Passaram escassas 48 horas desde que se viveu um dia que marcará a história do toureio, da tauromaquia e até as nossas próprias histórias de aficionados.
Quantos de nós, onde eu me incluo, tivemos a sorte de ver estes três “monstros do toureio” em separado ou melhor ainda, num só cartel… Vivemos tempos dourados de uma tauromaquia completa, com intérpretes para todos os gostos e que se colocaram em planos de singularidade entre si.
Primeiro foi Enrique Ponce, toureio cujas características e faculdades não foram consensuais, mas que foram consensualmente aceites ao longo dos tempos. Enrique Ponce foi um Senhor, um Homem de discurso fácil, educado, diria que genuinamente senhorial. Os seus olhos claros e doces, camuflavam um conceito recheado de técnica e que ao longo dos anos, se foi transformando num estilo só seu… A sua saída, foi um duro golpe para os seus contemporâneos.
Julián Lopéz ‘El Juli’. Outro, mas não um “outro” qualquer. Um outro que “nós” tivemos a sorte de conhecer desde os seus primórdios até ao dia em que foi… foi embora não sabemos se para sempre, porque o sempre queremos acreditar que é tempo demais. Inventou, recriou-se e amadureceu como toureiro mas o que principalmente fica como exemplo, é a sua inteligência emocional, as suas capacidades técnicas e sobretudo, a sua resiliência desde a altura em deveria apenas e tão-só – brincar!
Agora, num Outubro como tantos outros, no mesmo mês que se celebra uma aparição de Fátima; no mesmo mês em que morreu Amália Rodrigues e no mesmo mês, ou melhor, no mesmo dia em que se celebra Espanha, foi embora Morante de La Puebla, aquele que dizem (concordo), ser o maior génio do toureio mundial. Foi sempre diferente dos seus pares. Foi único, foi tanto e de uma forma que jamais se conseguirá quantificar. Ligado à história da tauromaquia nos seus mais restritos pormenores, na sua naturalidade, na sua essência, surpreendeu até na hora do adeus. Um adeus que teria de acontecer, sabemos disso. Mas que não se esperava para já, quando a sua maturidade o tornou melhor, sempre melhor.
Tudo em si foi genial. É isto que define Morante.
Hoje, olho para trás e percebo que nunca me enganei e que o miúdo exatamente da minha idade, afinal de contas e tal como eu, já não é aquele miúdo de cara limpa, com sonhos, com metas…
Li que o toureio fica órfão. Não sei… acredito que sim, que a genialidade no toureio, essa sim, fica amputada.
Há novos valores, como Andrés Roca Rey, mas a genialidade, essa era do toureiro de La Puebla.