Beja – E falaram foi do pó…

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A Praça de Touros José Varela Crujo não é uma praça qualquer. Tem história, merece respeito e a crítica é exactamente no sentido de preservar a sua reputação.

Os aficionados não podem, nem devem, passar todo um espectáculo a queixar-se do pó abundante que emanava da arena, olhando desconsolados para as suas indumentárias recoloridas da areia preta que dali vinha.

Respeito é necessário por todos os que com maior ou menor esforço pagaram bilhete para assistir a um espectáculo, caro, que se supõe de elite e que não pode terminar com o tema de debate a ser exactamente este, o pó, em detrimento do resultado artístico dos cavaleiros e o desempenho dos forcados e toiros.

Uma incursão pela bancada, faria falta a todos os intervenientes no espectáculo e sobretudo aos que permitem que assim seja e mais, aos que ao intervalo se tentam sobrepor às ordens de rega do Director de Corrida.

Urge que a tauromaquia se torne um evento apelativo, com qualidade, glamour e que mesmo que em ambientes de menor distinção, seja no mínimo, digno.

Um terço forte de entrada, com maior incidência nos sectores de sombra, foi tudo aquilo que se conseguiu, numa das duas datas de Beja.

Pois bem, dos cavaleiros rezam várias histórias, frente a toiros que cumpriram e muito bem em apresentação, bem como em comportamento, destacando-se como mais complicados os quinto e sexto. Pertenceram às Sesmarias Velhas do Guadiana.

Abriu Luís Rouxinol, sendo autor de uma exibição serena, com boas abordagens, subindo de tom com a chegada à arena do cavalo Douro e com a sua larga experiência, chegou também uma brega vistosa, ladeada… Rouxinol deixou um bom par de bandarilhas a duas mãos e um palmito.

Tito Semedo embora com largos anos de carreira, nota-se a menor rodagem da actualidade. Cumpriu com a ferragem da praxe e apenas isso, terminando com um violino.

João Moura Caetano continua a sua digressão pelo sucesso, vivendo aquele que é com toda a certeza um dos momentos mais felizes da sua trajectória. Bem mas bem com o Campo Pequeno, sempre muito em curto e até alguns matizes de novos coloridos na sua forma de actuar. Boas bandarilhas, bons remates e o público a desfrutar e a pedir mais…

Andrés Romero foi outro dos triunfadores do festejo, numa actuação com ritmo, alegria e forte comunicação com o público. As iniciais bandarilhas foram de grande nota, fruto de reuniões ajustadas e sobretudo. Rematou algumas das sortes com vistosidade.

Miguel Moura brilhou sobretudo na recta final da sua exibição, momento em que não só cravou com correcção, mas sobretudo, momento em que rematou as sortes com a brega bem ao jeito da “Casa Moura”, contudo e talvez também pela escassez de transmissão do oponente, tudo chegou com pouca “força” à bancada.

O festejo teve epílogo com o labor de João Salgueiro da Costa, o mais penalizado dos seis toureiros no que à colaboração ganadeira diz respeito.
Correcto e regular em tudo o que fez, mas sem que o público reagisse demasiado… O oponente insistiu em fugir para tábuas e isso fez com que o seu “trabalho” fosse de energias redobradas.

Na verdade a Festa foi do Grupo de Forcados Amadores de Beja, assinalando-se esta tarde, o 15º aniversário de “reactivação” da respectiva formação.

Com antigos e actuais elementos fardados, estiveram na cara dos toiros e por esta ordem: Miguel Sampaio, cabo (à segunda tentativa); Manuel Almodôvar, antigo cabo (ao primeiro intento); Ricardo Castilho (ao terceiro intento); Olavo Baião (à segunda tentativa); Mauro Lança (ao primeiro intento), numa grande efectivação, tendo o Director de Corrida sugerido que todo o grupo desse volta à arena; e Tiago Graça (à primeira tentativa).

Antes do início das cortesias, foi cumprido um minuto de silêncio em memória de Covas Lima e de Francisco Mendes, havendo também e por ocasião do equador do espectáculo, uma Homenagem póstuma a Covas Lima, com a presença na arena das suas três filhas.

O espectáculo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Domingos Jeremias e assessoria veterinária a cargo de Ana Gomes.

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Nota de esclarecimento:
Em conformidade com a decisão tomada pela Direcção do TouroeOuro na passada temporada e da qual não se abdica, o TouroeOuro, na galeria de imagens de apoio a esta crónica, não exibirá fotografias do rejoneador Andrés Romero, nem de Miguel Moura, pelo facto de os dois toureiros terem fotógrafos na trincheira, sendo que o TouroeOuro esteve a desenvolver a sua captação de imagens na bancada, por indicação do organizador do evento.

(Fotos: João Dinis)

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