Por: Rodrigo Viana
Um Sonho, uma pega, uma tragédia…
Há gestos que nascem maiores do que a própria vida. Gestos de coragem pura, de entrega absoluta, de uma paixão que não conhece limites. Ontem à noite, no Campo Pequeno, palco maior dos sonhos de tantos, o jovem Manuel Trindade partiu para a arena com o peito cheio de fé e a alma embalada pela ilusão que só os grandes têm: pegar um touro na primeira praça do país.
Aquele instante em que um forcado se coloca à frente de 695 quilos de bravura e instinto é um pacto silencioso entre o homem e a fera. É raça. É destino. É a essência maior desta tradição que poucos compreendem e que só os escolhidos sentem na pele. Manuel sentiu-a. Viveu-a. E deu-lhe tudo o que tinha.
Hoje, o Campo Pequeno amanheceu mais silencioso. Lisboa pareceu mais cinzenta. E o céu, talvez, mais pesado. Partiu um rapaz novo, com sonhos por cumprir, com tantas pegas ainda para fazer, com tantos brindes ainda por dar. Partiu no cumprimento daquilo que o fazia feliz — e isso, se não consola, ao menos honra.
Aos seus pais, à família, aos amigos, e, de forma muito especial, ao Grupo de Forcados Amadores de São Manços, deixamos um abraço que não chega, porque nenhum chega. Que encontrem força na união que sempre vos distinguiu e que a memória do Manuel vos inspire, agora e sempre, a entrar na praça com a mesma entrega que ele levou consigo.
O toureio é feito de sonhos e ilusões, mas também de dor e tragédia. Ontem, o preço foi demasiado alto. Fica a saudade, fica o exemplo e fica, sobretudo, o silêncio pesado de quem sabe que a coragem, por vezes, leva demasiado longe.
Descansa em paz, Manuel. Hoje, o céu ganhou um forcado.