A noite era de e para Paulo Caetano. E assim foi. E foi mesmo, sem exageros, sem excessos e sem favores… Foi de Paulo Caetano também e obviamente pelo excelente desempenho do seu filho João Moura Caetano. Afinal de contas, não é isto que querem os pais?
Pois bem. Assinalava-se ontem, no Campo Pequeno, naquela que era a corrida primeira de quatro anunciadas e que compõem a curta temporada lisboeta, a tão merecida homenagem a Paulo Caetano pelo cumprimento dos seus 45 anos de Alternativa. A efeméride não suponha outra coisa que não fossem distinções por parte de ilustres conhecidos, o que viria a ocorrer antes do início das lides.
O cartel era de dinastias, marcando-se o “tema” pela presença ainda das famílias Telles, Moura, Pinto e Bastinhas.
Voltemos a Paulo Caetano e à sua actuação, com a mesma essência de antes, ou seja, a classe e elegância, a verticalidade a cavalo, a forma e a técnica na hora de contornar obstáculos, as abordagens certeiras ao toiro de teclas diversas da sua própria ganadaria, os remates e o poderio. Esteve lá tudo e claro, o brinde à bonita família que construiu.
De volta, mas já com um Charrua por diante e oferecendo a seu Pai o melhor dos presentes, João Moura Caetano, com a melhor e mais redonda actuação da noite. Bem mas bem. Primeiro com o Pidal e depois, com o mesmo “Campo Pequeno” que o seu pai já havia montado, mas com mais arrojo, com outras facetas até do próprio cavalo. Se esta não foi a melhor actuação dos últimos anos de Moura Caetano, andarei lá perto… Hermosinas perfeitas, poder de comunicação a tourear, sem espalhafatos ou barulhos, mas com alegria, pois a noite pressupunha isto mesmo. Grandes momentos nas reuniões, nas batidas, nos remates, na concepção, em tudo.
A outra exibição da noite chegaria no término do espectáculo, com a assinatura de punho cada vez mais firme de Miguel Moura. Um soberbo, primeiro comprido em sorte de gaiola, outro comprido, mais dois curtos a “medi-las” mas, mais que isso, a preparar e ler o toiro e depois, todo um recital de toureio do bom, daquele que pelo menos a mim me arrepia, e arrepia porque é cadenciado, porque é templado e esteticamente muito bonito. Miguel está um toureiro inteiro, capaz e não defrauda. Toureio do “caro”, diria…
António Telles e Duarte Pinto estiveram enormes. Junto-os nas mesmas linhas e não é por acaso. Sem que sejam família, partilham de conceito clássico, com abordagens frontais, com entradas retas, com emoção e verdade ao alcance e gosto dos mais puristas do toureio a cavalo. António Telles foi autor de um terceiro curto de antologia e Duarte, foi-se confiando ao longo da lide, evoluindo e crescendo… com educação e finos modos.
Marcos Bastinhas iniciou a função recebendo o oponente à porta gaiola. Lástima que o Charrua não se ligou à montada, não criando por isso o impacto que o ginete procurava. Destacam-se da fase inicial os compridos. Bons. Entretanto, alguns desacertos ou linhas não tão direitas, ditaram a não atribuição de música por parte do diretor e bem. Tudo tem o seu momento e afinal de contas, defender que o Campo Pequeno é a “primeira” praça do país, é buscar a perfeição. Mais encontros e desencontros e a verdade é, que a música nunca chegou e Marcos impacientou-se mas, diga-se em abono da verdade, que terminou com um palmito e par de boa nota… mas repito, terminou. As soluções eram duas. Ou Ricardo Dias atribuía música no término da lide, o que seria completamente estapafúrdio e o cavaleiro apenas sairia da arena ao som da música, ou mantinha a decisão e não dava música, compensando sim com volta à arena. Foi o que aconteceu.
As decisões certas ou erradas das direcções de corrida terão todas, uma justificação e que aos olhos de cada um podem ser certas ou erradas. Mas, as direcções de corrida são a pedra basilar de um espectáculo tauromáquico, a autoridade… e concorde-se ou não, tem que se saber respeitar quaisquer que sejam as suas posições. No início da volta, o ginete atirou o tricórnio a Ricardo Dias, no término da volta, um ramo de flores, numa clara e inflamatória atitude de protesto… O ambiente de espectáculo foi transformado, diga-se, não para melhor, o que se lamenta em dia de “festa”.
Desta festa não participaram todos. O Campo Pequeno não chegou a preencher três quartos de entrada. À vista sim, mas, juntando as “peças”, ficou-se muito aquém do que seria expectável e desejável na primeira corrida de uma praça cuja existência para a tauromaquia se quer defender.
As pegas da noite estiveram por conta de dois dos mais conceituados Grupos de Forcados do país, Montemor e Lisboa.
Pela formação alentejana de Montemor, pegaram de caras os forcados António Cecílio, com duas tentativas, dobrando as duas iniciais de Vasco Ponce por ter saído lesionado da arena; José Maria Cortes Pena Monteiro, à segunda tentativa e; António Cortes Pena Monteiro, à primeira. Sobre esta última pega a cargo das jaquetas montemorenses, há uma leitura a fazer. O cabo sentiu que tinha de concretizar a pega ao primeiro intento e por isso, contornou obstáculos incontornáveis, talvez porque isto, além de demonstrar o que é ser um forcadão, também é mostrar o que é ser cabo.
Pelos Amadores de Lisboa, estiveram na linha da frente Nuno Fitas, Duarte Mira e João Varandas, em efetivações ao segundo intento.
Além do touro da ganadaria de Paulo Caetano, lidaram-se ainda cinco touros de António Charrua, com apresentação correta e comportamento acima da média na sua generalidade, contribuindo também para o êxito generalizado dos cinco toureiros que os lidaram. No término do espectáculo, o representante da ganadaria foi “convidada” a dar volta, de forma absolutamente justa.
O festejo inaugural da temporada lisboeta, foi dirigido e muito bem, com verticalidade e coragem pelo Delegado Técnico Tauromáquico Ricardo Dias e pelo Médico Veterinário, Jorge Moreira da Silva, tendo sido cumprido um minuto de silêncio em tributo póstumo ao rejoneador Don Rafael Peralta, falecido recentemente.
Fotos: João Dinis












































































































