Pois que pena e penas bem sei que “têm as galinhas”, mas… A Daniel do Nascimento é uma praça de eleição e a sua existência fruto do trabalho de muitos obreiros e mecenas que, um dia como o meu Avô Almeida, sonharam construir um tauródromo digno, bonito e que honrasse a afición desta terra. Ela, a Daniel do Nascimento está cá, está de pé e bem cuidada há exatamente 75 anos e a verdade é que não pode, nem deve, vir um toureiro assim de repente e transformar este palco, numa discoteca de discos pedidos.
O “número” não foi novo. Já o tínhamos visto na Chamusca e eventualmente tê-lo-á feito noutros cenários, mas sabemos que Ferrera não é propriamente um iniciante e sabe bem onde estava a pisar. A Moita não e uma praça qualquer e pese embora não terem sido muitos os que se importaram com isso, pois apenas se preencheu um terço de lotação, Ferrera deverá ou deveria respeitar toda uma história…
Seguramente nunca mandou calar a Banda de Sevilha e pediu que tocasse a Virgen de Macarena, em Madrid tão pouco, porque a música nem toca… portanto aqui exige-se o mesmo nível de respeito. Assim foi na Moita. Frente ao segundo mandou calar a Banda, pediu o disco, eis que a Banda “põe a tocar o mesmo disco” e Ferrera manda calar a banda definitivamente.
O seu labor foi “em António Ferrera“. Mais sério no primeiro do seu lote, um bom toiro, apenas escasso de forças e que colaborou e muito com uma faena variada e até com polos de interesse. Frente ao segundo e entre um par e outro, eis que “tropeça em si mesmo”, queixa-se do ombro, despe o que pode e volta à “guerra”. Guerra porque a mim parecia-me exatamente isso… Um par ok, bonzinho e outro e o público em êxtase.
De muleta, andou com desplantes, e alguns passes mais exuberantes. Em silêncio claro está.
Cuqui, Joaquim Ribeiro “Cuqui” não teve tanta sorte com o lote, mas cumpriu de forma digna. Os dois toiros de Mata-o-Demo que teve por diante não tinham a qualidade dos enfrentados pelo seu alternante mas, o matador moitense não virou a cara, sendo que o primeiro foi mesmo recebe-lo à porta gaiola com uma larga afarolada. Deu volta nos dois, com justiça. Ferrera deu duas voltas no segundo, porque… porque sim.
Nota importante para os dois pares deixados por Tiago Santos ao “serviço” de Cuqui, saudando montera em mão.
A corrida teve início com as prestações a cavalo de Luís Rouxinol e Gilberto Filipe, este último a substituir Marcos Bastinhas.
Rouxinol teve uma fase de compridos para esquecer. Toques e desacertos. Nos curtos subiu de tom e bregou com nível, rematando da mesma forma e deixando a ferragem com bom tom. Terminou com um palmito.
Gilberto Filipe andou também solvente frente ao segunda da ordem. Bem nos compridos, nos curtos e mais efusivo e entusiasta nos dois violinos com que encerrou actuação, sendo o último sem cabeçada.
As pegas estiveram por conta do Grupo de Forcados Amadores da Moita. A segunda pega de duas foi consumada de boa forma ao primeiro intento, mas a primeira, foi consumada ao quarto intento, pertencendo as duas primeiras tentativas ao cabo da formação, saindo inanimado da arena.
A cavalo lidaram-se dois touros da ganadaria Canas Vigouroux, com apresentação adequada e que cumpriram.
Antes do início do espectáculo foi cumprido um minuto de silêncio em memória do recém falecido fotógrafo Luís Azevedo e de todos os bem-feitores do tauródromo que também já não estão entre nós.
Do aniversário da praça, uma alusão breve e curta entre a lide dos cavaleiros e dos matadores, com uma lembrança entregue pelos forcados à Sociedade Moitense de Tauromaquia.
O festejo foi dirigido pelo Delegado Técnico Tauromáquico Tiago Tavares, assessorado pelo Médico Veterinário, Jorge Moreira da Silva, numa noite em que foi estreado o pasodoble “Praça de Touros da Moita”.
Texto e Foto: Solange Pinto