Há anos e anos que assisto a corridas de toiros e desde sempre me interessei pela leitura de uns escritos acerca das mesmas, sendo que em alguns casos posso intitulá-los de crónicas outros nem tanto. Uma coisa é certa, uma crónica deverá representar uma narrativa de um acontecimento, tal como ele é visto pelos olhos do narrador e nunca pelo condicionamento, mais ou menos perverso, da opinião de outros.
A crítica taurina, em Portugal, vive momentos difíceis. É um facto indesmentível. Não digo isto por haver análises distintas de um determinado ferro ou atuação de um qualquer artista, mas porque é por demais evidente a falta de critério com que as críticas são feitas. Veja-se que por vezes há críticas que são feitas sem qualquer justificação, ou exatamente o contrário, há triunfos a torto e direito sem que, na verdade, eles tenham ocorrido.
Destaques? Triunfos? Elevação ao patamar de figura? Qual será a grande diferença?
Bem… espero que quem leia este artigo fique elucidado de quais as diferenças para este autor. Numa corrida de três cavaleiros, triunfa aquele que tem duas lides intocáveis, com excelentes momentos em ambas e onde não se seja possível apontar falhas relevantes (passagens em falso e/ou toques nas montadas, por exemplo), já numa corrida de seis cavaleiros tem de haver uma clara supremacia para que se possa aclamar um triunfo apoteótico ou histórico (como muitos apregoam por aí todas as semanas). Destacar um artista já não é tão difícil e, na verdade, quem me segue sabe que destaco mais do que proclamo triunfos. Uma lide acima da média será de destacar.
Seria fantástico para a festa de toiros, no nosso país, que a crítica se deixasse de ajoelhar aos amigos e aos primos dos conhecidos para que, desta forma, colocassem este ou aquele como triunfador de uma corrida, de uma feira ou até de uma temporada. Chega disso. Ninguém no seu quotidiano está bem em todos os acontecimentos. Eu não estou inspirado da mesma forma, em todos os festejos, e por esse motivo há crónicas melhores que outras. Um toureiro (cavaleiro, matador de toiros ou forcado) não está bem em todas as corridas, uma lide depende de demasiados fatores para que se consiga manter um nível triunfal corrida após corrida! Parem lá de enganar o povo com essas coisas apoteóticas e históricas! Isso a longo prazo é desprestigiante, é indigno e leva os toureiros a sentarem-se à sombra da bananeira, achando que não precisam de se esforçar para manter os bons níveis e as exibições destacadas.
Histórica e triunfal foi ontem a lide de Miguel Moura, no Campo Pequeno. A temporada do ginete de Monforte tem sido de altíssimo nível. A elevação a figura está conseguida com sucesso. O ‘cavaleiro misterioso’ como tem sido apelidado não tem, nem de perto, nem de longe, uma quadra vasta. É inferior à de muitas figuras que correm os tauródromos nacionais, todavia em muitas tardes e noites tem-se destacado. Também não triunfa todos os dias, nem nunca triunfará! As declarações que teve ontem ao canal espanhol Onetoro foram uma evidência da sua humildade, recato e capacidade de trabalho. Não é artista que se evidencie pela efusividade e pela ligação forte ao público. Não há espalhafato na arena. Há uma capacidade lidadora inata e é por isso a meu ver um predestinado! E o mais importante, não se deita sob os louros que lhe cantam. Não se deixa ir nas cantigas de que está a atingir um nível altíssimo. É bom que continue certo que só a sua capacidade de trabalho o manterá no patamar que lhe começa a ser reconhecido pela generalidade dos aficionados. Não é por acaso. E sabem que mais? O Rodrigo não está a ser pago para escrever isto do Miguel, nem está bêbedo, tal como não está em nenhuma corrida de toiros onde escreve, dado que nem ingere bebidas alcoólicas. O Miguel está aqui a ser destacado porque eu acho que merece. E contem comigo para dar triunfos, destacar, ou criticar de alto a baixo sempre que assim o achar correto. Foi, para mim, o triunfador da mini-feira taurina de Lisboa e é um dos mais destacados cavaleiros nacionais, esta temporada. Enhorabuena Miguel! Não é preciso notas por debaixo da mesa ou apoderados influentes para se triunfar na vida e tu, és o exemplo disso!