Ao Campo Pequeno não se pode ir de qualquer maneira, nunca pôde, mas sobretudo agora, com a brutal redução do número de espectáculos.
Ir à praça da capital, deve actualmente ser encarado como um presente nostálgico e estar onde outros quereriam estar, encarado como uma sorte para quem sabe, mais tarde recordar… “O dia em que triunfei no Campo Pequeno…”!
Tem que se dar tudo, não importando jogar algo mais que o “cumprir’…
A segunda de quatro corridas em Lisboa, teve então cartel formado pelos cavaleiros João Moura Júnior e Francisco Palha, rematando-se o elenco com a presença do rejoneador espanhol, Andrés Romero.
O director de lide João Moura Júnior, lidou o mais pesado e volumoso touro do festejo, com as suas teclas mas que, talvez pelo “importe” visual, criou a sua “má impressão” junto do cavaleiro, que sem grande brilhantismo, deixou as compridas e curtas sem história, devendo ter recusado a volta à arena.
Peter Janssen saltou para cima dos curros aquando da quarta bandarilha, quebrando é certo o ritmo da actuação do mais velho cavaleiro em cartel…
Mais cómodo em tamanho mas sobretudo com uma qualidade brutal que fez com que o seu criador desse volta à arena, Moura desenvolveu uma lide, que goste o cavaleiro ou não do que vou dizer, recorda um grande Moura Júnior, de outra essência, de um toureio templado e cadenciado, mandando, com a sua classe e vistosidade. Magnífico a bregar, magnifico a reunir, a cravar e sobretudo com as duas Mourinas. Quis deixar uma Mourina de palmo, que acabaria por não ficar, tendo que o deixar da tradicional forma.
Grande actuação, repito, a fazer lembrar o toureiro de outros tempos e a sua concepção artística de antes.
Francisco Palha teve uma primeira actuação de verdadeiro triunfo. Dar vantagens aos toiros é qualquer coisa que apenas pode agigantar a tauromaquia e Palha, agigantou-se e fez agigantar… Depois de um primeiro em sorte de gaiola, seguiu para uma série de curtos de grande poderio e que o farão orgulhar-se desta sua passagem pelo Campo Pequeno.
A segunda exibição de Francisco Palha foi altamente condicionada pelo facto do toiro se ter desembolado depois de cravada a primeira curta. Dez minutos depois o astado regressou à arena, mas sem os mesmos recursos. Palha deu o melhor, deixou boas bandarilhas, saindo a rematar as sortes com poderio. Com uma verguenza torera de louvar, não quis dar volta, apenas saudando dos médios.
Andrés Romero não viveu no Campo Pequeno, a noite sonhada. A sua primeira actuação foi desprovida de qualidade, coerência e até de sentido de orientação, tendo o cavaleiro andado em perfeita desarmonia com o toiro. A cada ferro consentia um toque, motivando assobios do público. Exibição sem música e sem autorização para volta.
Frente ao segundo toiro do seu lote, elevou um pouco a fasquia, tendo deixado as bandarilhas da praxe com mais efusividade, conexão com o público e sempre com batidas ao piton contrário. Ainda assim, não rompeu em triunfo.
As pegas estiveram por conta de dois dos mais prestigiados Grupos de Forcados, no caso, os Amadores de Montemor e Évora.
Pelos Amadores de Montemor, estiveram na linha da frente o enorme Francisco Borges, com uma excelente primeira ajuda de António Pena Monteiro (chamado a dar volta com Borges), efectivando pega ao segundo intento; Vasco Ponce, à primeira confusa tentativa e; José Maria Pena Monteiro ao primeiro intento, com uma grande demonstração do grupo como um todo.
Vestindo a jaqueta dos Amadores de Évora, pegaram de caras Ricardo Sousa, numa enorme exibição, ao segundo intento; José Passanha com uma muito boa pega à primeira tentativa e; José Maria Caeiro, ao segundo intento.
Lidou-se um curro de toiros de Murteira Grave, bem apresentado e com teclas que tocar, mesmo os que não corresponderam como o quarto saído à arena e que recebeu a ovação do público, bem como proporcionou volta ao seu criador.
Nota negativa para o estado do piso, tendo que ser alisado e molhado por duas vezes, sendo que além do incómodo pó, também fez retardar o espectáculo. Moura Júnior foi o primeiro a dar conta de que o piso “estaria fatal”, mas estes aspectos, deveriam ser cuidados antes do espectáculo, fazendo jus à importância do tauródromo.
Nota positiva para a singela homenagem da empresa ao Grupo de Forcados Amadores de Évora, pelo cumprimento do seu 60º aniversário de fundação.
O festejo foi dirigido pela Delegada Técnica Tauromáquica Lara Gregório de Oliveira, coadjuvada pelo Médico Veterinário, Jorge Moreira da Silva.
Fotos: Luís Moreira