Não sou de ferro.
Admito as minhas fragilidades para que, com elas me torne mais forte.
Não sou mãe, mas imagino o que é sentir uma dor dificilmente maior que esta. Mas sou gente. Gente que sente, que congela e aquece com as duras realidades da vida.
O Manuel Maria Trindade tornou-se o maior protagonista da noite de sexta-feira. Uma noite longa demais para quem sabia o que se estava a passar. Vi com ânimo João Pamplona. Até ali estava tudo bem. A noite ia ser festiva e variada em conceitos e estilos. Homenagens. Tantas coisas… Mas pouco depois da primeira pega, o tom mudou para quem ia recebendo notícias pesadas. Confesso que me faltou a paciência para ali continuar e escrever… Fi-lo por missão e para não criar alarmes. Mas só. Hoje admito que apesar de me sentir em dívida com todos os que nos seguem, não consegui escrever sobre uma corrida que não vi. Estive lá. Mas não vi. Vi muito mais claras as horas que se seguiriam…
Sou crente. Pedi e muito à Virgem de Guadalupe que o desfecho pudesse ser outro.
A viagem até Setúbal pareceu-me longa. A noite incómoda e o sono atrapalhado.
Enquanto jornalista já vivi isto vezes demais. O Nuno Carvalho, o Pedro Primo, Vítor Barrio, Fandino, Fernando Quintella. O toiro, o toureiro, o forcado, a fragilidade humana aliada à resistência da mente, do amor à Festa. Pensamos, analisamos e vem a confiança de que um dia chegarão as respostas… As respostas a tudo isto que em tantos momentos não nos faz sentido. E que em tantos outros nos dá alegrias.
Manuel Maria Trindade, não errou. A pega foi impecável. Tão enorme como a jaqueta que levava vestida. Forte. Inteiro. Entregue e entregado ao triunfo que iria ser seu. E foi.
O triunfo do Manuel foi assumir desde miúdo que era predestinado a pegar toiros. O triunfo do Manuel foi sonhar que a superação é um dos caminhos dignos no seu caminho. O triunfo do Manuel foi ser gigante sem julgamentos. O triunfo do Manuel foi mais uma vez unir a Festa em torno de uma causa comum. Amor à tauromaquia. Amor aos “seus”.
Manuel Maria Trindade ainda por cima, com a sua cara “de puto reguila” prendia atenção facilmente… Cara de “gaiato” feliz. Gaiato, como se diz no nosso Alentejo.
Manuel Maria Trindade marcará São Manços. Marcará o Campo Pequeno. Marcará a tauromaquia e os nossos corações.
São Manços. Que exemplo de uma terra, de um povo, de uma só família. O cancelamento da corrida e das Festas diz tanto deste Alentejo carregado de valores. Seria tão fácil cair na tentação de encher uma praça. Afinal provou-se, provaram que não vale tudo.
Manuel Trindade passou a ser todo o significado maior de uma corrida da qual não me apetece falar. Da qual não consegui escrever.
Acredito que Manuel se junte aos grandes nomes que como ele foram eleitos para partirem a pegar toiros e que juntos formem um grupo capaz de grandes pegas, com ovações estridentes. Ouve os nossos aplausos.
Curvo-me a ti Manuel.
Curvo-me à tua paixão.
E perdoa a quem não sabe o diz. Tu que és desta geração, sabes que a internet é um mundo terrível, capaz de tudo onde nunca se jogará um “frente a frente” como tu eras capaz tendo um toiro por diante.
Perdoa! E dá força aos teus companheiros, Família e amigos.
Um beijinho.