O inicio de Junho é marcado, desde há 69 anos, pela Feira do Ribatejo, sendo que apenas uma década depois se começou a designar por Feira Nacional da Agricultura, tal como a conhecemos hoje. Santarém é a capital ribatejana e, por si só, apraz dizer que a sua Praça de Toiros é das mais importantes do panorama taurino nacional.
Nesta tarde quente, mas de grandes trovoadas e instabilidade meteorológica de sábado, 3 de Junho, realizou-se na Praça de Toiros Celestino Graça, a corrida da CAP, Confederação dos Agricultores de Portugal, sendo o cartel composto pelos cavaleiros Rui Fernandes, João Moura Jr. e João Ribeiro Telles. As pegas estiveram a cargo dos dois grupos de forcados que há mais anos honram das mais saudáveis rivalidades da festa de toiros: os amadores de Santarém e os amadores de Montemor, lidando-se uma corrida em formato concurso de ganadarias, com os ferros de Manuel Veiga, Vinhas, Assunção Coimbra, Dr. António Silva, Murteira Grave e Veiga Teixeira.
Após as cortesias e face a uma grande chuvada, com queda de algum granizo à mistura, a corrida foi suspensa, e bem, durante quinze minutos. Pena foi, que decorrido esse hiato temporal, não tenha existido o bom senso necessário para prolongar a suspensão temporária do mesmo, por parte da entidade organizadora como dos responsáveis pelo espetáculo, como é, evidentemente, o caso da delegada técnica tauromáquica nomeada para a função e o diretor de lide.
Reconheço, evidentemente, que esta situação hinóspita pode e vai ser encarada de duas maneiras distintas. A primeira, inspirada no grande slogan “o amor à festa”, em que vai ser destacada a perseverança do público presente que se viu obrigado a suportar tudo, estando mais de metade do espetáculo nos corredores interiores do recinto, sem possibilidade de ver o espetáculo que pagaram para ver. Foi, de facto, de louvar a atitude desses homens, mulheres e crianças que aceitaram tudo o que lhes foi imposto, tendo direito a apenas um agradecimento no final do festejo do speaker de serviço àquela praça de touros e, por outro lado, a minha visão mais realista da situação que acha isto decadente e a passar uma imagem de muito pouco profissionalismo e que irá, muito provavelmente, ser vista como prejudicial à festa. Meus senhores, com toques nas costas, não se vai a lado nenhum.
Perante todas estas incidências que a Natureza nos quis fazer sentir, também eu fiquei impedido de asssitir a dois terços do espetáculo, assistindo apenas às duas últimas lides da tarde. Face à falta de equidade entre todos os intervenientes no espetáculo, eu terei o bom senso necessário para não comentar lides, pegas e/ou comportamento dos toiros saídos ao ruedo, dado que houve intervenientes que não tive qualquer possibilidade de ver atuar.
Conheço bem as características necessárias para se ser um bom delegado, seja ele em espetáculos culturais, como em qualquer outra área, e cabe-me referir que há atributos inerentes à função que são imprescindíveis: a coerência, o conhecimento teórico-prático dos regulamentos, a seriedade, o respeito por todos os intervenientes, artistas e não só, e no topo da lista colocaria o bom senso e a defesa/potenciação do espetáculo que temos a nosso cargo, tentando ao máximo agradar o público alvo que adere e que, consoante o resultado final seja positivo ou negativo pode, ou não, voltar.
Tiro o chapéu à senhora delegada, vulgo, diretora de corrida, pela seriedade e pelo conhecimento dos regulamentos, dado que permitiu a continuidade do espetáculo com a ausência de banda de música, o que segundo o RET é permitido, estando patente no mesmo que “nos espetáculos tauromáquicos, com exceção das variedades taurinas, é
obrigatória a atuação de uma banda de música antes do espetáculo,
durante as cortesias, sempre que o Diretor de Corrida o determine e, a
pedido do público, durante a lide e na volta à arena”. Assim sendo, até ao momento da quinta lide foi aplicado à letra o estipulado e, não tendo existido voltas à arena, nem atribuição de música como prémio de desempenho aos artistas, tudo está legalmente defendido. Porém, a partir do momento em que a banda entra durante a quinta atuação da tarde e, não podendo haver equidade entre todos os cabeças de cartaz, não vejo qualquer sentido que existam prémios e voltas aos restantes. Nao é justo e, a meu ver, trata-se de uma clara falta de respeito e de bom senso pelos demais. Bom senso esse que também não foi tido em relação a todo o público pagante que preencheu cerca de meia casa fraca do tauródromo. Quanto à entidade organizadora, penso que poderia ter tido um cuidado especial que também não foi levado em conta e… não se esqueçam… há que cuidar de quem sustenta a festa de toiros, sem eles, a situação tornar-se-á insuportável e cairá onde nenhum de nós quer que caia.
Cabe-me salientar, por fim, que tudo o que foi por mim referido é uma análise ao trabalho realizado, nesta tarde, não tendo eu nada a apontar quanto às características pessoais e humanas de nenhum elemento afeto à organização deste evento.
A Associação Setor 9 indicou que o prémio para o melhor toiro fora para o astado da ganadaria Murteira Grave.
Para mim, pessoalmente, foi um regresso bastante infeliz às arenas nacionais e, cada vez mais me questiono, será esta decadência a que pretendo assistir? Como eu, com tristeza, muitos mais pensarão.