Pelo contrário, ajudou em muito ao tal ritmo que gosta de imprimir o toureiro da Atalaia. Entradas ao piton contrário, violinos, palmo e ausência de cabeçada. Foi isto e ovação estridente.
Manuel Telles Bastos é certo que não foi bafejado pela sorte, mas a clarividência e inspiração também não foram suas companheiras. Actuação com ausência de música e do que contar, a não ser que deixou a ferragem da praxe.
O segundo de dois toiros de Jorge Mendes saídos à arena, conferiu vivacidade à lide, exibindo mobilidade e “som”, ainda assim com uns “requintes” de mansote, mas que em nada condicionaram a lide.
Depois de corretos compridos, João Salgueiro da Costa levou a efeito uma atuação que poderia ter sido completamente redonda caso o seu “tom” não tivesse vindo um pouco a menos na parte final, contudo, o primeiro comprido terá que ser lembrado como se não o melhor da corrida, um dos melhores, cumprindo Salgueiro todos os mandamentos do toureio.
António Prates protagonizou aquela que foi quiçá a mais “perfeitinha” exibição da tarde. Cuidado na escolha de terrenos, critério nas reuniões, arte na brega, linha e fio condutor numa função com princípio, meio e fim.
As pegas estiveram por conta de dois grupos de forcados que além de alentejanos são vizinhos, Montemor e Évora.
Para a cara dos toiros, vestindo a jaqueta rubra dos Amadores de Montemor, foram: Joel Santos, José Maria Cortes Pena Monteiro com uma grande pega(com grande ajuda do seu irmão António Maria Cortes Pena Monteiro) e José Maria Marques. Todas as pegas foram consumadas à primeira tentativa.
Vestindo as ramagens dos Amadores de Évora, pegaram: Martim Lobo, ao quarto intento; João Maria Cristóvão, ao primeiro excelente intento e; Henrique Burguete, à quarta tentativa.
Lidaram-se quatro toiros de Fontembro, que serviram com destaque negativo para o lidado por Telles Bastos e dois de Jorge Mendes, que “cumpriram”.
O festejo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico António Santos, sendo assessorado pela Médica Veterinária, Ana Gomes, sendo cumprido, um minuto de silêncio em memória do malogrado forcado falecido recentemente, Rui Souto Barreiros.
Fotos: João Dinis































































































































