Por muito pequena que seja, por muito circunscrita que esteja, geograficamente falando, a verdade é que a Praça de Touros da Chamusca, é uma referência no panorama taurino nacional. A Chamusca está ou “deve estar” no epicentro da tauromaquia mas também convém que a tauromaquia a tenha em conta como epicentro de prioridade e que preserve as suas tradições…
Esta ‘incómoda’ introdução, não pretende chatear ninguém, pretende apenas que não se enterre a cabeça na areia, como se fossemos todos, uma cambada de avestruzes. Um quarto de casa na primeira corrida da Feira da Ascensão, deve ser motivo de reflexão e atenção, que a ameaça de chuva, não desculpa tudo, as carteiras magras também não. Quem de direito que faça uma assunção de culpa e que, repense tudo isto. Eu diria que ver tanta bancada à vista, é assustador.
Pois bem, ingredientes havia, mas pelos vistos não convenceram.
Comecemos por aqueles que talvez fossem os “cabeça de cartaz”. O Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca, fardou antigos e actuais elementos para comemorar o 40º Aniversário da formação.
Pegaram João Saraiva (actual cabo) e Pedro Coelho dos Reis ao primeiro intento; Vasco Coelho dos Reis e Francisco Montoya à terceira tentativa; João Rui Salgueiro à segunda e; Francisco Souto Barreiros, ao primeiro intento.
Festa bonita e nesta matéria, nada a acrescentar.
À arena saíram touros da ganadaria de Canas Vigouroux, com apresentação adequada ao tauródromo, mas, com comportamento de pouca transmissão, embora não complicassem as funções.
Bem João Moura Caetano frente aos dois do seu lote. Frente ao primeiro, toiro mais voluntarioso e de maior mobilidade, andou como sabe, em terrenos justos, toureio de cercanias e sobretudo, com arte e profundidade. A forma como recebeu o primeiro, bem como a sua lide com o Campo Pequeno, foram os pontos altos da sua passagem pela arena ribatejana.
Marcos Bastinhas foi igual a si próprio. Com isto, diz-se que andou com ritmo, alegria e vivacidade, tentando alegrar sempre as sortes com adornos no cite, balancés e outras coisas mais, mas, menos conciso nas reuniões. A sua segunda prestação teve epílogo com meio par de bandarilhas, rectificando o toureiro com um bom par de bandarilhas, antecedido por dois palmitos.
Miguel Moura foi o terceiro elencado da tarde, mas foi o primeiro em qualidade, em torería, em eficácia, em temple, em correcção, em sobriedade, em gosto e em silêncio…
Silêncio, como quem fosse abrir a goela para cantar o fado, silêncio, porque quem pinta a obra, fá-lo com concentração, silêncio porque o toureio quer-se assim, ‘despacito, con suavidad, calidad, sin prisa pero sin pausa…’.
Frente ao primeiro, a obra teve tantos polos de interesse, que nem se sabe bem por onde começar. Bom conceito e entendimento, improviso, saída à arena do seu cavalo estrela, mesmo sem que fosse o último toiro, ferros dentro dos cânones do toureio e remates de beleza inigualável.
Frente ao segundo e quando se pensava ser irrepetível, lá vem o miúdo (com todo o respeito e carinho porque me lembro dele bebé), calado, sem “caganças” como se diz no meu Alentejo. O mesmo toureiro, obviamente, o mesmo conceito, mas outra obra diferente. Pois, porque os artistas não conseguem replicar, apenas criam…
O espectáculo foi dirigido com correcção pelo Delegado Técnico Tauromáquico Ricardo Dias, assessorado pelo Médico Veterinário, José Luís Cruz.
Ah… Lembrar-me que começo a fazer parte dos “antigos” por ter conhecido o Miguel muito pequenote, faz-me recordar que sou também do tempo, em que os Presidentes de Câmara eram agraciados com os capotes dos toureiros. Agora, são “elas”…
Fotos: João Dinis
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