O TouroeOuro regressou à Praça de Touros de Moura, para assistir e contar o que se passou num dos mais emblemáticos tauródromos alentejanos. As Festas em Honra de Nossa Senhora do Carmo são um marco na região e a prová-lo as largas centenas de pessoas na rua, em alegre e saudável convívio.
A tauromaquia alentejana ocupa parte importante do património aficionado e é preciso estimá-lo e cuidá-lo com afinco. Com início às 21h30 e cartel de qualidade irrepreensível, Moura registou uma boa entrada de público, algo por entre os dois terços e os três quartos, de um público que é inequivocamente adepto de forcados mas que ontem, vibrou e muito com Miguel Moura.
A entrega real não discuto, mas a verdade inegável é que os toureiros têm os seus palcos preferidos e muitas vezes, mesmo que não se consigam dar conta, têm as suas preferências e a mente sejamos francos, comanda a inspiração. Foi assim ontem com Miguel Moura e só… entenda-se que por entre uma arena escura, e uma iluminação artificial quase inexistente, foi Miguel Moura o único capaz de levantar o conclave dos seus lugares. As outras palmas, foram porque sim…
Miguel esteve simplesmente colossal nos dois touros distintos que lidou. O conceito foi o mesmo, mas a clarividência na forma de os lidar, ditou um triunfo diferente por cada um. Frente ao primeiro, um toiro que ainda que não um bravo de bandeira, teve som e alegria, acorrendo aos cites desde os vários terrenos, Miguel desenhou uma “faena” de antologia e que por bem lidado, conduziu o ganadeiro à volta à arena. Digo com justiça porque se um bom toiro pode destapar um toureiro, um toureiro também pode fazer brilhar um toiro. Foi isto. Uma comprido em sorte de gaiola, com o toiro a perseguir a montada de Miguel com voltas e voltas à arena… Público em pé. E outra vez com outro soberbo comprido. Nos curtos todo um recital de bem reunir e cravar, de ladeios e remates inspiradores.
Frente ao segundo, um toiro mais dentro do tipo dos restantes, voltou a armar o taco. Desta vez a passo, a estudar e medir, a crescer, a templar, a mandar… Outra grande actuação e como a anterior, com término num palmito. Público rendido a este grande toureiro, que não leva treino, mas não ensaio. Que leva arte, mas não a cena gravada. Não se desarma, mas que não levava armadura.
Fantástico de verdade. Duas lides completas das que valem uma temporada. Para ele e para quem viu e dificilmente verá melhor…
João Ribeiro Telles e Francisco Palha não tiveram sorte com o chamado sorteio. Contudo, perdoem-me ambos mas faltou a tal ponta de inspiração. De luz intrínseca. Alguns erros que para toureiros diferenciados não deveriam ter acontecido. Tudo resultou em cumprir as sortes, de forma digna, com um toque ou outro para ambos os intervenientes, alguns mais violentos que outros, mas enfim… cumpriram.
Resta apenas dizer que o segundo toiro do lote de João Telles foi substituído pelo sobrero, que quiçá, foi pior… congestionado, visivelmente debilitado, refugiou-se junto da porta dos curros e de lá não saiu. Telles apenas cravou o possível, a sesgo.
As pegas estiveram destinadas a dois Grupos de Forcados Amadores do Alentejo: Real de Moura e Beja.
Pelo Real Grupo de Moura, estiveram na linha da frente os forcados João Ferreira, consumando ao primeiro intento; Alexis Lafond, ao segundo e; José Maria Costa Pinto, também à primeira tentativa.
Vestindo a jaqueta de Beja, pegaram de caras Fernando Caixinha, à primeira tentativa; Manuel Maria Vicente, ao terceiro intento e; António Aleixo e Nuno Vitória, a resolver prontamente de cernelha, devido à escassez de mobilidade do toiro, sendo de resto, esta a única forma possível.
Os toiros de Lima Cabral não resultaram, sendo apenas o terceiro muito bom, com a sorte de ter por diante um toureiro que lhe acutilou o bom que levava dentro.
O festejo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Domingos Jeremias, assessorado pelo Médico Veterinário, José Miguel Guerra.
Fotos: João Dinis










































































