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Abiul – Ao leme, Moura Jr!

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By Redação on 15 de Agosto, 2025 Crónicas, Destaques
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Tal como Rui Veloso, na sua “Faena do Mar”, “fiz-me à estrada” para esta última corrida da Feira do Bodo, na taurina vila de Abiúl, como quem embarca para uma viagem sem mapa, “vindo do Ribatejo lá onde o touro se pega” picado pelo vício e pela missão de defender as tradições das nossas gentes.

Ao chegar, a praça, completamente esgotada, parecia porto de embarque: nas bancadas, velhos marinheiros de memórias taurinas, crianças com olhos de mar revolto, ansiosas pela mudança de maré e no centro, a arena vestida de areia dourada como se fosse praia antes de uma tempestade.

O cartel, esse, era armada de luxo: Luís Rouxinol, veterano capitão que já cruzou mil mares de sol e sombra; João Moura Jr., navegador destemido, habituado a “guiar o casco” do seu cavalo por águas travessas e Francisco Palha, um jovem comandante, rebelde e corajoso que costuma saber ler o vento e virar a proa no instante certo. Contra eles, seis toiros de Canas Vigouroux, navios de guerra com chifres de marfim e peito de oceano, prontos a testar a coragem de quem ousa entrar-lhes no seu caminho. Para as pegas, três guarnições distintas, mas com a mesma alma: os Amadores da Chamusca, herdeiros de velhas façanhas do coração ribatejano; o Aposento da Chamusca, irmão de sangue e rival de honra, disposto a saltar à água pelo triunfo e os Amadores de Portalegre, marinheiros da Serra de São Mamede com braços de ferro. Cada grupo, um convés de homens prontos a amarrar o bicho como se fosse um barco rebelde em noite de vendaval.

E ali, enquanto a multidão se ajeitava e a lua subia lenta sobre o pano escuro da noite, era impossível não ouvir, mesmo que só dentro da alma, a ordem silenciosa que atravessa os séculos: “Aguenta toureiro ensaia a tua faena; o touro é sendeiro e escorrega muito a arena; toureia o destino improvisa a tua finta; é sobre o joelho que melhor se tira a pinta.” Porque naquela arena-mar, cada sorte é uma onda, cada silêncio, o prenúncio de maré cheia, cada ovação, a certeza de ter ancorado com segurança, em porto seguro.

O veterano capitão anunciado como mais antigo de alternativa teve a missão de ser o primeiro a atravessar o farol, sinalizador de entrada em alto mar. Bem sabemos que nem sempre é fácil iniciar algo e um espetáculo deste tipo não é exceção, pese embora o público tenha estado ancorado desde cedo ao que se passava na arena. Rouxinol primou por usar uma técnica refinada na fase inicial de curtos, desenhando duas sortes de valor que lhe valeram que o sinal sonoro tivesse chegado a algumas milhas da costa. Após umas correntes menos favoráveis, com o oponente a pedir a carta de patrão de costa ao cavaleiro de Pegões, os dois curtos que se seguiram não foram os mais conseguidos, culminando, ainda assim, com chave de ouro ao cravar um par de bandarilhas de muito valor. Na sua segunda viagem, o ginete de Pegões surgiu ao leme visivelmente motivado e determinado a responder às manobras dos seus companheiros de armada. Iniciou a faina com uma brega firme, como quem conduz a embarcação rente às ondas, rematando com um ferro curto de boa marca. Contudo, com a sua montada a “abanar o convés” e a protestar contra o mar bravo, viu-se obrigado a lutar contra duas forças, a do mar e a do adversário, o que aumentou a dureza da travessia. O navio inimigo começou a procurar refúgio junto às tábuas do cais, obrigando-o a recorrer a manobras enviesadas, lançando ferros de través (sesgo) e finalizando a rota com um “palmito” certeiro, como último arpão antes de regressar a porto seguro.

Após um aparente problema mecânico na fragata que zarpou em segundo lugar, João Moura Jr. preparou-se para comandar a sua embarcação no “vasto azul da arena”. O navio que se lançou à baía era uma verdadeira pintura de Ivan Aivazovsky: baixo, harmonioso e com linhas que pareciam ondular como as marés em dia de vento. Ágil e astuto, procurava sentir a liberdade das ondas, testando o leme do seu capitão. Moura Jr. iniciou a viagem com uma série de curtos preciosos, bregando com firmeza entre as correntes traiçoeiras, tal como quem conduz uma nau por estreitos perigosos. Cada ferro cravado era uma bandeira içada contra o mar bravo, e a sua destreza em ler a rês como se fosse carta náutica impressionou os espectadores. O sobrero que se seguiu, uma embarcação, pese embora menos vistosa, guardava manhas e correntes escondidas. O capitão ajustou o leme, navegando em crescendo até içar as célebres “Mourinas”, bandeiras de gala que fizeram ondular as bancadas como mar em noite de celebração.

O rebelde Margaça enfrentou o mais pequeno barco de pesca dos atracados na marina abiulense. Pequeno no casco, mas irrequieto como mar de leva, procurava arrancar-se de largo sempre que o capitão o chamava a barlavento. Após três arpões compridos, o segundo dos quais ficou cravado num dos “membros” do navio inimigo, deixando-o mais tarde sem manobrabilidade e um primeiro ferro curto lançado a cilhas passadas, viu-se forçado a puxar do patilhão para estabilizar a embarcação e reencontrar a rota. Assim, deixou duas bandarilhas como quem lança âncoras certeiras, com cite de uma ponta à outra da enseada e reunião apertada no centro do areal. Dado o inimigo apresentar dificuldades de navegação, foi mandado recolher ao porto sem combate corpo a corpo. Inteiro e com honra, Francisco Palha agradeceu apenas nos médios, na arena desta vila do concelho de Pombal.
A última navegação da noite trouxe-lhe um adversário cujo astrolábio parecia sempre apontar para fora da baía, procurando o abrigo das vermelhas tábuas do cais. O corajoso navegador encontrou-se, no entanto, com pouca estabilidade para uma boa pescaria, dado que a “rede estava algo furada”. Nas duas primeiras tentativas de abordagem, apostou em ataques frontais, mas ao bater com a sua montada antes do momento certo acabou com o inimigo demasiado junto à amurada no instante da reunião, o que lhe complicou a manobra. Depois, calibrando melhor o relógio de bordo, soube esperar pela vaga certa na terceira investida, deixando uma cravagem limpa e de boa nota. Fechou a travessia com um grande ferro, entrando em terrenos de risco e deixando a bandarilha de cima a baixo, en su sitio. Ainda assim, a ondulação não levou toda a força que desejava até às bancadas, fazendo-o sair de Abiul com sabor agridoce, como marinheiro que regressa a porto seguro sem ter enchido completamente o porão.

No que toca à forcadagem e pelos amadores da Chamusca, o primeiro a saltar para o convés da batalha foi Bernardo Galinha, homem do leme firme, que manteve desde cedo o navio inimigo sob o alcance da sua luneta, avançando a passo curto para evitar que a embarcação adversária rompesse a linha demasiado cedo. Ao chegar aos médios, o embate deu-se. Faltou-lhe apenas, a meu ver, carregar toda a artilharia no momento da aproximação, preferindo segurar o “navio bravo” com o comando da voz. Quando lançou o ferro de amarração, fechou-se que nem uma lapa ao casco, recebendo pronta e coesa ajuda da sua guarnição, que o defendeu com unhas e dentes.
Depois veio Diogo Caetano Marques, futuro cabo desta nau ribatejana. Foi ganhando terreno como quem navega por águas minadas, aproximando-se com prudência até encontrar o momento certo para lançar a abordagem. Ao segundo chamado, o “navio” inimigo respondeu à arremetida. Embora a ligação no momento da amarração não fosse tão recta como a carta de navegação pedia, conseguiu assegurar a viagem até à costa sem grandes sobressaltos.

No que toca ao Aposento da Chamusca, o timoneiro Vasco Coelho dos Reis preparou-se frente a um bravo navio da armada Vigouroux. Desde os primeiros metros de mar aberto, chamou-o à proa com a voz, fixando-o sem abanar o leme. No momento em que as amuras se tocaram, selou-se à proa do adversário, contando com a ajuda firme dos marinheiros que lhe seguiam o rasto. Já João Coimbra, com voz grossa de capitão, tentou atrair o inimigo mas não soube gerir a velocidade da sua investida; perdeu o momento certo para lançar os ganchos, falhando a primeira abordagem. Na segunda tentativa, conseguiu subir a bordo, mas não travou as pernas nem se encaixou bem na proa, sendo atirado ao mar com o primeiro golpe alto do adversário. Só à terceira entrada no canal conseguiu capturar o navio, embora com erros claros na coordenação da tripulação, que deram mais emoção a uma batalha que podia ter sido vencida em menos tempo.

Finalmente e no que diz respeito aos amadores de Portalegre, há que dizer que a nau serrana não chegou a abordar o terceiro navio devido a problemas de casco e velame, provocados por um ferro mal lançado que o danificou. O quarto da ordem, contudo, foi conquistado com classe por Daniel Ameixa, que lançou o desafio de proa erguida. A abordagem não foi ortodoxa, pois o inimigo vinha com a proa demasiado alta, dificultando o encaixe. Ainda assim, Daniel prendeu-se com firmeza e, com a ajuda competente da sua tripulação encostada às tábuas do cais, conseguiu consumar a tomada do navio na primeira investida.

A frota que singrou da doca dos currais mostrou-se, maioritariamente, pronta para navegar. O primeiro navio tinha casco vistoso, boa manobrabilidade e, para quem soubesse ler a carta náutica, permitia uma travessia cheia de emoção. Ainda assim, exigia mão firme no leme e não facilitou a rota do seu timoneiro. O segundo (que seria o quinto a sair do porto) apresentou-se como galeão de linhas primorosas, velas bem esticadas e quilha sólida, oferecendo uma navegação de alto nível, digna de o seu armador receber saudação de bandeira. O terceiro, mais pequeno escaler, acompanhou fielmente o seu capitão até sofrer avaria provocada por um arpão mal lançado, que o deixou a boiar com dificuldade. O quarto era manso encastado, barco pesado que, depois do segundo bordo, procurou o abrigo das tábuas do cais, sendo o menos dócil a cruzar aquelas águas. O quinto cumpriu como embarcação de serviço, sem ser navio de grande nota, e o sexto entrou no mar completamente à deriva, mas foi ganhando vento e corrente à medida que a viagem avançava.

O espetáculo foi comandado pelo capitão de porto, José Soares, assessorado pelo médico de bordo, Dr. José Luís Cruz, e pelo sinalizador de farol, José Henriques. Há apenas que deixar a nota que a autoridade se precipitou ao içar o lenço branco logo após o primeiro ferro curto de Francisco Palha, que tivera um início de travessia atribulado, onde o capitão não encontrara a corrente certa nem vento favorável para avançar. A maré desta decisão ficou ainda mais desfavorável quando se compara com as navegações dos capitães anteriores, a quem só foi dada música depois do segundo ferro curto, e que até então tinham guiado os seus navios com muito mais mestria e segurança.

Texto e Fotos: Rodrigo Viana

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