A tauromaquia não é um jogo com direito a prémio. Se o fosse, os triunfadores em modo de Ases teriam direito a inclusão noutros grandes palcos, nos mesmos, em novas aventuras e elencos criados após o êxito. Só que não!
Calma, eles de fora da jogada, não ficam, porque na verdade já estavam dentro dos novos rounds fossem quais fossem os resultados.
O triunfo vale no momento, apaga-se, esfuma-se e siga para o próximo compromisso, em modo de jogadas vistas.
Hoje em Vila Franca, viveu-se uma jornada de êxito no que a público concerne, com mérito para a empresa RACG, pela bonita moldura humana na Palha Blanco.
Sejamos francos. Morante colocou a enchente e nem a ausência adivinhada de João Salgueiro fez dano ao enorme ambiente ali vivido.
Pois bem, comece-se por aí, Salgueiro foi substituído por Manuel Telles Bastos, que bem se aguentou e embora sem redondear, foi presença digna em ambas as suas actuações. Não ficou um “monte” de recordações, mas ficaram as boas intenções e um ou outro ferros de bom nível, num conceito de toureio muito próprio, sóbrio e de classe. É dele o “10 de Copas”.
João Ribeiro Telles vestiu o “Ás de Copas”. Foi dele o triunfo maior e o lugar cimeiro de destaque da corrida. Depois de uma primeira actuação tão-somente morna e sem música, com abordagens apenas regulares, “encastou-se” e arrancou frente ao segundo do seu lote, uma das suas melhores actuações dos últimos tempos. Numa primeira fase, um toureio muito templado, a levar o cumpridor oponente no seu “jogo”, deixando bons curtos, saindo a rematar as sortes com toureiria. No entanto e como já vem sendo habitual, o eco maior chegaria com o Ilusionista e os três curtos de escândalo, com batida ao piton contrário e um público em delírio com o jackpot oferecido por João Telles.
As pegas estiveram por conta do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, os Valetes de serviço.
Na linha da frente, estiveram o cabo Vasco Pereira, consumando ao primeiro intento; Lucas Gonçalves, ao terceiro e Guilherme Dotti e Rafael Plácido à primeira tentativa, em grandes demonstrações da arte de pegar toiros.
Lidaram-se a cavalo, toiros da ganadaria de Alves Inácio, com défice de trapio, avacados na sua morfologia e fora do tipo – Vila Franca!
O “Rei de Copas” foi Morante de la Puebla e nessa condição surgia em Vila Franca. No segundo do lote, não pode ser, mas no primeiro, houve um cheirinho do seu reinado. Andou bem de capote, bem de muleta, voluntarioso e com o seu jeitinho especial. Inteligente na cara do touro, com uso da sua fenomenal esquerda… Boa passagem por Vila Franca, com um susto pelo percurso, afortunadamente sem consequências, frente a um toiro com pouca ou nenhuma cara, e com pouco do resto também… Ambos da ganadaria García Jiménez.
A “Dama de Copas” e com o perdão da comparação apenas baseada na delicadeza e pureza, foi Tomás Bastos. Que gaiato é este? Um Homem em miniatura, com o querer dos grandes e a postura que muitos nunca tiveram em idade madura.
O seu ‘saludo capotero’, por veronicas foi qualquer coisa do outro mundo. Os três pares de bandarilhas, fenomenais e até a voltareta, sem vitimizações.
De muleta quis muito e mostrou maneiras que auguram tanta coisa… O melhor “futuro” dos últimos tempos… Passes por ambos os pitons, passes cambiados pelas costas, circulares e duas mãos com muita arte. Valeu muito, vale muito e é preciso cuidá-lo!
O seu brinde aos céus, bonito, de gosto, com gosto mesmo que íntimo.
O festejo foi seriamente dirigido e muito bem pela Delegada Técnica Tauromáquica Lara Gregório de Oliveira, assessorada pelo Médico Veterinário Jorge Moreira da Silva.