Marcada em “segundas núpcias”, a verdade é que ainda assim e pese embora o soberbo ambiente nas imediações da Praça de Touros José Elias Martins, o tauródromo portalegrense, não encheu… Pena, pois o cartel congregava num só elenco, quatro figuras do toureio, um mano-a-mano ganadeiro e dois Grupos de Forcados com os seus créditos. Dois terços de entrada, em tarde quente e que, em abono da verdade, fazia antever uma “trovoada” que afortunadamente nunca viria a acontecer.
A empresa merecia mais pelo esforço ali implícito!
O elenco equestre foi então formado pelos cavaleiros João Moura Júnior, Marcos Bastinhas, João Ribeiro Telles e Francisco Palha.
Numa praça que lhe é querida, João Moura Júnior sentiu-se mais a gosto ou pelo menos isso fez crer, frente ao segundo toiro do seu lote. Ferros de bom gosto, boas reuniões e sobretudo, destaque maior para a brega a duas pistas, que muito estão em tipo da casa toureira que representa. Frente ao primeiro exemplar, de Grave, esteve também em bom plano, com curtas depois de batidas ao piton contrário e muitas das vezes com o oponente encerrado em tábuas.
Marcos Bastinhas foi receber o seu primeiro à porta gaiola, evidenciando-se de imediato que o toiro se adiantava na viagem. Lide a cumprir e apenas isso, terminando a função com um palmito.
Frente ao seu segundo, andou mais alegre, tentando transmitir algo mais. Depois da tradicional ferragem inicial, andou regular nas cravagens, animando a sua actuação com um bom par de bandarilhas.
João Ribeiro Telles foi o terceiro nome em cartel. Frente ao primeiro, tratou de lidar e cravar de forma regular, cumprindo, com acerto a papeleta, mas sem lugar a deslumbres… No segundo do seu lote, aí sim houve mais Telles, em duas fases, a primeira mais calma e a segunda, mais efusiva e a impactar, montando o Ilusionista. Duas boas bandarilhas, a atacar o toiro e a fazer a batida, motivando aplausos do conclave.
No que concerne a Francisco Palha, as palavras de ordem foram: valentia e ainda, valentia!
Não será eventualmente o momento em que o toureiro citado está melhor montado ou até mesmo, aquele em que se sente à vontade com cavalos-estrelas, contudo, tem-se a si e isso por si só, parece valer sobretudo se compararmos com… o que é comparável, se é que me entendem!
Palha foi o único toureiro que não se recusou a esperar por um toiro, a mandá-lo vir ao seu encontro, a aguentar o que não seria possível e a improvisar o toureio tendo como inspiração a matéria-prima que tinha por diante. Isto foi Francisco Palha em Portalegre. A dar importância aos toiros, a faze-los exibirem o melhor e o pior!
A forma como cravou o primeiro comprido em sorte de gaiola ao “comboio Silva” que saiu dos curros, teria merecido por si só, música imediata! Mas não teve… Mais um comprido em semelhante registo e dois curtos de elevação máxima para o toiro e o toureiro. Desafortunadamente falhou um ferro e sofreu um toque na montada aquando da cravagem da última bandarilha, facto que deveria ter rectificado antes de dar a lide por concluída.
No segundo, andou bem, correcto e dentro do mesmo conceito, valente e imponente. Boa actuação, novamente a fazer “ver” o toiro de Grave que tinha por diante.
Com erros, intermitências, é certo, mas foram de Palha os melhores momentos da tarde, numa arte que não se exige “limpa, certinha e direitinha”, mas sim emocionante!
As pegas foram consumadas por dois Grupos de Forcados alentejanos: Montemor e Portalegre.
Para a cara dos toiros, vestindo a prestigiada jaqueta de Montemor, foram: Bernardo Dentinho, efectivando ao terceiro intento; Francisco Borges, com uma fabulosa pega, à primeira tentativa e; Vasco Carolino, também em efectivação ao primeiro intento.
De cernelha pegaram ainda o segundo do lote de Montemor, a dupla formada por António Pena Monteiro e Francisco Godinho.
Representando os Amadores de Portalegre, estiveram na linha da frente: Gonçalo Costa e João Fragoso, em consumações ao segundo intento; André Grilo, com uma boa pega à primeira tentativa e; Ricardo Almeida, também ao primeiro intento.
No campo ganadeiro defrontaram-se duas ganadarias de postim. Murteira Grave e António Silva. No que concerne a apresentação, ambos os ferros enviaram a Portalegre exemplares com trapio e dentro de tipo, sendo que todos colaboraram, havendo destaque pela positiva para o exemplar de Silva, lidado em quarto lugar, por Francisco Palha e que motivou a volta à arena por parte da ganadeira, vindo depois a ganhar o prémio em disputa para o melhor toiro.
O festejo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Marco Gomes, assessorado pelo Médico Veterinário, José Guerra.
Fotos: João Dinis