A vida é feita de uma mescla de perfeitas imperfeições e do crescimento do ser humano, faz parte vivermos desta forma, entendendo as mensagens e os ensinamentos…
Miguel Moura terá hoje vivido em Coruche, uma dualidade de sentimentos. O de perda, esse irremediavelmente mau. Depois de dois ferros compridos perfeitos deixados ao primeiro do seu lote, o primeiro deles em sorte de gaiola, Miguel Moura viu o seu cavalo morrer, na arena, numa versão dura de qualquer possível romantismo. Mas depois, depois o que se viveu, foi talvez um dos mais marcantes momentos da sua carreira, todo um compêndio de arte, de “esquisitice” no melhor e mais amplo sentido da palavra, sim, porque Miguel Moura tem um je ne sais quoi dificilmente entendível e que fazem de si, igual a nada, mas ainda assim, o melhor dos Moura do momento. Diria, o mais Moura da actualidade e passando obviamente, a expressão pouco ortodoxa.
Miguel desenvolveu raça, dinamismo em versão templada, suave e sem ruídos. Ferros de elevadíssimo nível, com o público atipicamente consigo. Contudo, o que fez frente ao segundo, poucas palavras existirão para descrever. Não foi só bom ou bonito. Não se pode dizer nada com favor ou somente com base no respeito. Hoje e de Miguel, temos de dizer que foi singularmente o triunfador e urge que compita noutros elencos, de corridas de renome. Dois bons compridos, iniciais curtos com cite de praça a praça, uma paradinha, batida ao piton contrário e reunião exímia, com emoção. Mas o melhor estava por vir, aquando da monta do seu cavalo escuro e que lhe “cai na perfeição”. Remates ladeados de uma beleza indiscritível. Público adepto de outros conceitos, mas hoje, ali em Coruche, em pé!
Abriu função Luís Rouxinol, com duas actuações correctas, limpas, com a sua técnica e a cumprir, dando maior ar de graça no segundo do seu lote, montando o veterano Douro. Com este cavalo deixou um par de bandarilhas de boa nota e também se deixou ver em ladeios.
Manuel Telles Bastos foi também autor de uma feliz passagem por Coruche. Com tom regular e cumpridor no primeiro, mas sem alardes de triunfo, foi no segundo que deixou dois ferros a encerrar o capítulo, de grande mérito e execução fantástica, entrando pelos terrenos do toiro, em toda uma aula de classe.
As pegas estiveram por conta de um único grupo de forcados, os Amadores de Coruche.
Para a cara dos toiros, foram: Afonso Freitas (à primeira); Martim Tomás (à terceira); Tiago Gonçalves (à primeira); António Tomás (à primeira); David Canejo (à terceira) e; João Formigo (à primeira tentativa).
A ganadaria São Torcato regressou ao tauródromo do Sorraia depois de algum tempo de ausência e sobretudo depois, daquela histórica corrida com incidentes diversos. Nesta tarde, o curro exibiu trapio q.b. se em conta tivermos a tipologia do tauródromo. No que concerne a comportamento, todos serviram faltando apenas transmissão de emoção.
O último proporcionou triunfo, sendo o ganadeiro Joaquim Alves chamado a dar volta à arena com Miguel Moura.
O festejo com cerca de um terço de lotação preenchida, foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Tiago Tavares, assessorado no campo veterinário pelo Médico José Luís Cruz, sendo que se cumpriu um minuto de silêncio pelo forcado coruchense Fernando Felismino.
Nota: Não perca mais logo todas as imagens desta corrida, em Coruche.
Foto: João Dinis
(clique para ampliar)